sábado, 9 de maio de 2020

Relatório do antissemitismo do Partido Trabalhista inglês: a caça às bruxas


Thomas Scripps | WSWS

Uma investigação de 860 páginas intitulada “O trabalho da Unidade de Governação e Jurídica [GLU, na sigla em inglês] em relação ao antissemitismo, 2014-2019” descreve um retrato devastador das operações sujas da direita blairista. Ao fazer isso, ressalta o papel politicamente criminoso desempenhado pelo ex-líder do partido, Jeremy Corbyn, na proteção dessas perigosas forças antissocialistas e contra a classe trabalhadora das demandas pela sua expulsão.

Escrito pelos aliados de Corbyn, para mostrar supostamente que uma “atmosfera de luta entre frações” minou a resposta do partido para as denúncias de antissemitismo, o documento prova que o aparato do partido realizou uma implacável e reacionária campanha contra os seus próprios membros, e que Corbyn compactuou com essa caça às bruxas.

O relatório baseia-se por volta de 10 mil emails, milhares de mensagens trocadas no serviço de mensagens interno do partido, e 400 mil palavras de mensagens em dois grupos de WhatsApp para membros sênior do partido. Enquanto centenas de milhares de trabalhadores e jovens se inscreviam no Partido Trabalhista, com ilusões de que Corbyn lideraria uma luta contra a austeridade e a guerra, os funcionários na sede do Partido Trabalhista estavam, para usar as suas próprias palavras, mantendo um “sistema Stasi” para expurgar o sentimento de esquerda.



A anatomia de uma conspiração

O conteúdo do documento confirma a análise historicamente elaborada feita pelo Partido Socialista pela Igualdade em 2015 após a eleição de Corbyn como líder do Partido Trabalhista:

“Ninguém pode propor seriamente que este partido - que, em sua política e organização e na composição social do seu aparato, é como o Partido Conservador - pode ser transformado em um instrumento de luta da classe trabalhadora. O Partido Trabalhista britânico não começou com Blair. Ele é um partido burguês de mais de um século de existência e um instrumento comprovado do imperialismo britânico e do seu aparato de estado. Seja liderado por Clement Attlee, James Callaghan ou Jeremy Corbyn, sua essência permanece inalterada”.

Embora os casos específicos de abuso detalhados sejam chocantes, eles apenas evidenciaram uma conspiração que já era amplamente conhecida. Os membros do Partido Trabalhista tiveram que esperar por anos pelos detalhes porque Corbyn e seus aliados se recusaram a se opor à campanha contra eles e suprimiram sistematicamente qualquer luta dos trabalhadores contra essa conspiração. Seus discursos sobre o “salão amplo” do partido e a “união” partidária eram uma blindagem política, por trás da qual um perigoso pequeno grupo poderia continuar policiando o Partido Trabalhista.

Em 2015, quando a campanha de Corbyn começou a ganhar força nas eleições pela liderança do Partido Trabalhista, o aparato iniciou uma ofensiva, procurando por pretextos para expulsar membros e apoiadores ou impedi-los de votar. O WSWS escreveu: “Todo o pessoal de tempo integral do Partido Trabalhista, junto à filiais do partido e clubes universitários do partido, estão agora ocupados com a investigação daqueles que pagaram três libras para se tornar apoiadores do Partido Trabalhista e votar na disputa pela liderança ... O fedor do macarthismo circula sobre o Partido Trabalhista, que é reforçado pelo nome da investigação das inscrições: ‘Operação Picareta’, uma referência obscena à arma usada para assassinar Leon Trotsky.”

O relatório vazado mostra que esses novos apoiadores foram apontados por pelo menos 40 funcionários do Partido Trabalhista como “troskos”. A palavra - um termo pejorativo para trotskistas - aparece centenas de vezes no documento, no contexto de um ódio violento compartilhado em todos os gabinetes do Partido Trabalhista por qualquer um à “esquerda de Brown [Gordon Brown, ex-primeiro-ministro e chanceler de Tony Blair]”.

Autoridades do partido escreveram sobre a necessidade de “spray de pimenta” e “canhões de água” na conferência anual e grandes comícios do Partido Trabalhista, que eles temiam que seriam lotados com “troskos desenfreados”. Fazendo referência a um comício com grande participação, o Diretor da Unidade de Governança e Jurídica (GLU), John Stolliday, escreveu: “Tirem os cacetetes, vamos derrubar uns troskos”.

Corbyn, que foi responsabilizado pela entrada de membros inclinados à esquerda, foi abusado em um nível psicopata. Um funcionário escreveu: "qualquer um que nomear corbyn [sic] ‘para ampliar o debate’ merece ser levado para fora e fuzilado”. Outro disse que um membro de gabinete que apoiasse um dos discursos de Corbyn “deveria ser fuzilado”. Dois diferentes funcionários discutiram “enforcar e queimar” Corbyn e outro disse “morte por fogo é muito gentil” para ele e sua equipe de liderança. Sarah Mulholland, Secretária do Partido Trabalhista Parlamentar (PLP, na sigla em inglês), disse de um membro apoiador de Corbyn do grupo Trabalho Jovem, que se sabia estar sofrendo de problemas de saúde mental: “Eu espero [que o jovem membro] morra em um incêndio”.

