quinta-feira, 21 de maio de 2020

Portugal | Ricardo Salgado continua na boa vida e na boa-vai-ela


Expresso Curto para mitigar saudades daqueles que nos escreveram a perguntar o que se passava. “Então, agora, já não publicam nada do Expresso? E aquelas “entradas” antes de publicaram o Curto?” Perguntou um habitual leitor do PG. Então está bem. Futuramente não vamos estar “tanto tempo” sem abordar o Curto. É aquilo que queremos garantir.

Evidentemente que para além da nossa vontade e intenções existem condicionantes que poderão impedir ao que nos propomos. Quais? Pensem bem: podemos não ter com que pagar a Internet que a operadora nos fornece, pode o Expresso avançar com uma qualquer legalidade por andarmos aqui a divulgar os trabalhos dos seus jornalistas e outros, pode acontecer dar-nos o badagaio e juntarmos os pés para irmos para o forno do lisboeta Alto de São João… Ena, pode acontecer tanto contratempo. Pois, mas enquanto não, lá vamos, cantando e rindo, enganados, enganados sim…

Sobre o constante a seguir, no Curto de hoje, a obra é de David Dinis, salientamos o que ele salienta logo à cabeça: os milhares de milhões de euros que o Super DDT levou-nos dos bolsos, das carteiras, das magras contas bancárias que muitos tinham e outros muitos nunca tiveram. Falamos do Dono Disto Tudo, como garbosamente se sentia e decerto que ainda se sente. Pelo menos, que é dono da Justiça em Portugal… Lá isso é. É porque o que transparece é que depois de tantas trafulhices, depois de enormes burlas, roubos, corrupção (até com jornalistas que nunca viremos a saber quem são os safados) Ricardo Salgado continua na boa vida e na boa-vai-ela gozando de descarada e escandalosa impunidade, em total liberdade, tal cotovia que logo pela manhã faz uma xinfrineira desgraçada assim que começa a clarear e sol surge e ascende a desafiar Ícaro.

Mas Salgado não desafia. Ordena. Não sabemos ao certo como nem porquê mas o que transparece para a populaça é que nem juízes nem os demais dessa coisa estrambólica a que chamam justiça se atrevem a fazer mesmo justiça. Antes preferem agarrarem-se aos alçapões que permitem liberdades totais para ladrões ricos, muitos ricos – com o que é dos outros.

Pois.

Com outros preceitos David Dinis aborda o tema e o ladrão maganão que se ri de todos os que esfregaram as mãos de satisfação por vê-lo em antecipação a ver o sol aos quadradinhos em cela de luxo abundante de lixo que Salgado personifica e de que deu provas ser.

Que se há-de fazer? Ele era e é dono da Justiça, pelo visto e comprovado. Surpresos? Ora, a bandidagem, as seitas, a seu modo mandam em tudo ou quase em tudo… Até um dia.

A nota final cabe ao “pezinho” que Rui Rio tem a fugir para Ventura. Não se vislumbra semelhança… Mas de escroques pode ser que haja quem perceba melhor que outros, que é o que dizem amiúde sobre Ventura. Rio, entradote na idade, já deu provas de que é do atual e prejudicial sistema que nos tem reféns, mas defensor de algumas liberdades em vigor. Aquela democracia que sabemos enganosa e vilmente prostituta e exploradora, fotocopia do atual e moderno esclavagismo.

Quanto ao Novo Banco, desde o primeiro minuto que é um embuste. Criado pelos embusteiros dos bancos e das ilhargas. Serviu o embusteiro governo de Passos Coelho/Paulo Portas. Quer dizer: o PSD e o CDS... O governo PS deu~lhe seguimento. A UE adora embustes. Porque ela própria é isso mesmo, um embuste recheada de embusteiros e piores.

Bom dia. Um bom queijo e bom desconfinamento, com cuidados, com cabeça, com conta e medida.

Saúde. Vão para o Curto, do Expresso. Tem que se lhe diga.

