"Ratinhos de laboratório",
videntes e um ponto final na polémica do Novo Banco
Elogia Rui Rio, diz que "não
é preciso ser vidente" para ver Marcelo reeleito e não sabe se virá uma
"pressão de ar ou uma bazuca" da Europa. António Costa quer dar por
encerrada a "polémica" com Centeno e diz que, "se for
necessário", este será um verão sem discotecas.
Houve tempo para quase tudo, até
para fugir às perguntas. Houve elogios a Rui Rio, crenças numa reeleição de
Marcelo Rebelo de Sousa ("se se recandidatar") e a continuidade do
próprio António Costa na liderança socialista. Nas fugas, António Costa não se
comprometeu com o futuro de Centeno, só quis ver, uma vez mais, encerrada a
polémica.
E precisamente sobre a polémica,
António Costa é claro: "Já pedi desculpa a quem tinha de pedir desculpa.
Senti que tinha havido falha de comunicação e foi explicada, se não tivesse
aceitado as explicações, não tinha mantido a confiança". É desta forma que
o primeiro-ministro fecha a porta ao tema que marcou a agenda política durante
a semana passada.
Sem pormenores e sem querer
divulgar a conversa que teve com Centeno na reunião noturna da semana passada,
o primeiro-ministro reitera a confiança política no ministro das Finanças, mas
não confirma se o "Ronaldo das Finanças" colocou o lugar à
disposição: "As conversas entre primeiro-ministro e os colegas de governo
são as conversas entre primeiro-ministro e os colegas de governo",
sublinha Costa.
Sobre a continuação de Mário
Centeno no governo também mantém o tabu, até porque o ministro das Finanças
está "a trabalhar em pleno".
Sublinhando o "gosto"
que tem pelas pessoas que tem no governo ("se não, não as tinha lá"),
Costa vinca que os "governos têm dinâmicas, as pessoas têm as suas
vidas". E se Centeno voltará à sua vida no Banco de Portugal, mas agora no
cargo de governador, o primeiro-ministro nota que "tudo terá o seu
tempo".
Sem fechar a porta a este
assunto, António Costa diz que o critério aplicado a Centeno será o mesmo que
para todos os outros ministros: "tem cumprido o seu papel, quando deixar
de cumprir o seu papel, deixará de ser membro do governo".
"Sou bastante conservador em
matérias de mudanças de governo e remodelações. Os meus governos são dos que
menos remodelações tiveram, mas quando tenho de as fazer, faço", nota.
E para a escolha de novo
governador, Costa garante que não fará o que Passos Coelho fez consigo,
lembrando que, à época, recebeu uma chamada do anterior primeiro-ministro a
informá-lo "para que não soubesse pela Comunicação Social". E isso,
Costa não fará e vai ouvir "os partidos, o Presidente da República e as
instituições que devem ser ouvidas". Mas esse, é um assunto que será
tratado "no momento próprio".
Não é vidente, mas antevê
reeleição de Marcelo (assim ele queira)
E também no "momento
próprio" falar-se-á das presidenciais. Na semana passada, lançou a
recandidatura de Marcelo Rebelo de Sousa, mas agora na TSF é mais cauteloso.
Mas, vamos por partes...
Primeiro, votaria António Costa
em Marcelo? "O voto é secreto", esquiva-se o primeiro-ministro que,
numa resposta institucional, diz que mantém o "compromisso de trabalhar
com qualquer que seja o Presidente da República escolhido pelos
portugueses".
Mas com o voto de Costa ou sem
ele, a reeleição de Marcelo está garantida. É pelo menos no que acredita o
primeiro-ministro: "Antecipar que, daqui a um ano, se houver candidatura
de Marcelo Rebelo de Sousa, ele será o Presidente da República eleito... Não é
preciso uma grande figura de análise política ou ser vidente".
E o PS? Costa nota que o partido
"tomará posição no momento próprio", mas a tradição do partido é
"apoiar candidatos" e não lançá-los. Por isso, Costa no fato de
secretário-geral socialista espera para ver quem serão os candidatos a
apresentar-se na corrida.
Uma coisa é certa: "André
Ventura nunca terá seguramente o apoio do PS". Mas e Ana Gomes que este
domingo admitiu refletir nessa hipótese? "O PS tem uma tradição" e
"nunca lançou um candidato, apoiou os candidatos que existam",
responde.
O elogio a Rio
"absolutamente merecido"
Não, não virão quaisquer blocos
centrais, mas a postura de Rui Rio merece a atenção de António Costa. Já lá
vamos, antes focamos no sonho do primeiro-ministro de um orçamento suplementar
aprovado por unanimidade e a importância dos apoios da direita à esquerda.
António Costa acredita que o país
tem a noção de que programa do Governo foi feito sem pandemia e sem a crise
económica à escala global e que o que vinha a ser conseguido se "alterou
radicalmente", sendo preciso repensar "tudo o que se tinha
previsto".
Mas austeridade é uma ideia
rejeitada pelo primeiro-ministro que lembra que ela só existe "quando há
decisão política de cortar rendimentos" e que esse não é o caso. O que
está a acontecer neste momento em Portugal é resultado da "situação de
crise que tem de ser ultrapassada".
"A proteção dos rendimentos
é essencial para evitar dinâmica repressiva na economia", nota Costa para
quem os próximos tempos também dependem dos apoios e do quadro económico.
E no caso do orçamento
suplementar que vem a caminho, Costa gostaria de o ver aprovado por
unanimidade, mas garante que "não tem essa ilusão". Mesmo assim,
garante que mantém aberta a porta do trabalho conjunto com os outros partidos,
isto num momento em que
Rui Rio já mostrou disponibilidade para o aprovar e o líder
da oposição merece elogio de Costa.