Conforme se tornou claro que os milhares de novos membros e apoiadores do partido trariam Corbyn para a liderança, funcionários sênior discutiram atrasar ou cancelar o processo, seja sob o pretexto “de se temos os recursos para fazer as checagens” ou fazendo com que os outros candidatos “saiam na semana que vem e a coisa toda teria que ser parada”.

Quando esses planos se mostraram impossíveis, a sede do Partido Trabalhista organizou a expulsão em massa de membros. O trabalho, considerado “uma prioridade”, foi discutido em termos de “caçar milhares de troskos”, “reprimir troskos”, “bater em troskos”, “procurar troskos”, “expurgar troskos” e “caça aos troskos”. Pessoas que se juntaram a grupos protestando contra essas ações, como a página do Facebook “Stop the Labour Purge” (Parem o expurgo no Partido Trabalhista), foram alvos de exclusão escolhidos especificamente. Outros foram expulsos por dar “gostei” ou retuitar material de organizações como a People’s Assembly (Assembleia do Povo), UK Uncut (Reino Unido sem Cortes), National Health Action Party (Partido Nacional de Ação na Saúde) e o Green Party (Partido Verde).

Essa caça às bruxas não conseguiu impedir a vitória de Corbyn com um mandato esmagador. O sentimento na sede do Partido Trabalhista foi apocalíptico, com membros do gabinete escrevendo: “nós estamos ferrados”, “irreversivelmente fodidos”, “não sei quanto mais eu aguento”.

Porém, todo o desânimo foi imediatamente dissipado pela seleção de Corbyn de um gabinete de defensores da guerra, sua desmobilização da oposição à austeridade com a ordem de que os conselhos do Partido Trabalhista impusessem os cortes do Partido Conservador, e seu apoio à campanha pela permanência do Reino Unido na União Européia no referendo do Brexit. Encorajados pelas capitulações de Corbyn, a conspiração direitista foi intensificada com as eleições para a liderança de 2016, provocada por um golpe orgnaizado pelos parlamentares blairistas do Partido Trabalhista. Em uma declaração distribuída no congresso especial do Partido Trabalhista naquele ano, o Partido Socialista pela Igualdade explicou: “A campanha feita tem sido violenta - incluindo negar a mais de 130 mil membros e apoiadores o direito ao voto, e utilizando a orwelliana Unidade de Obediência para fazer buscas em contas online para encontrar ‘evidências’ de crimes de pensamento”.

“O desígnio desse expurgo como ‘Operação Picareta’, junto à rotina de denúncias de ‘infiltradores trotskistas’ é adequado, dado que um precedente histórico só pode ser encontrado na Rússia de Stalin”.

De acordo com o relatório, a sede do Partido Trabalhista solicitou inicialmente conselhos jurídicos para argumentar que Corbyn não deveria aparecer automaticamente como opção nas eleições se não fosse nomeado por parlamentares. Quando isso fracassou, a GLU começou a fazer buscas nas contas nas redes sociais de membros do partido e apoiadores inscritos para encontrar um pretexto para a expulsão ou rejeição.

Algoritmos foram criados para procurar comentários negativos sobre parlamentares blairistas de uma lista específica. Depois da publicação do Inquérito Chilcot da Guerra do Iraque, uma busca geral foi feita pela frase “criminoso de guerra” ou por referências feitas à “defensores da guerra”, com os funcionários preocupados com “uma entrada de pessoas revoltadas contra a guerra”. Frases como “Conservador vermelho”, “pseudo Conservador”, “blairista disfarçado”, “traidor” e “Conservador light” também foram procuradas como uma razão para expulsão. Operações de busca específicas foram lançadas contra aqueles inscritos em grupos de Facebook de esquerda. O Chefe de Disputas e então Diretor Interino da GLU, Sam Matthews, disse sobre o site “Nye Bevan News”, que se descreve como “A sua fonte de mídia de esquerda pró-NHS”: “Nós podemos provavelmente suspender todo mundo que seja um membro da página”.

Fora das eleições pela liderança, funcionários sênior buscaram persistentemente interferir ou reverter processos democráticos para impedir aqueles considerados esquerdistas de ganharem cargos. Matthews e a diretora executiva da GLU, Emilie Oldknow, trabalharam para impedir a aliada de Corbyn, Rebecca Long-Bailey de ser selecionada deputada pelo distrito de Manchester no órgão de governo do partido. Eles também discutiram a manutenção da suspensão do Partido Trabalhista do Distrito de Wallasey para dar à parlamentar anti-Corbyn, Angela Eagle, mais “tempo para se organizar” e ganhar a reunião geral anual. O secretário geral do partido, Ian McNicol discutiu com outros funcionários sênior planos para atrasar mudanças nas eleições da juventude do Partido Trabalhista, que beneficiariam grupos pró-Corbyn.