MM | PG



Rui Rio tem um pezinho a fugir para o Ventura

David Dinis | Expresso

"São sete mil milhões mil milhões em impostos sem que a justiça tenha tido a capacidade de julgar quem quer que seja"
"É o maior crime de colarinho branco cometido em Portugal"
"A forma eficaz como o Conselho de Administração tem conseguido sacar dinheiro ao Estado"
"Houve ou não calotes para receber mais dinheiro do Estado?"
"Eu quase que sei o que aconteceu [no Novo Banco]
"

Ontem, no debate quinzenal, Rui Rio usou todos estes termos para relançar a discussão sobre o Novo Banco. O tema é quente, sabemos como agitou o Governo. Mas o líder do PSD fez menos para atacar o Executivo ou António Costa do que para pôr em causa o próprio banco e, até, a investigação judicial que está em curso. É um modo particular de fazer política para o principal partido da oposição.

Não é fácil classificar o método de Rui Rio. Um dia, apresenta-se como agente político de responsabilidade máxima, disposto a apoiar o Governo no combate à epidemia, travando até as críticas do próprio partido; no outro, o mesmo Rui Rio usa de todos os meios para criticar as instituições do país - sobretudo onde as sente mais frágeis oi impopulares.

A banca, sabemos, é uma delas. Na crítica de ontem, Rui Rio fez como nas conversas de café se faz: misturou dúvidas pertinentes com insinuações e julgamentos pré-concebidos. Para pôr em causa a célebre transferência de 850 milhões de euros, tão badalada na semana passada. Bastaram 30 segundos para que Catarina Martins, do Bloco de Esquerda, pusesse em causa a base da sua argumentação: se era assim tão má (a transferência), por que é que o PSD não votou o projeto do Bloco que fazia depender todas as transferências para o Novo Banco da autorização do Parlamento? Rio já não tinha tempo para responder, mas é fácil antever a resposta (que não poderia dar): por que isso empurraria o Novo Banco para a sua segunda crise sistémica em seis anos, desta vez por responsabilidade dos políticos. O preço seria elevadíssimo, também para ele - como político e como contribuinte.

A Justiça, já sabemos, é outra instituição que Rui Rio nunca hesita em criticar. Sabendo que até hoje (quase seis anos depois da resolução do BES) não há ainda uma acusação, o líder do PSD também sabe quão complexa é a investigação. Assim como sabe (ou devia saber) que uma investigação é uma investigação e que, numa Democracia, ninguém é culpado antes dela -muito menos antes de ser julgado. A ouvi-lo, ninguém diria.

O líder do PSD não hesita em apontar o dedo à banca, nem à Justiça, assim como não hesita em atacar os media. Já os equiparou a "fábricas de calçado" quando criticou pela primeira vez o pacote de apoio que o Governo lhes destinou. Esta semana, porém, quando viu os números desses apoios, Rui Rio disparou mais um Tweet - aquela arma política que ficou colada à imagem de um outro político, do outro lado do Atlântico: “15 milhões de impostos para ajudar a pagar programas da manhã e o Big Brother”, disse ele. Não vale a pena explicar a Rui Rio que está a tomar a árvore pela floresta. Mas vale a pena registar a resposta de Nuno Artur Silva, secretário de Estado da Comunicação Social, nesta entrevista ao Expresso ontem: “Ele próprio foi a um programa da manhã”. O líder do PSD respondeu com outro tweet, noite fora: "Olha! Este acha que os sítios onde vou merecem subsídio público!". Eu não, só acho que Rui Rio brinca com coisas sérias.

