sexta-feira, 3 de abril de 2020

A LÓGICA COM SENTIDO DA VIDA – V


Martinho Júnior, Luanda   

OS ASPECTOS HUMANOS

De acordo com os índices de densidade populacional no mundo do Wikipedia, Angola é o 187ºclassificado à escala global, com apenas 8 habitantes por quilómetro quadrado.

É notório que as extraordinárias riquezas naturais de Angola, incluindo os “escândalos geológicos” que conformam “as minas de Salomão”, podem vir a beneficiar um país muito mais povoado.

Nos termos actuais, Angola possui um acervo natural e de biodiversidade de primeira grandeza, maior ainda se tivermos em conta a sua escassa população, pelo que a partir do momento em que deixaram de ocorrer tiros em 2002, a emigração proveniente da Europa, de África, da América Latina e da Ásia acentuou-se, acompanhando o ritmo de crescimento “explosivo” que se tem vindo a registar.

O aumento de população do país atingiu cifras nunca antes sentidas, de acordo com os observadores, pelo que é muito oportuno a realização do censo populacional de Angola, que ocorrerá no próximo ano.

Presume-se que a população actual de Angola já esteja acima dos 20 milhões, com uma densidade neste caso um pouco acima dos 16 habitantes por quilómetro quadrado, o que é manifestamente pouco!

Presume-se também que há desequilíbrios redundantes das guerras prolongadas: a população feminina é maior que a masculina, o que não passa despercebido à emigração.

A emigração africana é em parte proveniente de países muçulmanos que compõem a África do Oeste, pelo que o casamento com as angolanas pode estar a contribuir para a expansão islâmica sunita em Angola, algo que só um censo poderá descortinar.


A implantação humana em Angola responde basicamente a dois factores que me parecem fundamentais:

- Os factores de ordem ambiental, que resultam dos relacionamentos físico-geográficos (as correntes oceânicas no litoral, a orografia e a água interior integram esses relacionamentos);

- Os factores de ordem humana que resultam das questões antropológicas, históricas e económicas, que se reflectem no surgimento e crescimento dos pólos de desenvolvimento do território, nas suas estruturas e infra estruturas, (que coincidem com as áreas de maior concentração demográfica, de ocupação e de mais apertada rede político-administrativa), assim como nas áreas de habitat rarefeito, onde existem pólos de desenvolvimento de menor amplitude, (que coincidem com a menor densidade populacional, uma malha político-administrativa muito distendida e onde os esforços de intervenção devem substituir a ausência de ocupação).

Os factores de ordem ambiental resultantes dos relacionamentos físico-geográficos no triângulo do litoral, o triângulo onde se encontra cerca de ¾ da população total do país, propiciaram a existência dum habitat mais denso e disperso, com aglomeração em pequenas localidades (pequenos municípios, comunas e aldeias rurais), em especial na área de maior dilatação orográfica, entre Benguela e Huambo.

Essa é a área de maior densidade demográfica fora e na periferia imediata dos pólos de desenvolvimento que constituem as áreas urbanas principais (Luanda, Huambo, Lobito-Catumbela-Benguela, Lubango, Namibe…), que também ficam localizadas dentro do triângulo com base no litoral e vértice na Região Central das Grandes Nascentes.

Essa área é também responsável por receber a maior parte dos fluxos populacionais de emigração recente (chineses, portugueses, cubanos, brasileiros e de várias regiões de África).

A região rural desse triângulo do litoral está a progredir de economias de auto-subsistência para projectos economicamente mais avançados, pois a actividade económica é comercialmente muito forte nas principais urbanizações e nos Pólos de Desenvolvimento.

Esse triângulo é sensível para a unidade e identidade nacional, podendo ser a partir dele que se potenciem as acções em direcção às áreas de intervenção.

Nos outros triângulos, onde a intervenção humana deve por muito tempo substituir a possibilidade de ocupação em especial em vastas regiões do sudeste, em alguns habitats rurais dispersos há pequenas comunidades nómadas (bosquímanes), recolecção nas florestas e agricultura de auto-subsistência.