A sede do Partido Trabalhista agiu repetidas vezes contra os interesses eleitorais do Partido Trabalhista com a esperança de desmoralizar os apoiadores de Corbyn, e ajudou o vice-líder, Tom Watson, a vazar documentos do partido. Funcionários da GLU planejaram instalar Watson como um líder interino após o que eles esperavam que seria uma derrota para o Partido Trabalhista em 2017, e desviaram centenas de milhares de libras do partido para financiar uma “equipe de cargos-chave secretos” para apoiar parlamentares blairistas.

Esses esforços foram um fracasso. Corbyn surgiu da eleição de 2017 em uma posição incontestável. Se ele quisesse, Corbyn teria espulso os conspiradores blairistas com o apoio completo dos membros do Partido Trabalhista. Ao invés disso, Corbyn trabalhou com o aliado próximo, Jon Lansman, para estabelecer sua própria força policial na forma do Momentum - o suposto grupo de campanha “de base” criado nominalmente para avançar a transformação do Partido Trabalhista para a esquerda. Na realidade, desde o início, essa organização foi a ferramenta auxiliar de Lansman, pensada para neutralizar qualquer oposição da base que se desenvolvesse contra o núcleo blairista do partido.

A investigação explica que “trotskistas” - pelo que significa vários grupos de pseudoesquerda - “tentaram se organizar dentro de grupos locais do Momentum. Porém, em janeiro de 2017, o Momentum implementou uma constituição que excluía qualquer um que não fosse um membro do Partido Trabalhista ...”

No congresso anual do Partido Trabalhista de 2018, o Momentum se juntou a Corbyn e aos sindicatos para impedir uma nova seleção obrigatória dos parlamentares do Partido Trabalhista. Em 2019, uma campanha nacional organizada fraudulentamente para reverter a seleção dos parlamentares blairistas foi levada a uma completa derrota. Onde quer que os membros do Partido Trabalhista tentassem iniciar uma luta contra os parlamentares e políticos blairistas e por sua própria iniciativa, Corbyn interveio pessoalmente para pôr fim a elas.

Os eventos dos últimos cinco anos não podem ser entendidos sem levar em conta as ações dos chamados “esquerdistas do Partido Trabalhista”, que foram os elementos decisivos na vitória da conspiração blairista.


Corbyn e a caça às bruxas de antissemitismo

As declarações de que o Partido Trabalhista era “institucionalmente antissemita” - que alcançaram um auge histérico e cínico de rotular o partido uma “ameaça existencial” para os judeus britânicos - foram uma continuação da campanha de direita do partido contra os seus membros por outros meios. Em um chamado para os membros do Partido Trabalhista em 2018, “Pela rejeição dos ataques de antissemitismo contra Jeremy Corbyn! Expulsem a direita do Partido Trabalhista!”, o Partido Socialista pela Igualdade advertiu: “ Nas últimas semanas houve uma aceleração da campanha direitista do Partido Trabalhista britânico para retratar Jeremy Corbyn como um antissemita, na esperança de expulsá-lo da sua posição como líder do partido.

“Em sua escala e ferocidade, esses esforços possuem todas as marcas de uma campanha de desestabilização envolvendo o MI5 no Reino Unido, o Mossad em Israel e a Agência Central de Inteligência (CIA) nos Estados Unidos ... o objetivo dessa campanha é de descreditar o socialismo na esperança de impedir qualquer desafio pela classe trabalhadora à austeridade e ao avanço cada vez intenso do militarismo e da guerra no Oriente Médio e em todo o mundo”.

Utilizando estatísticas internas do partido, a investigação vazada do Partido Trabalhista conclui que houve 34 ações realizadas contra membros por antissemitismo entre novembro de 2016 e fevereiro de 2018, quando os blairistas controlavam o aparato do partido. Os autores da investigação estimam que houve mais 170 denúncias que deveriam ter sido processadas, resultando em um total de 204 casos, ou 0,037% dos membros do Partido Trabalhista. Em 2018, houve 283 suspensões e investigações, sem qualquer ação posterior contra 133 pessoas, e 10 expulsões de membros. Em 2019, com a pressão por “ação” contra o antissemitismo alcançando um nível febril, houve 579 suspensões e investigações (0,1% dos membros), sem qualquer ação tomada contra 255 pessoas e 45 expulsas.

Mesmo aceitando que todas essas expulsões foram justas, e os casos de figuras importantes mostram que elas não foram, o antissemitismo era um fenômeno marginal minúsculo no Partido Trabalhista.

A “crise” de antissemitismo foi politicamente fabricada. Indivíduos direitistas apoiadores do estado de Israel enviaram milhares de denúncias falsas de suposto antissemitismo e contaram histórias de terror inventadas para a mídia. A GLU ignorou ou atrasou respostas para um conjunto de casos genuínos de antissemitismo enquanto apresentava uma imagem enganosa do número e da natureza das denúncias sendo recebidas. Isso embasou notícias histéricas sobre a “inação” do Partido Trabalhista e o antissemitismo da “esquerda”.

No início de 2017, dossiês de alegações foram submetidos pelo grupo Partido Trabalhista contra o Antissemitismo. O grupo declarou publicamente em 2018 ter enviado 700 relatos individuais de suposto antissemitismo, quando o verdadeiro número era de pouco mais de 100.

