Pedro Ivo Carvalho *| Jornal de Notícias | opinião
Isolamento, confinamento,
tolhimento. Apagamento, sofrimento, asfixiamento. Orçamento, rendimento,
empobrecimento. E, no final, uma inevitabilidade que não chega: renascimento.
Se pudéssemos traduzir a gestão
da pandemia numa fórmula esquizofrénica, seria mais ou menos assim:
preservar-vidas-mais-cuidados-de-saúde-menos-paralisação-económica-é-igual-a-ninguém
sabe. A forma honesta, porém confrangedora, com que o ministro das Finanças
assume ter dúvidas sobre tudo e certezas sobre quase nada no respeitante à
saúde das contas públicas e resiliência da economia atesta bem da perenidade de
qualquer projeção. E da debilidade das respostas a uma realidade escorregadia.
Espera-nos a mais dura recessão de que há memória, agravada pela circunstância
de sermos um país periférico onde a taxa de poupança é baixíssima. É como
acordar de um pesadelo sem sair do pesadelo.
Urge, porquanto, que a reflexão
coletiva evolua no sentido de obtermos um horizonte económico. O possível, pelo
menos. O risco é conhecido: salvar empregos e empresas implica baixarmos a
guarda. E não é certo, até pelas experiências contraditórias que nos chegam de
nações mais zelosas (vide o caso de Singapura, obrigada a recuar para impor um
"lockdown" que não achara necessário), que os ganhos sejam maiores do
que as perdas. Para António Costa, ainda não chegou o momento de darmos esse
passo inevitável. O vírus é temperamental. E a vacina só estará garantida, num
cenário ideal, daqui a um ano. Até lá, continuaremos a tremer no trapézio.
Veremos o que fará aos países da Europa do Norte o alívio das restrições que
agora promovem. Serão a nossa bitola.
O novo normal económico virá
devagar, mesmo que precisemos que seja urgente. Porque as empresas não aguentam
um coma de meses. Parar foi viver. Parar muito tempo será morrer. Ainda assim,
não há fórmulas milagrosas para curar esta ferida. Apenas a certeza de que,
quando houver condições, teremos de ser tão disciplinados a libertar-nos deste
colete de forças como fomos quando nos amarraram os braços.
* Diretor-adjunto
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