Díli, 05 mai 2020 (Lusa) -- O
maior partido no parlamento timorense, Fretilin, disse hoje estar disponível
para um diálogo para resolver a situação política em Timor-Leste, mas só se
participarem todas as forças parlamentares.
"Estou disposto a conversar,
com iniciativa presidencial, mas com todos os partidos no parlamento. Porque
tenho muita coisa para falar e gostaria que todos falassem", disse à Lusa
o secretário-geral da Frente Revolucionária do Timor-Leste Independente
(Fretilin), Mari Alkatiri.
"Para mim um diálogo com
todos é a melhor solução, para que haja respeito pelos grandes e pelos pequenos
partidos", afirmou.
Mari Alkatiri reagiu assim, em declarações
à Lusa, a um comunicado do Congresso Nacional da Reconstrução Timorense (CNRT),
segunda força política, que apelou ao Presidente timorense para promover um
diálogo entre os dois partidos.
"Não estou a ver que
contribua para alguma coisa separar os dois maiores, Fretilin e CNRT",
considerou, questionado sobre essa proposta.
"Não tem lógica nenhuma,
este diálogo. Vem a propósito de quê? Porquê bilateral e porque não todos os
partidos que estão no parlamento, sentarem-se juntos", questionou.
Apesar de insistir que "não
há qualquer problema bilateral" entre os dois partidos, Mari Alkatiri
responsabilizou o líder do CNRT, Xanana Gusmão, pelo impasse que se vive no
país e que começou com a aliança de três forças políticas ao seu Governo em 2017.
"Este impasse político foi
provocado por Xanana Gusmão e o seu partido que, posteriormente e com mais dois
partidos formaram a Aliança de Mudança para o Progresso (AMP), aquela aliança
contranatura", salientou.
Alkatiri referia-se à aliança
parlamentar que chumbou o programa do Governo que liderava em 2017, forçando a
realização de eleições antecipadas em 2018, nas quais a AMP obteve maioria
absoluta.
A AMP, consituída pelo CNRT,
Partido Libertação Popular (PLP) e Kmanek Haburas Unidade Nacional Timor Oan
(KHUNTO), dissolveu-se, na sequência do 'chumbo' do Orçamento Geral do Estado
(OGE) para 2020. CNRT e KHUNTO integraram uma nova aliança sem o PLP, do
primeiro-ministro Taur Matan Ruak, ainda que mantenham vários membros no atual
executivo.
Recentemente, o KHUNTO anunciou
que não quer participar na nova aliança liderada pelo CNRT, e voltou a apoiar o
VIII Governo para o qual vão entrar membros da Fretilin no quadro de uma
plataforma de entendimento entre este partido e o PLP.
"Neste momento, a Fretilin
está mais interessada em viabilizar o VIII Governo e não em tornar este
problema num assunto bilateral da Fretilin e do CNRT", afirmou Alkatiri,
insistindo que o partido não entra para substituir o CNRT.
"Não há interesse nenhum da
Fretilin em dizer que outros membros do Governo devem sair. A Fretilin não quer
substituir o CNRT, não é essa intenção", considerou.
Caso o CNRT decida continuar no
Governo, tem de mostrar que apoia o executivo, adiantou.
"A verdade é esta: se
continuam no Governo a bancada do CNRT deve colaborar com o Governo, não
opor-se ao Governo", disse, afirmando que se o CNRT decidir retirar os
elementos do Governo a Fretilin não exclui apresentar mais elementos para o
elenco governativo.
"Se queremos viabilizar este
Governo, então não o vamos deixar cair", disse.
Questionado sobre se a Fretilin
gostaria de ver reeditado o cenário do VI Governo (2015-2017), que integrou
membros de vários partidos e quase unanimidade no parlamento, Alkatiri disse
que a situção é diferente.
"Em 2017 foi uma iniciativa
unilateral nossa, da Fretilin, a querer abrir uma nova página para a história
da democracia timorense", disse, para explicar o apoio ao Governo então
liderado pelo CNRT.
"Agora não. Agora é tempo de
se fazer uma síntese clara, saber porque chegámos a esta situação. Para que
este tipo de atitudes, este tipo de exercício do poder, mude
definitivamente", considerou.
Por isso mesmo, a solução não
passa apenas pelos dois maiores partidos, sublinhou. "Os dois partidos,
por maiores que sejam, não resolvem. É preciso incutir uma nova cultura e vida
institucional no país", afirmou Alkatiri.
Questionado sobre a proposta do
CNRT hoje apresentada ao Presidente timorense, no mesmo dia em que deputados do
partido apresentaram uma ação no Tribunal de Recursos a acusar o chefe de
Estado de graves violações constitucionais, Alkatiri disse tratar-se de
"uma manobra".
"É uma contradição, mas com
intenção por trás. Não é ingenuidade. É uma manobra dilatória, uma tentativa de
fazer parecer como estando cheios de vontade de resolver os problemas quando
penso que ainda não chegaram lá mesmo", afirmou.
ASP // EJ
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