Em 2019, metade das queixas de antissemitismo vieram de um membro do Partido Trabalhista “que está procurando nas redes sociais por evidências” e é frequentemente “rude e abusivo” com os funcionários e membros do partido. Uma “grande parte” de suas denúncias são duplicatas, e não se referem a membros do Partido Trabalhista ou a membros que já estão em processo disciplinar, “algo que já foi dito ao reclamante repetidas vezes”. Eles “enviam regularmente denúncias sobre pessoas compartilhando artigos relacionados aos judeus, com o comentário ‘eles não são judeus’”.

Material desse tipo foi manipulado pelos funcionários do partido para ter um máximo efeito. No meio do ano passado, vários sites de notícias noticiaram que funcionários na sede do Partido Trabalhista haviam se demitido dos seus gabinetes e destruído documentos importantes de denúncias antes de ir embora, guardando cópias que foram então vazadas para a mídia como evidências de “inação”. O relatório oferece exemplos similares.

Entre novembro de 2016 e fevereiro de 2018, 79% dos processos levantados contra membros por antissemitismo não foram resultado do trabalho da GLU. Matthews deixou que os casos não resolvidos se acumulassem na caixa de entrada de “Disputas”. Quando solicitado a apresentar registros de processos de denúncias de antissemitismo em 2018, ele ofereceu números imprecisos. Matthews e McNicol declararam repetidas vezes estar trabalhando em casos quando não estavam. Uma vez que um arquivo foi criado, e depois que McNicol havia deixado o cargo de secretário geral, Matthews e Oldknow romperam com os procedimentos anteriores e começaram a encaminhar casos para o gabinete da liderança do Partido Trabalhista. Esses emails foram então vazados para a mídia como “evidências” de interferência da liderança no processo das denúncias.

Todas as acusações foram ampliadas por uma mídia corporativa cúmplice. Em julho de 2019, McNicol e Matthews foram convidados para um trabalho de difamação no programa “Panorama” da BBC, intitulado “O Partido Trabalhista é antissemita?” para espalhar mentiras sobre os membros e criticar as falhas que eles haviam orquestrado.

Entre os casos que foram atrasados repetidas vezes, havia denúncias de negação do Holocausto com extensas evidências. Pelo menos um foi ignorado deliberadamente para avançar uma investigação maliciosa contra o ativista esquerdista e membro do Voz Judaica pelo Partido Trabalhista, Glyn Secker.

Diante de todas essas evidências, o relatório aceita mesmo assim as alegações do problema do antissemitismo do Partido Trabalhista como uma verdade, afirmando explicitamente aquilo que é claramente falso: “Esse relatório refuta qualquer sugestão de que o antissemitismo não é um problema no Partido, ou que é tudo uma ‘difamação’ ou uma ‘caça às bruxas’”.

Para legimitar a caça às bruxas, as ações traiçoeiras de Matthews e McNicol são tratadas absurdamente como o produto de “desvios e inércia burocráticos”.

A investigação afirma até mesmo que o significado essencial da conspiração generalizada contra os membros do partido era que ela encorajava uma suposta cultura de “negacionismo” em relação ao antissemitismo, que os membros são acusados de abrigar. Essa acusação desprezível tem como objetivo justificar não apenas as ações dos blairistas, mas de Corbyn ao se alinhar com a caça às bruxas de antissemitismo. Conforme explicado pelo WSWS: “Diante da enorme oposição dos membros do Partido Trabalhista, os blairistas só foram capazes de prosseguir com uma campanha baseada em tal conjunto de mentiras por conta das constantes capitulações de Corbyn e seu círculo interno”.

Uma parte da investigação conclui: “Essa seção demonstrou que Jeremy Corbyn, [o chanceler de seu gabinete] John McDonnell e os funcionários do Gabinete dos Líderes pediram para que os candidatos acusados de antissemitismo fossem removidos e que medidas disciplinares fossem tomadas ...” Eles pediram especificamente que os casos de Ken Livingstone, Marc Wadsworth e Jackie Walker fossem “concluídos rapidamente, conforme solicitado pelos acionistas judeus”. O parlamentar Chris Williamson recebeu o mesmo tratamento.

Nenhum desses indivíduos é antissemita e todos eles passaram décadas na “esquerda” do Partido Trabalhista, trabalhando em estreita colaboração política com Corbyn. Ainda assim, quando Livingstone recebeu uma suspensão de dois anos pelo Comitê Constitucional Nacional em abril de 2018, o relatório constata que “mensagens de WhatsApp esclarecem que os funcionários do LOTO [Gabinete do Líder da Oposição, isto é, Corbyn] esperavam que Livingstone fosse expulso e ficaram chocados e infelizes com essa decisão”.

Posteriormente, a “GLU não iniciou uma nova investigação de Ken Livingstone, e foi o pessoal do LOTO que insistiu para que ela fizesse isso”.

Finalmente, o assessor de Corbyn, Seumas Milne, “discutiu com Oldknow tentando garantir que Ken Livingstone se demitisse do partido ao invés de sofrer outro processo disciplinar”.

