Para a ministra da Saúde, é o
«relaxamento nas pausas do trabalho» que explica os novos casos em Lisboa
e não o facto de milhares de pessoas irem para o trabalho em
comboios que não cumprem a lotação exigida.
AbrilAbril | editorial
«Tudo leva a indicar que não
serão os incumprimentos das regras gerais pelas estruturas laborais que estarão
a originar provavelmente estes focos, mas, sim, algum relaxamento, alguma
descontração, nos momentos que não são momentos de trabalho formal», disse
ontem a ministra da Saúde, Marta Temido, em relação ao aumento do número de
casos na região de Lisboa e Vale do Tejo.
Não será ingenuamente que a
ministra escolhe apontar o dedo ao que fazem os trabalhadores nas suas pausas,
contrapondo esses momentos ao tempo de trabalho efectivo, onde as medidas de
segurança seriam cumpridas e não haveria lugar a contágio.
Os trabalhadores, fora da
«tutela» do patrão, põem-se em risco quando vão almoçar juntos, põem-se em
risco quando trocam de roupa. Sugere ainda que «há indícios» de que alguns
vêm juntos de carro, utilizando transportes colectivos mas não
transportes públicos...
Marta Temido coloca-se, sem
hesitações, do lado dos patrões e utiliza os seus argumentos. Não apresentando
provas que suportem as suas insinuações, estas não passam de um posicionamento
com uma intenção velada: desviar as atenções do facto de muitas empresas não
garantirem as normas de protecção aos seus empregados e de o Governo não
garantir que os transportes públicos permitam deslocações feitas em segurança.
Na imagem:
Marta Temido, ministra da Saúde, na conferência de imprensa diária, a 23 de Maio de 2020. | Imagem: António Pedro Santos / Lusa
Marta Temido, ministra da Saúde, na conferência de imprensa diária, a 23 de Maio de 2020. | Imagem: António Pedro Santos / Lusa
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