No conjunto as pressões demográficas dirigidas podem-se expandir do triângulo ocidental com base no litoral para os outros triângulos que compõem o quadrado angolano, devendo o estado criar condições para se gerarem novos povoamentos ao mesmo tempo que devem ser determinados novos Parques Naturais, Reservas e Coutadas, em especial na Região Central das Grandes Nascentes, salvaguardando o ambiente e uma exploração adequada (em termos de economia real) das riquezas naturais.

Esse esforço endógeno é urgente desencadear, por que visa por outro lado contrabalançar as pressões migratórias exógenas, a maior parte delas ilegais, que são particularmente fortes ao longo das fronteiras com a RDC.

As nascentes dos rios principais estão desprotegidas e é muito urgente começar a controlá-las, assim como controlar a biodiversidade onde elas ocorrem e aos ambientes naturais que as propiciam.

Os programas científicos devem começar a ser incentivados a partir da Região Central das Grandes Nascentes (planalto do Bié), para as vastas periferias.

Com eles será lançada a iniciativa de conhecer Angola em toda a sua profundidade e de forma multi-sectorial.

Eles devem levar em consideração que é a água interior que é vida e ao mesmo tempo facilitadora de vida, pelo que os rios devem ser estudados com toda a prioridade: primeiro nas suas nascentes e cursos iniciais (Região Central das Grandes Nascentes), depois nas suas regiões intermédias, por fim nas áreas de periferia, ou nos seus percursos finais.

A maior densidade populacional no triângulo ocidental pode beneficiar de amplos projectos de energias renováveis e não poluentes:

- Desde a serra da Canda e de Mucaba a norte, até à serra da Chela a sul, que é possível instalar capacidades de energia eólica; as montanhas são muito ventosas, com ventos dominantes do sudoeste para nordeste;

- A energia solar pode ser utilizada em todo o território e é recomendável em especial nos três triângulos menos densamente povoados, onde a intervenção humana terá de ser maior.

Em qualquer dos casos os projectos podem ou não interligar-se aos sistemas de energia hidro-eléctrica, beneficiando sobretudo as áreas rurais onde é necessário e urgente fazer chegar a electricidade de forma a causar impactos fortes sobre o estado de subdesenvolvimento crónico que afecta sobretudo essas áreas.

A energia eólica e a solar podem melhor servir pequenas comunidades (comunas rurais, ou pequenas aldeias), incluindo aquelas mais remotas e isoladas nas vastidões do Moxico e do Cuando Cubango, onde a densidade demográfica é inferior a 1 habitante por quilómetro quadrado.

O Ministério do Ambiente tem um papel reitor chave para, com base na economia real, se encontrarem soluções a muito longo prazo de desenvolvimento sustentável, até por que é com a água interior que melhor se poderá conhecer e inventariar recursos que dizem respeito à vida!

A lógica com sentido de vida, em nome das futuras gerações, constitui um autêntico desafio revolucionário no pensamento e na acção humana!

Gravura: Avaliação humana

1 – Definição do triângulo de ocupação oeste; formação da unidade e da identidade nacional;
2 – Definição do fulcro potenciador das intervenções; vértice dos triângulos = Região Central das Grandes Nascentes;
3 – Definição dos triângulos (norte, leste e sul) de intervenção.

A consultar:
- Lista De países por densidade demográfica – Wikipedia – http://pt.wikipedia.org/wiki/Anexo:Lista_de_pa%C3%ADses_por_densidade_populacional
- Demografia de Angola – Wikipedia – http://pt.wikipedia.org/wiki/Demografia_de_Angola
- Densidade populacional de Angola – http://www.indexmundi.com/g/g.aspx?v=21000&c=ao&l=pt
- Primeiro censo populacional é preparado n o próximo ano – http://jornaldeangola.sapo.ao/20/0/primeiro_censo_populacional_e_preparado_no_proximo_ano

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