Walker, que é negro e judeu, foi expulso após “Jeremy Corbyn e [a nova secretária geral e aliada de Corbyn] Jennie Formby se reuniu com o Conselho de Deputados, o Conselho da Liderança Judaica e o Fundo de Comunidade e Segurança, que disseram que o partido deveria agilizar os casos de Ken Livingstone e Jackie Walker”.

O relatório detalha como “o caso de Walker demonstra um esforço contínuo dos membros do LOTO ... para buscar uma resolução rápida e decidida”.

A suspensão de Williamson recebeu o aval da secretária política de Corbyn, Amy Jackson: “Eu concordo que algo precisa ser feito hoje. Pessoas de todos os lados do partido estão absolutamente furiosas com ele”.

O chefe do Momentum, Jon Lansman, tornou-se encarregado da coordenação com os mais ardentes reacionários sionistas. Conforme o relatório explica, ele foi decisivo no apoio do Partido Trabalhista da definição da Associação Internacional para a Memória do Holocausto (IHRA, na sigla em inglês) de antissemitismo. A definição inclui como exemplos de suposto antissemitismo negar aos judeus seu direito à autodeterminação, por exemplo, declarando que a existência de um estado israelense é um esforço racista, e fazendo comparações da política israelense contemporânea em relação aos palestinos com aquela dos nazistas.

Em 2018, o gerente de mídia digital do Momentum, Harry Hayball, coordenou as investigações e punições da própria organização das pessoas acusadas de antissemitismo. Ele “se reuniu com um amplo conjunto de acionistas da JLM, organizações comunais judaicas e a comunidade judaica mais ampla”, afirma a investigação, e que “estudou a história do antissemitismo na esquerda em trabalhos como o ‘That’s Funny You Don’t Look Antisemitic’ [Que engraçado, você não parece antissemita] de Seteve Cohen e ‘The Left’s Jewish Problem’ [O problema judeu da esquerda] de Dave Rich”.

Hayball foi contratado pela própria GLU no ano seguinte, em julho de 2019, como um encarregado da governança sênior, lidando especificamente com antissemitismo. Ele se juntou à Patrick Smith, tornado chefe de disputas em junho de 2019. O relatório afirma que Smith “foi contratado especificamente por conta do seu conhecimento de antissemitismo e as formas que ele assume na esquerda ...”.

Smith é um ex-organizador do grupo antitrotskista, Aliança pela Liberdade dos Trabalhadores. Junto a Smith, Laura Murray - filha do assessor stalinista de Corbyn, Andrew Murray - foi enviada para a GLU em 2019 como sua chefe de denúncias. Hayball e Smith intensificaram dramaticamente as investigações dos membros do Partido Trabalhista, fazendo buscas nas redes sociais por termos de busca “problemáticos” e evidências de “negacionismo”, postura “defensiva”, ou críticas aos “parlamentares e afiliados do Partido Trabalhista” pró-sionistas.

De acordo com as orientações elaboradas pela equipe, exemplos de postagens “problemáticas” incluem “argumentar que Israel utiliza incorretamente o Holocausto para os seus próprios objetivos”, “compartilhamento indevido por judeus, como Norman Finkelstein, falando sobre o Holocausto de uma maneira agressiva ou indevida” e “ênfase indevida em vítimas não judaicas do Holocausto, como se houvesse foco excessivo sobre os judeus”. Sobre Israel e o sionismo, as orientações dizem que “deve-se esperar que o povo judeu ou o povo israelense tenha maior liberdade para discutir essas questões”.

Esses não foram apenas exemplos de covardia política, mas também um apoio político a uma caça às bruxas direitista. Isso é confirmado pelo fato de que os aliados de Corbyn coordenaram e até mesmo ampliaram o processo disciplinar a partir de janeiro de 2018, depois de garantir uma maioria no Comitê Executivo Nacional (NEC, na sigla em inglês) do Partido Trabalhista. Conforme o WSWS escreveu durante as eleições gerais de 2019: “Nenhuma vez [Corbyn] defendeu seus próprios apoiadores, incluindo Ken Livingstone, Marc Wadsworth, Jackie Walker e Chris Williamson, que foram expulsos ou forçados a se desligar do partido por falsas acusações de antissemitismo. Ao invés disso, ele pediu desculpas repetidas vezes recentemente por uma suposta incapacidade para lidar rigorosamente e rapidamente com o antissemitismo”.

Uma força policial política antitrotskista

O momento do vazamento da investigação do Partido Trabalhista marca um desfecho apropriado para o histórico de cinco anos de Corbyn de rendição e conivência políticas. O relatório não foi revelado em um grande comício público ou apresentado para as seções do partido como a base para uma campanha política contra os conspiradores. Pelo contrário, os autores do relatório fingem estar surpresos pelas suas descobertas, escrevendo que “Espera-se que os funcionários do Partido Trabalhista, que, ao invés de serem assessores políticos para os políticos, são empregados pelo partido, ajam imparcialmente e sirvam ao partido, independentemente do atual líder ...” Eles declaram diretamente até mesmo que “não estão preocupados com os acertos e erros de diferentes posições políticas defendidas por diferentes frações e indivíduos no Partido Trabalhista nos cinco anos anteriores”.

