Díli, 23 mai 2020 (Lusa) -- Agio
Pereira, o mais veterano dos ministros timorenses -- acumula 13 anos
consecutivos em cinco governos -- é um dos nomes de saída do executivo, com
base na decisão anunciada hoje pelo partido em que milita, o CNRT.
Porém, mesmo antes do anúncio
feito hoje pelo presidente do Congresso Nacional da Reconstrução Timorense
(CNRT), Xanana Gusmão, de que todos os membros indigitados pelo partido saem na
segunda-feira, Agio Pereira já tinha sido afastado do executivo pelas mexidas
na orgânica aprovadas em Conselho de Ministros.
Formalmente, o seu cargo de
ministro de Estado na Presidência do Conselho de Ministros foi extinto, no
âmbito de uma remodelação aprovada pelo executivo, assinada pelo
primeiro-ministro, Taur Matan Ruak, e que aguarda promulgação pelo Presidente
da República.
Agio Pereira, que já não
participou nas últimas duas reuniões do Governo, escusou-se à Lusa a fazer
qualquer comentário sobre a sua situação, remetendo-se ao silêncio.
Mas fontes próximas ao
governante, ouvidas pela Lusa, confirmam o "desconforto" com as
mexidas no Governo, introduzidas à última hora na reunião da semana passada do
Conselho de Ministros e agora novamente mexidas.
Pesa ainda a decisão de Xanana
Gusmão -- ao lado de quem Agio Pereira tem estado há décadas -- que a 11 de
março comunicou ao primeiro-ministro a saída da sua força política do executivo
e que hoje anunciou para segunda-feira a saída dos ministros.
Agio Pereira trabalhou para cinco
Governos e quatro primeiros-ministros de três partidos diferentes, conquistando
uma confiança alargada e estando envolvido na resolução de várias crises e
problemas, com maior ou menor visibilidade, que o país atravessou.
Talvez por isso seja considerado
hoje um dos poucos em Timor-Leste que ainda fala regularmente com os principais
líderes nacionais -- Xanana Gusmão (CNRT), Mari Alkatiri (Fretilin) e Taur
Matan Ruak (PLP).
Ao lado de Xanana Gusmão nas
negociações com a Austrália sobre o tratado das fronteiras, Agio Pereira ajudou
a desbloquear "vários imbróglios" políticos e jurídicos nas palavras
de fonte do Governo, com possíveis impactos "significativos" para o
Estado.
No primeiro ano do mandato do
atual Governo, chegou a ser apelidado do "ministro um terço" por
liderar interinamente várias pastas do executivo deixadas sem ministro quando o
Presidente da República se recusou a dar posse a vários membros indigitados.
Entre essas pastas contam-se,
além da Presidência do Conselho de Ministros, pastas 'pesadas' como a
Coordenação dos Assuntos Económicos, o Planeamento e Investimento
Estratégico e o Petróleo e Minerais, estas duas ainda sob a sua tutela.
Pereira, que viveu em Lisboa nos
primeiros anos da ocupação indonésia de Timor-Leste, imigrou para a Austrália
em 1980 liderando em Darwin o Comité da Fretilin e, depois, estabeleceu em
Sydney a East Timor Relief Association (ETRA), uma das organizações mais ativas
na mobilização de apoios e solidariedade com a resistência timorense.
Músico -- liderou durante anos o
Grupo Musical 28 de novembro -, publicou o 'jornal' Matebian News, reunindo um
vasto arquivo documental que desde aí tem vindo a ampliar, com um conteúdo
"invejável" de muitos dos momentos cruciais da vida de Timor-Leste
desde 1974.
Membro da Comissão Política
Nacional do Conselho Nacional da Resistência Timorense (CNRT) -- estrutura que
representou o voto pela independência no referendo de 30 de agosto de 1999 --
liderou depois a Comissão Nacional de Emergência, que coordenou o apoio à
população depois da violência indonésia e das milícias pró-Jacarta.
Sempre ao lado de Xanana Gusmão,
tornou-se chefe de gabinete e da Casa Civil do líder histórico timorense quando
este assumiu a Presidência da República, cargo onde ficou algum tempo depois da
tomada de posse do chefe de Estado seguinte, José Ramos-Horta.
Em 2007 estreia-se no Governo,
assumindo o cargo de secretário de Estado do Conselho de Ministros o IV
Governo, liderado por Xanana Gusmão e cinco anos depois sobre a ministro da
Presidência do Conselho de Ministros, já no V Governo constitucional, também chefiado
por Xanana Gusmão.
Agio Pereira manteve o cargo no
VI Governo, já liderado por Rui Maria de Araújo -- onde passou a ministro de
Estado e ministro da Presidência do Conselho de Ministros.
No Governo seguinte, o VII
liderado por Mari Alkatiri, Agio Pereira foi ministro adjunto do
primeiro-ministro para a Definição das Fronteiras Marítimas, cabendo-lhe a si
assinar, em Nova Iorque ,
com a ministra dos Negócios Estrangeiros, o tratado de fronteiras marítimas que
ajudou a negociar com Xanana Gusmão.
ASP // JH
Sem comentários:
Enviar um comentário