Domingos De Andrade
| Jornal de Notícias | opinião
Nem coronabounds, a emissão de
dívida conjunta pelos estados-membros da União Europeia, nem o plano que o
primeiro-ministro espanhol Pedro Sánchez levou ao Conselho Europeu, defendendo
a emissão de dívida perpétua (sem prazo de pagamento) para apoiar à reconstrução
da economia debilitada pelo Grande Confinamento.
Fontes de Bruxelas apontam que no
fim das contas acabará por prevalecer a proposta da chanceler alemã, segundo a
qual a solução passa por aumentar o orçamento da UE nos próximos dois ou três
anos de 1,2% para 2%, que será suportado por um misto de contribuição dos
estados e da concessão de garantias por parte dos países à emissão de dívida
europeia.
Há, nas decisões a tomar e que
serão conhecidas na segunda ou terceira semana de maio, uma mimetização do
Plano Juncker, criado pela Comissão em 2014 depois da crise das dívidas
soberanas para apoiar investimentos estratégicos, chamando então os privados ao
investimento. Uma espécie de Plano Juncker com esteroides, em que prevalecerá a
lógica dos empréstimos em vez da lógica das subvenções.
O caminho a seguir não traz boas
notícias a países fortemente endividados, como o caso de Portugal, que receberá
entre 4% a 5% do seu PIB para refazer a economia. Muito dinheiro, apesar de
tudo, no imediato, mas insuficiente. E ainda mais se boa parte nos for
emprestado, ou seja, dívida.
E é aqui que entra o palavrão que
o Governo arremeda. Austeridade. De uma forma ou de outra, em impostos diretos
ou indiretos, os rendimentos dos portugueses, já tão castigados nesta altura,
vão acabar por ser fortemente penalizados. É bom que nos preparemos. Ela
acabará por chegar, mais tarde ou mais cedo.
P.S.:O discurso do 25 de Abril de
Marcelo Rebelo de Sousa é uma lição de democracia. Justificou as cerimónias na
Assembleia da República, colocando-se do lado dos que defendem que justamente por
estes serem tempos excecionais, em que os poderes do Governo são maiores,
"maiores devem ser os poderes de fiscalização" do Parlamento. Elogiou
a unidade política no país "que a hora impõe", afastando a unicidade
ou o unanimismo. E sublinhou a competência do Governo, mas sem deixar de
elencar as "debilidades, carências, rigidez das nossas instituições"
para extrair lições e corrigir no futuro. Ganhar abril para conquistar a
liberdade em maio também é perceber o valor do simbolismo. Gostem ou não os
seus detratores, o presidente da República é o maior fator de equilíbrio e
confiança das instituições.
*Diretor
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