A investigação só foi vazada depois que Corbyn e McDonnell já haviam se desligado, após um novo gabinete de governo de reacionários ter sido instalado sob o novo líder, Sir Keir Starmer, e após o próprio Corbyn nomear Tom Watson e Ian McNicol para cargos vitalícios na Câmara dos Lordes!

O único objetivo de vazar a investigação é de prevenir a sua supressão como evidência no inquérito politicamente motivado da Comissão da Igualdade e dos Direitos Humanos sobre a discriminação antissemita no Partido Trabalhista. Corbyn queria transmitir a mensagem de que ele e sua equipe estavam ansiosos para remover o antissemitismo do partido, mas foram impedidos de fazer isso pela “atmosfera hiperfracional” gerada por seus oponentes.

Enquanto isso, os membros do Partido Trabalhista estão manchados com a acusação de antissemitismo, ou pelo menos de “negacionismo”, e deixados vulneráveis contra um novo ataque direitista. O escândalo pela investigação já foi usado como uma plataforma para uma nova ofensiva. Starmer não tomou quaisquer medidas diante das claras evidências contra os funcionários do Partido Trabalhista, dizendo aos membros: “Nós temos que parar o fracionalismo no nosso partido”. Na última quinta-feira, o NEC do Partido Trabalhista concordou em abrir uma investigação dos conteúdos do relatório e da maneira como foi feito e vazado, e um relatório foi agendado para meados de julho. O encontro do NEC, que incluiu múltiplos supostos “esquerdistas”, incluindo Jon Lansman, foi descrito pela Labour List como um “que não foi difícil”.

Enquanto isso, o ataque dos blairistas e sionistas continua sem impedimentos. O Partido Trabalhista está enfrentando até 8 milhões de libras em ações judiciais por violação de privacidade de criminosos direitistas apontados no relatório. A Skwawkbox cita fontes do Partido Trabalhista, segundo as quais as pessoas que acreditam terem tido um papel em compilar e vazar a investigação já estão sendo suspensas.

Em 16 de abril, membros do sindicato GMB na sede do Partido Trabalhista aprovaram uma moção de desconfiança contra a secretária geral, Jennie Formby, alegando que ela havia “efetivamente colocado unilateralmente todos os funcionários sob investigação”, e exigindo que ela “pedisse desculpas pessoalmente aos atuais funcionários nomeados no relatório”.

Uma reação nas redes sociais forçou o secretário geral da GMB, Tim Roache, a declarar que o sindicato “não estava atacando” Formby e esperaria ao menos pelo “inquérito independente” do Partido Trabalhista antes de fazer isso! Sua posição foi esclarecida pelo comentário de que “Vazar um relatório não editado, contendo nomes e mensagens pessoais de funcionários e os nomes das pessoas que fizeram denúncias sobre racismo concordando sob a premissa do anonimato, é inaceitável”.

Novara Media noticiou que o Movimento Trabalhista Judeu pró-sionista (JLM) está chamando pela suspensão de quaisquer organizações do Constituency Labour Party (Partido Trabalhista Distrital) que sequer discutam o documento. Starmer já prometeu uma caça às bruxas intensificada dos membros do Partido Trabalhista em cooperação com o JLM, o Conselho de Deputados de Judeus Britânicos e o Fundo de Comunidade e Segurança. Esse expurgo poderia acontecer sob a supervisão de ninguém menos do que a conspiradora líder, Emilie Oldknow, uma das principais escolhas de Starmer para substituir Formby como secretária geral do Partido Trabalhista - novamente, de acordo com a Novara Media.

Oldknow é secretária geral adjunta no sindicato da Unison, uma empresa que ela compartilha com o ex-colega da GLU, John Stolliday, que é hoje o chefe da Unidade de Coordenação de Membros da Unison. Pelo menos um jornalista noticiou que o secretário geral do sindicato, Dave Prentis, garantiu a esses dois conspiradores direitistas o seu apoio e proteção. A Unison apoiou Starmer na competição pela liderança recente, dizendo que ele era o “melhor colocado para unir” o Partido Trabalhista.

Esses são eventos historicamente significativos.

O ponto político mais chocante a surgir de todo esse episódio sujo é a denúncia patológica dos “troskos” pelo Partido Trabalhista. Essa obsessão com o trotskismo aponta para o fato de que o que era temido e foi rechaçado pelo Partido Trabalhista não era o próprio Corbyn - que, conforme os relatórios mostram, colaborou com a direita do partido - mas o movimento mais amplo para a esquerda da classe trabalhadora e da juventude que ele tentou encurralar.

O aparato do Partido Trabalhista e os assessores stalinistas de Corbyn, como Seumas Milne e Andrew Murray da fração linha dura Straight Left do Partido Comunista da Grã-Bretanha (CPGB, na sigla em inglês), estavam de pleno acordo. De fato, a Straight Left estava entre os maiores torcedores da verdadeira “stasi” - a polícia secreta stalinista da Alemanha Oriental - e da verdadeira “Operação Picareta” conduzida por Joseph Stalin, que resultou no assassinato de Leon Trotsky em 1940.