Na verdade, a questão foi
formulada pelos elogios feitos a Rio na imprensa internacional, mas Costa é
taxativo: "é absolutamente merecido, não tenho razão para não o
acompanhar".
"A oposição tem feito o que
lhe compete, tem havido um esforço conjunto e comum, mas cada um assumindo a
sua responsabilidade", admite frisando que depois desta crise sabe que as
posições serão diferentes.
Questionado sobre o crescimento
de partidos populistas em Portugal, o primeiro-ministro confia no "bom
senso" dos portugueses e lembra que a população não gosta de
"radicalismos". "Há uma hipervalorização do radicalismo pelo seu
exotismo, acho que não passa disso", conclui.
Fisga garantida. E mais?
António Costa já tinha admitido
no final do último Conselho de Ministros que a retoma e a luta no combate à
crise ia ocupar a agenda durante os próximo dois anos. Hoje reiterou na TSF que
"não vai ser uma retoma de curto prazo" e que antes de 2022 não voltaremos
aos níveis de 2019.
Ainda assim, o cenário não é o
pior de todos porque, lembra o primeiro-ministro, "o superavit deu-nos um
músculo que não tínhamos". Mas a resposta europeia vai ser crucial e para
essa ainda não há grandes desenvolvimentos.
O primeiro-ministro sublinha que
ainda não consegue indicar os valores do programa europeu para a retoma, nota
que têm existido contactos, mas a bazuca ainda não está garantida.
"Já percebemos que na União
Europeia não ficaremos pelo nível da fisga", lembra o primeiro-ministro
que teve uma longa conversa neste fim-de-semana com a presidente da Comissão
Europeia.
A certeza é só uma: é preciso
"criar condições para que não se acentuem assimetrias" porque isso
vai colocar em causa a "retoma do mercado interno e a manutenção da zona
euro".
"A estimativa tem sido de
que menos de um bilião é insuficiente para as necessidades", realça,
sublinhando que "há várias formas de o construir" e que é preciso ir
"abrindo caminhos de convergência", já que dimensão deve ser feita no
"conjunto da União Europeia".
Costa afirma que "para a
nossa retoma é preciso que os outros comprem" e, para isso, é preciso
enaltecer uma solução comum, um "instinto de sobrevivência da União
Europeia". Ou seja, quebrar a "pequena minoria de bloqueio" a
que temos assistido nos últimos Conselhos Europeus.
E a pandemia?
No dia em que o país avança para
o desconfinamento 2.0, o primeiro-ministro sublinha que "a primeira vaga
ainda está aí" e que, como tem vindo a dizer, não terá problemas em fazer
marcha atrás se for necessário.
Questionado por uma eventual
segunda vaga do surto, Costa lembra que o desconfinamento "aumenta
necessariamente o risco de contaminação", mas que as máscaras e os
desinfetantes "já estão massificados".
E precisamente por isso, António
Costa nota que é preciso reavaliar o reforço do SNS no orçamento suplementar.
"Portugal era dos países que tinha dos menores números de camas de
cuidados intensivos por habitante", lembra o primeiro-ministro.
Costa dá conta de que,
"desde sábado passado, na nossa embaixada em Pequim, temos finalmente os
500 ventiladores que adquirimos". Algo que é fundamental para preparar o
amanhã, nota o primeiro-ministro que destaca ainda que somos todos
"ratinhos de laboratório" para a comunidade científica mundial.
Um verão sem discotecas (e sem
Avante)?
"Se for necessário".
Resposta do primeiro-ministro em relação à possibilidade de os portugueses
poderem ter de deixar para trás os bares e as discotecas durante este verão.
"Não podemos pôr em causa o
que conseguimos com enorme dificuldade", ressalvou o primeiro-ministro,
lembrando que só hoje as famílias podem voltar a visitar familiares nos lares e
a deixar as crianças nas creches.
De acordo com António Costa, o
Governo ainda não tem "no calendário" a reabertura destes
estabelecimentos, mas que com os ginásios já estão em conversação para que se
encontrem "normas que possam ser garantidas" para não haver excesso
de pessoas nos espaços e para que as regras de higienização sejam cumpridas.
Sobre a Festa do Avante, o primeiro-ministro
lembra que "cada partido tem de ter a sua liberdade de organização desde
que cumpra as regras", mas que sobre esta festa as perguntas devem ser
dirigidas ao PCP, lembrando que, por exemplo, a proibição dos festivais está em
debate na Assembleia da República.
Costa de pedra e cal na liderança
socialista?
Tudo indica que sim porque, aos
59 anos, ainda não é tempo de colocar os "papéis para a reforma".
Fora de brincadeiras, o primeiro-ministro nota que "este não é o momento
de virar as costas ao país e ao Governo".
Com o congresso adiado, o
secretário-geral socialista aponta para o primeiro trimestre do ano para que
ele se realize e demonstra a vontade de continuar a liderar o partido.
"A minha disponibilidade não
inviabiliza a vontade de quem quer que seja", diz António Costa lembrando
que os putativos candidatos que surjam têm caminho aberto para se candidatarem
à liderança.
Já sobre um possível terceiro
mandato enquanto primeiro-ministro, garante "não ter um calendário"
preparado, mas confessa não querer "ficar tempo a mais, nem sair cedo
demais" do cargo. Ou seja, uma forma respeitosa de não se comprometer com
qualquer janela temporal.
Filipe Santa-Bárbara | TSF
Sem comentários:
Enviar um comentário