sexta-feira, 22 de maio de 2020

O Brasil de volta à Idade das Trevas


Governo não é técnico e Estado não é laico. Positivismo, tão fundamental na criação da República Federativa do Brasil, também se foi. Abandonado por seu líder máximo, país voltou para a Idade Média, lamenta Thomas Milz.

Tempos de pestes sempre trouxeram um ar lunático, com todos buscando um culpado pela praga. Na Alemanha, se reúnem atualmente em praças públicas negacionistas de todas as causas, ativistas anti-vacina, da extrema direita e extrema esquerda, e juntos se manifestam contra a conspiração viral de Bill Gates e George Soros. Ainda bem que representam uma minoria. E que a Alemanha – por enquanto – tem um governo baseado na razão e na ciência, e não em likes das redes sociais ou vídeos de youtubers.

Chama a atenção o fato de que países governados por mulheres passaram com mais facilidade pela pandemia, a ver: Alemanha, Finlândia, Noruega e Nova Zelândia. A alemã Angela Merkel é física, a finlandesa Sanna Marin formada em Administração, a norueguesa Erna Solberg é sociológica, cientista política e ainda economista, enquanto a neozelandesa Jacinda Ardern é bacharel em comunicação política.

Por outro lado, os três países com mais casos de coronavírus –  Estados Unidos, Rússia e Brasil –  são liderados por homens de egos tão inflados que desprezam a ciência e os conselhos das vozes da razão. Magnata, Czar e Messias: todos se achando invencíveis devido a um vírus, que causaria uma "gripezinha". E estão pagando o preço da prepotência, por terem abandonado o caminho da ciência em favor de ideias obscurantistas, que misturam superstição com uma dose de pseudo-religiosidade. Minto. São os cidadãos desses países que estão pagando o preço, em milhares de mortes.

"O vírus tá aí, vamos ter de enfrentá-lo, mas enfrentar como homem, pô, não como moleque", disse o presidente do Brasil. Para isso, promoveu um dia de oração contra o vírus, medida muito superior ao isolamento social feito nos países governados por mulheres. Depois da tentativa das orações, veio o remédio milagroso, revelado pelo Messias (é óbvio que o messias deve apresentar o milagre, para justificar seu nome): a cloroquina, um medicamento sem eficácia comprovada, como o próprio presidente admite. Mas, "pior do que ser derrotado é a vergonha de não ter lutado", segundo Jair Bolsonaro. Orem e, depois, morram como heróis, bravos brasileiros!


Havia a falsa esperança (e promessa) de um governo técnico, sem ideologia. Mas na área de saúde, onde mais se precisa de liderança técnica, os ministros técnicos foram dispensados por terem feito uma gestão meramente técnica. E por não terem defendido as ideias messiânicas do presidente.

Há no mundo três líderes defendendo o uso da cloroquina:

1. O magnata Donald Trump, que, depois de aconselhar as pessoas a tomarem uma injeção de desinfetante contra o vírus, agora disse tomar cloroquina como profilaxia.

2. O maquinista de metro Nicolás Maduro, líder da Venezuela, que já disse que seu falecido tutor Hugo Chávez lhe aparece em forma de passarinho. Se tal acontecimento se realizou depois de ele ter tomado a cloroquina, não se sabe.

3. O capitão reformado Jair Messias Bolsonaro, que, como deputado, liderou o projeto para aprovar a fosfoetanolamina sintética, a chamada "pílula do câncer". O produto, ainda sem a eficácia comprovada, foi barrado pelo Supremo Tribunal Federal (STF).

O Ministério da Saúde está agora interinamente nas mãos de um general com vasta experiência em logística, mas sem experiência na área de saúde. Foi ele que, finalmente, seguiu o desejo do presidente de incluir a cloroquina e seu derivado hidroxicloroquina no protocolo de tratamento para pacientes com sintomas de coronavírus. Mesmo admitindo que não há comprovação da eficácia. Fica a dica do presidente: "Quem é de direita toma cloroquina, quem é esquerda, tubaína".

Seria cómico se não fosse trágico. Mas, para ser sincero, já estava claro desde o começo que não se podia esperar muita coisa desse governo, muito menos políticas sérias baseadas na ciência e na razão.

Há, no entanto, uma grande decepção com a ala militar do governo. Esperava-se dela segurar as loucuras da ala ideológica. Afinal, há uma longa tradição científica dos militares brasileiros. Houve uma época em que eles lideraram a marcha da modernidade, hasteando a bandeira do positivismo, do lema "Ordem e progresso". Defenderam a ideia de que o conhecimento científico deveria ser a base da sociedade e não as orações e remédios milagrosos. O Brasil voltou para a Idade das Trevas.
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Thomas Milz saiu da casa de seus pais protestantes há quase 20 anos e se mudou para o país mais católico do mundo. Tem mestrado em Ciências Políticas e História da América Latina e, há 15 anos, trabalha como jornalista e fotógrafo para veículos como o Bayerischer Rundfunk, a agência de notícias KNA e o jornal Neue Zürcher Zeitung. É pai de uma menina nascida em 2012 em Salvador. Depois de uma década em São Paulo, mora no Rio de Janeiro há quatro anos.

Thomas Milz | Deutsche Welle | opinião

1 comentário:

Alexandre disse...

José Serra não era médico e foi um bom ministro da Saúde, a saúde precisa de gestão, médicos devem ter condições de trabalho gerada por um gestor. Ninguém sabe qual é o remédio que cura o vírus, mas a Cloroquina salvou um amigo meu de 52 e uma amiga de 82, ambos estão em seus lares salvos dessa moléstia. O Governo Federal não vai obrigar ninguém a tomar tal medicamento, mas permitirá que quem o queria o faça. Jair Bolsonaro entrou no governo apenas pelo fato de a esquerda ter fracassado em seus longo e mal-sucedidos mandatos, fonte de extrema corrupção. Se tivessem trabalho com amor ao meu país, ele ainda seria um deputado do tal baixo clero. Bolsonaro pegou um país estrupado pela corrupção. Veio para incomodar pessoas como essa que escreveu tal bobagem acima e tantos outros que se encontram no poder. A Fé é uma ferramenta humana cedida por Deus, onde a Ele nos ligamos, onde nos fortalecemos, mas o autor e o blogueiro não são obrigados a acreditar nisso, mas a respeitar. Quando uma luz chega e cresce, muitas sombras surgem, mas essa ideia de retorno as trevas é uma bobagem sem tamanho. Se o Brasil o atemoriza, espere normalizar as condições de embarque em aviões e fuja daqui. Simples! Vocês vão se esgotar de tanto desmoralizar Jair, como tantos outros o fazem , mas se ele seguir em seu jeito de ser, vocês sempre sairão perdedores. Por qual motivo não fala de governadores que tentam engessar a economia de seus estados? Um texto imundo que não acrescenta soluções, apenas pensamento aquém do medíocre. A solução é trabalhar em benefício de algo maior, afastar de mentes esquerdistas, assistir com mais atenção ao que o presidente fala e não trechos de dizeres dele. Que o presidente e sua equipe sigam firmes nessa batalha contra o que não presta!

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