O stalinismo em todo o mundo levou a política de subordinação às reacionárias burocracias trabalhistas nacionais e ao imperialismo mundial, e de hostilidade mortal ao socialismo internacional, aos seus níveis contrarrevolucionários mais extremos. Hoje, profundamente descreditado como uma tendência política, seus ideólogos no Reino Unido funcionam como os burocratas mais leais dos sindicatos e da social-democracia e fervorosos opositores acadêmicos de qualquer movimento independente da classe trabalhadora.

Corbyn também foi moldado por essa política desde o seu envolvimento com a burocracia sindical e o tempo gasto escrevendo uma coluna para o Morning Star, órgão do Partido Comunista. Guiado pela sua perspectiva nacionalista reacionária, ele buscou consistentemente uma aliança com os sabotadores, caçadores de bruxas e parlamentares blairistas contra os seus próprios apoiadores.

O WSWS comentou em sua declaração de Ano Novo de 2020: “O corbynismo, que promoveu a ilusão de um renascimento do Partido Trabalhista como um instrumento de luta anticapitalista, provou no final ser um sinônimo de covardia política e prostração diante da classe dominante”.

Essas forças se reúnem na instituição do Partido Trabalhista, que foi fundado no início do século passado e, desde então, desenvolveu-se na mais importante fortaleza do capitalismo britânico contra o socialismo.

Tanto os stalinistas como os social-democratas, aqueles na “esquerda” nominal tanto quanto aqueles na direita, veem Trotsky e o trotskismo com hostilidade aberta e venenosa. Nenhuma outra figura ou movimento incorpora mais completamente a luta pela revolução socialista mundial. Trotsky foi o co-líder da Revolução de Outubro com Lenin, fundador da Quarta Internacional e o oponente mais implacável das tendências burocráticas que traíram a classe trabalhadora por décadas - a social-democracia e o stalinismo.

Desde a degeneração stalinista do Partido Comunista da Grã-Bretanha e dos outros partidos afiliados à Terceira Internacional, o trotskismo tem sido a única tendência política buscando separar a classe trabalhadora do Partido Trabalhista e dos sindicatos para consruir uma liderança revolucionária. Por isso, tornou-se um sinônimo para a burocracia para qualquer ameaça emergente ao seu controle político sobre a classe trabalhadora.

O ódio sentido pelo aparato do Partido Trabalhista pelo trotskismo foi reforçado durante os anos pós-guerra pelo crescimento extraordinário no apoio político ao movimento trotskista sob a liderança de Gerry Healy. Trabalhando dentro do Partido Trabalhista durante os anos 1950 e 1960, os trotskistas britânicos se opuseram não apenas à direita do Partido Trabalhista, mas aos “esquerdistas” dos quais ela dependia, e que procuravam manter a lealdade de membros de mentalidade socialista.

O Partido Socialista pela Igualdade explica no seu documento FundamentosHistóricos e Internacionais que os ganhos obtidos naquele período “foram o produto do apoio do grupo de Healy à Carta Aberta, publicada por James P. Cannon do Partido Socialista dos Trabalhadores dos EUA em 1953, defendendo o trotskismo das tentativas dos pablistas de liquidar a Quarta Internacional”.

O pablismo - cujo nome vem de seu principal teórico, Michel Pablo - surgiu como uma resposta impressionista à reestabilização pós-guerra do capitalismo mundial. Sustentando-se no impacto somado da traição das lutas revolucionárias pelo stalinismo, social-democracia e movimentos nacionalistas burgueses, o imperialismo estadunidense foi capaz de utilizar sua hegemonia econômica para restaurar a produção e o comércio globais.

Os stalinistas em particular, limitando os movimentos que eles dirigiam a uma perspectiva democrática burguesa e avançando políticas da “détente” e da “coexistência pacífica”, encorajaram a ilusão de que ganhos permanentes poderiam ser obtidos através das políticas da reforma nacional que receberam um novo sopro de vida após a guerra.

As forças pequeno-burguesas dentro da Quarta Internacional se uniram em uma tendência revisionista sob a liderança de Pablo e Ernest Mandel, declarando que os partidos stalinistas e social-democratas e movimentos nacionalistas burgueses eram um meio alternativo para alcançar o socialismo. A Quarta Internacional, eles insistiram, não teria um papel independente a desempenhar, mas deveria agir como um grupo de pressão buscando pressionar a liderança existente da classe trabalhadora para a esquerda.

