Luiz Fernando Leal Padulla* | em Pátria
Latina
Neste dia 5 de março, há sete
anos, morria Hugo Chávez. Mais do que um político, um ser humano de grande
coração. Humano preocupado com o bem-estar social, que olhava para as minorias
e lutava contra a desigualdade. Talvez por isso mesmo tenha sido estigmatizado
como um “ditador” pela mídia hegemónica e corrompida ao grande capital.
Neste dia de memória pelo eterno
comandante boliviano, recomendo dois livros: “Comandante – a Venezuela de
Hugo Chávez”, de Rory Carroll, e “Hugo Chávez – da origem simples ao ideário da
revolução permanente”, de Bart Jones. Destes, extraio alguns trechos
importantes que ajudam a entender a força do chavismo.
A propaganda negativa do regime
bolivariano de Hugo Chávez, até a proposital desvalorização do petróleo – base
da economia deste país – tentaram a todo custo fazer com que a população
desacreditasse no governo e ficasse contrária a suas políticas. A perseguição
sempre foi companheira de Chávez. “O ódio da elite em relação a Chávez
alimentava-se de uma variedade de fatores, entre os quais frustração, paranoia,
preconceito de classe e um temor de ser preterido no projeto chavista. Tudo
isso se reforçava pelo ataque ininterrupto e cáustico das peças de propaganda
anti-Chávez nas emissoras, responsáveis por realizar uma lavagem cerebral em
parte da população e incentivar algo semelhante a uma histeria coletiva”.
A própria rede de televisão
venezuelana, Venevisión – tal como a Rede Globo aqui – veiculava reportagens
tendenciosas e deturpadas apenas contra o governo e omitindo qualquer uma que
viesse a comprometer seus próprios interesses. A tática utilizada contra os
governos progressistas é a mesma de sempre: plantar o caos, divulgar dados
negativos e tentar colocar a população contra o governo.
A votação do Referendo de 2009,
para saber se Chávez deveria continuar no poder ou não, foi um grande exemplo
desta parcialidade. “As grandes redes de televisão, controladas pelos magnatas
da mídia que faziam oposição a Chávez, passaram o dia mostrando as longas filas
formadas pelas pessoas que esperavam para votar nos bairros anti-Chávez (…).
Elas não se deram ao trabalho de ir aos bairros de baixa renda, onde as filas
eram tão grandes e o sentimento de apoio a Chávez, arraigado. Os canais de
televisão, que tiveram uma participação importante no golpe de 2002 e nas
greves económicas, criaram a falsa impressão de que as forças anti-Chávez
conquistariam uma vitória arrasadora no referendo”. Apesar disso tudo, Chávez
ganhou com 59% dos votos – ou, 5,6 milhões de votos.
Tal como hoje, a Venezuela também
teve grupos que não aceitaram a decisão das urnas. Alguns deles, também
patrocinados por fontes desconhecidas, como o tal Movimento Brasil Livre (MBL),
que erguem uma bandeira para tentar ludibriar aos cidadãos, mas por trás tem
seus interesses políticos e oposicionistas – ainda que hoje, em clara atitude
covarde, tentam se desvincular da barca furada que é o apoio bolsonarista. “Os
adversários de Chávez ficaram furiosos [sobre o resultado Referendo] e acusaram
o conselho de fraude e de aliar-se ao governo. Lançaram manifestações de rua
com uma nova tática de “desobediência civil”, que batizaram de Operação
Garimba. Instruíram seus simpatizantes a erguerem bloqueios de rua e a buscarem
abrigo quando a polícia ou outras autoridades se aproximasse (…). Com isso,
pretendiam criar uma situação caótica, impedindo pessoas de ir ao trabalho, as
escolas, as lojas e os hospitais (…) acreditando que os distúrbios provocariam
a intervenção das Forças Armadas e que Chávez cairia dentro de poucos dias”.
No Brasil, a não aceitação dos
votos e reeleição da presidenta Dilma, recursos para a revisão dos votos e até
mesmo a tentativa de cassação da chapa via Tribunal Superior Eleitoral, nos
remete a tais fatos venezuelanos enfrentados por Chávez e, mais recentemente por
Nicolás Maduro.
“A oposição, no entanto, não
engoliria o resultado tão facilmente. Uma hora depois do pronunciamento de
Carrasquero, os adversários de Chávez começaram a aparecer na TV paga para
alegar que o processo fora fraudado. Eles baseavam suas acusações, em grande
parte, na pesquisa de boca-de-urna realizada pelo instituto norte-americano
Penn, Schoen & Berland Associates (…). Além de infringir a lei contra a
divulgação do resultado de pesquisas enquanto ainda houvesse eleitores votando,
havia um outro problema com a enquete: ela fora realizada não por observadores
neutros treinados para realizar pesquisas, mas por voluntários do Sumate, grupo
anti-Chávez que liderara a campanha pelo referendo e que recebia dinheiro do
National Endowent for Democracy (NED)” [criado para suplementar as
atividades da CIA – Agência Central de Inteligência dos EUA – e que recebera 1
milhão de dólares por ano para serem repassados aos partidos de oposição à
Chávez].
