Mariana Mortágua | Jornal de Notícias
| opinião
Nunca nenhum de nós imaginou
viver uma pandemia com estas proporções. Nunca nos passou pela cabeça ficar em
casa por tempo indeterminado, restringir os nossos contactos sociais ao mínimo,
ou aplaudir da janela os profissionais no SNS.
Talvez mesmo porque tudo nos
parece novo, incerto e instável, há garantias que nos confortam.
A primeira é que a maioria das
pessoas compreendeu o tamanho da sua responsabilidade, seguiu as recomendações
oficiais, respeitou as medidas sanitárias e isolou-se. As exceções têm estado
sobretudo relacionadas com os trabalhadores que não puderam ficar em casa. Em
alguns casos, como nos centros comerciais ou nos call centers, são as empresas
que estão a violar a sua responsabilidade social. Nestas situações, deve ser
garantido que a presença nos locais de trabalho é reduzida ao mínimo e feita em
segurança. Mas há também muitas pessoas que saem para assegurar o funcionamento
dos serviços essenciais, e que por isso não podem parar. São, entre outros, os
profissionais de saúde, da recolha de resíduos, das forças de segurança, dos
supermercados, dos transportes, da Segurança Social, de algumas escolas, dos
postos de combustível, etc. A todos ficamos em dívida - o que nos obriga a, no
final, mudar de vez a forma como são tratados estes serviços e os seus
profissionais.
A segunda garantia é a existência
de serviços públicos abrangentes e resilientes. A baixa médica paga não existe
em muitos países onde ficar de quarentena significa pobreza imediata. Os
seguros de saúde não cobrem pandemias. Nos EUA, metade da população não
consegue pagar sequer um teste. No Reino Unido, os hospitais privados preveem
alugar 8000 camas ao Estado por 2,4 milhões de libras por dia. Em Portugal, a
existência do SNS faz a diferença: permite uma resposta integrada, universal e
de qualidade. É nele que devemos concentrar esforços, dotando-o de todos os
recursos de que necessita, valorizando os seus profissionais e, se necessário,
reforçando-o com meios requisitados ao privado gratuitamente, porque o
desespero não pode ser negócio.
A terceira garantia é a
criatividade ao serviço da solidariedade, com a multiplicação de redes formais
e informais de apoio a quem precisa.
Vivemos tempos de emergência e de
medo. As medidas difíceis que o país adotar para garantir o isolamento e
impedir a propagação do vírus são uma parte da resposta. Mas, para responder ao
medo, ao medo do vírus e do que o vírus fará à nossa sociedade, lembremo-nos do
que já temos, e a que nos agarramos para enfrentar cada dia desconhecido:
responsabilidade, solidariedade e serviços públicos. São estas as garantias que
teremos de ampliar e fortalecer para que ninguém tenha medo de ficar para trás.
*Deputada do BE
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