Conforme o documento de criação do SEP de 2011 explicou, como resultado da luta contra o pablismo e pela perspectiva da revolução socialista mundial liderada por um partido de vanguarda marxista, os trotskistas britânicos obtiveram enormes ganhos: “A criação do Comitê Internacional da Quarta Internacional (CIQI) foi crítica para o fortalecimento político dos trotskistas britânicos para intervirem em um meio político hostil. Na crise no stalinismo britânico após o Discurso Secreto de Khrushchev em 1956, eles foram capazes de conquistar forças importantes do Partido Comunista da Grã-Bretanha. Isso permitiu que o grupo de Healy ganhasse apoio significativo no Partido Trabalhista e nos sindicatos, centrados no seu trabalho de expor os ‘esquerdistas’, exigindo que eles se separassem da direita e assumissem a luta por um governo do Partido Trabalhista comprometido com políticas socialistas”.

A burocracia do Partido Trabalhista retaliou com uma agressiva caça às bruxas contra os seus oponentes trotskistas, que respondeu em março de 1959 formando a Liga Socialista Trabalhista (SLL, na sigla em inglês) como uma tendência política declarada. A SLL foi proibida e dúzias de seus membros líderes foram expulsos do Partido Trabalhista, mas a sua luta de princípios conquistou a liderança do movimento de juventude do Partido Trabalhista, os Jovens Socialistas (YS, na sigla em inglês). O jornal da juventude Keep Left foi proibido, seus apoiadores foram expulsos e filiais apoiadoras dos YS foram fechadas.

A partir dessa experiência, o Partido Trabalhista aprendeu uma lição que não esqueceu desde então: sem a supressão burocrática mais implacável dos seus próprios membros, existia o perigo de que o trotskismo, i.e., socialismo internacional revolucionário, chegasse à liderança de poderosas seções de trabalhadores e jovens.

Nos anos 1980, o Partido Trabalhista iniciou um abandono de qualquer conexão com a classe trabalhadora, conforme respondia ao desenvolvimento da produção globalizada descartando seu programa de reformismo nacional em favor de uma glorificação direta do capitalismo. Esse processo teria desfecho na formação do New Labour sob Tony Blair e Gordon Brown.

Inevitavelmente, esse processo se iniciou com mais uma caça às bruxas, abrindo o caminho para uma série de enormes traições, incluindo a da greve dos mineradores de 1984-1985. Dessa vez, o alvo foi a Tendência Militante, apesar de sua obediente lealdade à burocracia e sua insistência de que o Partido Trabalhista e os sindicatos eram o mecanismo para alcançar o socialismo. Os futuros heróis do New Labour removeram seus próprios apoiadores nesse expurgo, ao lado daqueles com passados stalinistas, incluindo Peter Mandelson, John Reid, Charles Clarke e Alan Johnson. Outros, como Alan Milburn e Alistair Darling, possuíam um passado no Grupo Marxista Internacional pablista.

A vitória da liderança por Corbyn em 2015 foi exaltada universalmente pela fraternidade de organizações pseudoesquerdistas, no Reino Unido e internacionalmente, como um marco do retorno ao passado reformista do Partido Trabalhista. Ao invés disso, o vazamento da investigação confirma que o caráter pró-empresarial, pró-austeridade e pró-guerra do partido, irreconciliavelmente hostil à classe trabalhadora e ao socialismo, permanece inalterado.

Contra os defensores de Corbyn no Partido Socialista e Partido Socialista dos Trabalhadores pseudoesquerdistas, o Partido Socialista pela Igualdade insistiu desde o início que o Partido Trabalhista “nunca se recuperará” das traições do corbynismo. Com base no método marxista, na experiência de um século com a social-democracia e no exemplo recente do papel reacionário do SYRIZA na Grécia, nós explicamos, citando Trotsky:

“Se os sucessos eleitorais do Partido Trabalhista o elevarem novamente ao poder, as consequências não seriam uma transformação socialista pacífica, mas uma consolidação da reação imperialista, isto é, uma época de guerra civil, diante da qual a liderança do Partido Trabalhista revelará inevitavelmente a sua completa falência”.

Corbyn realizou uma supressão de cinco anos da luta de classes - desmobilizando greves e protestos - que prepararam o caminho para o governo mais direitista na história britânica sob a liderança de Boris Johnson. O último ato político significante de Corbyn foi declarar lealdade à Sir Keir Starmer, que, por sua vez, prometeu imediatamente apoiar o governo do Partido Conservador e tem levado o partido direitista herdado de Corbyn para o que é, para todos os propósitos, um governo de união nacional com Johnson.

A social-democracia britânica está comendo as próprias entranhas conforme entra na sua agonia mortal final, causada por uma mudança fundamental nas relações de classe internacionais que está se acelerando rapidamente como resultado da pandemia do coronavírus. Um novo estágio na vida política da classe trabalhadora está começando.

Milhares de membros e apoiadores do Partido Trabalhista já deixaram o partido enojados e em busca de um movimento socialista genuíno. Porém, a questão central que precisa ser abordada é de qual partido representa o socialismo genuíno. Essa resposta só pode ser encontrada lidando com a história e o programa das tendências políticas que se promovem como uma alternativa ao Partido Trabalhista. O Partido Socialista pela Igualdade chama todos os trabalhadores e jovens buscando um novo lar político para que estudem a nossa história política e aquela do Comitê Internacional da Quarta Internacional e tomem a decisão de se juntar ao movimento trotskista mundial.

Publicado originalmente em 27 de abril de 2020

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