Díli, 24 mai 2020 (Lusa) -- O
líder da Fretilin disse hoje que pode haver "tendências" políticas
naquele que é o maior partido em Timor-Leste, mas nunca situações de
"insurreição interna", recordando que essas tentativas, no passado,
falharam.
Mari Alkatiri comentou assim, em
declarações à Lusa, textos de Rui Araújo, um dos membros do Comité Central da
Fretilin (CCF), que numa mensagem para membros do partido disse que chegou a
altura de "levarem a Fretilin ao caminho certo".
Alkatiri disse que Rui Araújo
deve "medir bem as suas palavras se ainda quiser ter um futuro dentro da
Fretilin", explicando que o ex-primeiro-ministro defende que o partido deve
procurar entender-se com Xanana Gusmão e o CNRT, a segunda força do país.
"Eu sou o primeiro a
reconhecer capacidades no Rui. Mas na Fretilin querer virar-se contra a
liderança tem os dias contados. Essa é a realidade", afirmou o
secretário-geral da Frente Revolucionária do Timor-Leste Independente
(Fretilin).
"Aconteceu com todos. Onde
estão os outros que andaram contra a liderança? Não vou mencionar nomes para
não ressuscitar mortos. Alguns saíram e criaram os seus próprios partidos e
onde estão agora?", afirmou.
Mudanças na liderança do partido,
disse, fazem-se "dentro da Fretilin e não criando grupos dinamizadores
fora da Fretilin" porque o estatuto do partido permite tendências, mas não
a insurreição interna".
Alkatiri explicou que esta
questão vai ser um dos temas na agenda da reunião de quarta-feira da Comissão
Política Nacional do Governo, explicando que continua a valorizar o papel e as
capacidades de Rui Araújo.
"Eu próprio o consultei
sobre ele ocupar um cargo no Governo. Convidei-o, mas ele não aceitou tendo em
conta a conjuntura política", afirmou.
"Entendi logo qual era a
questão: o Rui acha que a Fretilin, sem olhar para mais nada, tem é que se
entender com Xanana Gusmão. Mas o entendimento é bidirecional: para eu me
entender com ele, ele tem que se entender comigo e não significa eu
subordinar-me a ele"; afirmou.
Alkatiri comentava assim uma
polémica causada por declarações de Rui Aráujo, membro do Comité Central da
Fretilin (CCF) e que foi primeiro-ministro no VI Governo, que era apoiado pelo
CNRT de Xanana Gusmão, mas tinha vários membros da Fretilin.
A mensagem foi escrita por Rui
Aráujo num grupo de whattsapp de "dinamizadores do CCF" -- cujos
membros a Lusa desconhece - em jeito de agradecimento pelas felicitações ao seu
aniversário, mas com um forte conteúdo político e algumas críticas à atuação do
partido.
Araújo considera que chegou à
altura dos "dinamizadores-CCF levarem a Fretilin ao caminho certo".
Explicando que está de
"autoquarentena" para refletir "melhor sobre a postura
política" da Fretilin, considera que o partido deve "fazer política
com princípios, morais e ética" para não esquecer os líderes "que
foram mártires durante toda a luta de libertação" da ocupação indonésia.
"Não podemos usar todos os
meios, mesmo que não sejam éticos e morais, só porque queremos alcançar o
poder. Não temos futuro se adotarmos métodos maquiavélicos no nosso
comportamento político", escreve.
"O caminho para levar o povo
à libertação da pobreza é um caminho longo e nós não podemos cometer erros no
caminho. Se nos enganarmos no caminho, a nossa libertação nunca acaba e nunca
iremos ter uma boa capacidade para libertar o povo", escreveu ainda.
A Lusa tentou várias vezes
solicitar um comentário a Rui Araújo sobre o assunto, mas não foi possível até
ao momento.
Porém, numa outra mensagem
divulgada nas redes sociais, Rui Araújo assume responsabilidade pelo texto, que
circulou "internamente" e pretendia ser apenas uma
"reflexão".
A "filtração",
explicou, foi aproveitada "por adversários políticos" que a estão a
usar para "passar a ideia" de que confrontou Mari Alkatiri.
ASP // JH | Imagem: Getty Images
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