Aqui, infelizmente, vivenciamos a
fatídica farsa do impeachment, que na verdade foi um Golpe legitimado pelo
parlamento brasileiro, sob a influência do governo estadunidense, orientado sob
a supervisão da CIA, tal como fizeram outras vezes na Guatemala em 1954, Brasil
em 1964 e Chile, em 1973, para citar alguns exemplos.
O chavismo resistiu bravamente.
Revisões e auditorias foram feitas, legitimando mais uma vez a vitória de
Chávez. A ânsia pelo poder era tanta que o comportamento da oposição chegou a
ser considerado uma “neurose coletiva” e “histeria”. “As pessoas eram
bombardeadas 24 horas por dia, pelas emissoras de televisão, com peças de
propaganda anti-Chávez, uma propagando ríspida, achincalhante e muitas vezes
mentirosa (…).
Instalou-se um bloqueio mental (…) Isso é quase uma patologia,
concluiu a socióloga Margarita López Maya, da Universidade Central da Venezuela”.
E a propaganda no exterior,
plantando o caos para afugentar investidores tal como fizeram connosco, foi
marcante na Venezuela de Chávez. Não eram raros os editoriais de jornais como “The
Washington Post” e “The New York Times”, ridicularizando o governo chavista. E
mais do que afrontá-lo, mentiam.
Hoje, todo o oba-oba e factoides
contra a Petrobrás, as denúncias de corrupção envolvendo a maior estatal de
nosso país são semelhantes a “greve do petróleo” que a Venezuela sofreu em
2003. Na época, a paralisação dos navios, patrocinada pela oposição, foi
extremamente danosa para a economia do país. “A economia quase entrara em
colapso, encolhendo 27% nos primeiros meses de 2003. No total, o movimento
custou ao setor petrolífero 13,3 bilhões de dólares”. O chavismo era atacado de
todo lado.
Resgatando o espírito
nacionalista do povo, Chávez convoca as chamadas “Missões”, programa similar ao
“Mais Médicos” implementado pelos governos petistas no Brasil com a
participação de médicos cubanos. E como não poderia deixar de ser, também foi
criticado apesar de sua eficácia, principalmente para a camada da população
mais carente. “As missões de Chávez, de fato, não se limitavam a doações
realizadas pelo governo. Elas serviam para estimular, mobilizar e organizar as
comunidades como nenhum outro governo conseguira fazer no passado. (…) A onda
contagiante de esperança que se espalhava pelos bairros não vinha apenas dos
serviços de melhorias oferecidos pelo governo, mas da participação de seus
moradores como cidadãos, oportunidade primeira em suas vidas”. Eis o segredo do
sucesso e o motivo de tamanho carisma entre Chávez e Lula – e, obviamente, a
manifestação do ódio por parte da elite.
A simplicidade e origem humilde,
sem o uso de máscaras, tornaram esse líder alvo de uma elite racista e
preconceituosa. A espontaneidade em tratar o povo e até mesmo a maneira de se
expressar, viraram motivos de chacota e desrespeito. Mas Chávez não se
importava. Para ele, o que contava era seu povo feliz, participativo nas
políticas públicas. Enquanto tentavam difamá-lo, o povo se unia a ele.
Sua popularidade era enorme
graças à visão que tinha para com as pessoas. Taxas de pobreza, indigência e
mortalidade infantil caíram significativamente, e o IDH (Índice de
Desenvolvimento Humano), que contempla expectativa de vida ao nascer, educação
e PIB per capita do país passou de 0,656 para 0,735. Foi sob seu governo que a
UNESCO declarou a Venezuela livre do analfabetismo, assim como a ONU reconheceu
o país como exemplo mundial no combate à fome e à desnutrição, além da redução
em 75% a proporção de pessoas em pobreza extrema, contrariando a propaganda
mediática negativa.
Humanista como sempre,
posicionou-se contra o estado genocida de Israel e às guerras protagonizadas
pelos EUA.
As conquistas de Hugo Chávez
jamais serão esquecidas e ainda aquecem os corações venezuelanos que lutam
contra sanções absurdas e abusivas ditadas pelo interesse do capital
estadunidense. A luta continua sob a figura não tão firme e aguerrida de
Nicolás Maduro, que sofre com tentativas de desmoralização e golpes, mas ainda
resiste. E com ele, o sonho de Chávez pela Revolução Bolivariana, tal como
defendeu Simón Bolívar para a América Latina: a igualdade para todos os povos.
Chávez vive!
*Professor, Biólogo, Doutor
em Etologia, Mestre em Ciências
Luiz Padulla
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Prof. Luiz Fernando Leal Padulla
*Biólogo*
Prof. Luiz Fernando Leal Padulla
*Biólogo*
Doutor em Etologia
Mestre em Ciências
Especialista em Bioecologia e Conservação
Mestre em Ciências
Especialista em Bioecologia e Conservação
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