Por isso, e como Rui Rio tem um pezinho a fugir para o Ventura, registo o que escreveu Thomas Jefferson em 1787, no momento fundador da Democracia americana:

"O povo é o único censor dos seus governantes. E até seus erros tendem a mantê-los dentro dos verdadeiros princípios de sua instituição. Punir esses erros com muita severidade seria suprimir a única salvaguarda da liberdade pública. A maneira de impedir essas interposições irregulares do povo é dar-lhes informações completas sobre os seus assuntos através dos jornais, e conseguir que esses jornais cheguem a toda a massa do povo. Sendo a opinião do povo a base do nosso governo, o primeiro objetivo deve ser manter esse direito; e se me fosse dado a decidir se deveríamos ter um governo sem jornais ou jornais sem governo, não hesitaria um momento em preferir o último. Mas com isto quero também dizer que todos os homens devem conseguir receber esses jornais e serem capazes de lê-los."

Eu, como escrevo aqui no Expresso e estou a escrever para si, acho que não preciso de acrescentar mais nada.

AS NOTÍCIAS

Bruxelas deixa um recado a Lisboa sobre a TAP: "Esperamos que os Estados-membros apoiem as suas companhias aéreas”, diz o vice-presidente da Comissão Europeia ao Expresso, um dia depois de Pedro Nuno Santos afirmar que a insolvência não está afastada.

Costa sacudiu o Novo Banco para as costas do Banco de Portugal. Foi assim, no debate quinzenal de ontem.

Há um novo caso, no Novo Banco: Há dois anos que os líderes do Novo Banco têm direito a salários acima do limite de Bruxelas, explica o Diogo Cavaleiro.

Houve um erro no apoio aos media: a verba para o Observador sobe de €20 mil para €90 mil. Mas a polémica mantém-seNuno Artur Silva diz ao Expresso não compreender porquê. Para avaliar por si, estes são os critérios e as críticas.

As presidenciais estão a (fazer) arder (os partidos): se Costa quer evitar o tema na reunião de hoje da direção do PS (diz o Público), Carlos César ontem atacou Ana Gomes sem medir palavras; Luís Fazenda avisou Catarina Martins; e Miguel Albuquerque pôs o PSD em sobressalto (mas Rui Rio já marcou um almoço para tratar do assunto, com Marcelo a deixar-lhe um elogio).

E as regionais dos Açores passam a ser um problema para o PSD: o ex-presidente do PSD/Açores é suspeito de financiamento ilegal de campanha eleitoral.

A Cultura vai gritar por socorro. Hoje é dia de lutar pela sobrevivência.

Os socialistas procuram um ombro. O PS propôs uma comissão para acompanhar resposta à crise económica e social, horas depois de a Comissão Europeia lhe ter sugerido um plano de emergência e de os partidos terem dado tiros de aviso para o Retificativo (aqui, a síntese do Negócios).

Marcelo sugere mais apoios. A ideia é o lay-off continuar por mais um tempo, para que o desemprego não suba ainda mais. O primeiro-ministro ainda hesita sobre que modelo seguir.

Os ginásios estão aflitos. O sector pede urgência na reabertura e só não quer exercício com máscara.

Mas há mais quem não saiba ainda quando pode abrir: eis o que se sabe e o que falta saber sobre ginásios, discotecas, bares, concertos, teatro, cinema e viagens de avião.

Em outubro, as escolas devem funcionar num registe misto: entre aulas presenciais e digitais, diz o ministro da Educação, em entrevista ao Público e Renascença.

Já os tribunais, vão ter o mesmo mês e meio de férias, independentemente dos atrasos, confirma a ministra da Justiça (no JN).

Na saúde pública, há um perigo adicional: 11% dos infetados dão negativo nos testes de diagnóstico. Parece que “não podemos confiar só nos testes para tomar decisões”.

Na Europa vamos menos mal: o desconfinamento não parece estar a afetar os números da pandemia.

Mas no mundo o caso é bem pior: há um novo máximo de casos num só dia. Só no Brasil foram mais 17 mil. A marca dos 5 milhões de casos acaba de ser ultrapassada.

O futebol tem um copo meio cheio. Há nove estádios aprovados para jogar - e seis onde não pode haver bola a rolar.

Mas também há uma boa notícia: Tempo quente até terça-feira - as temperaturas máximas vão estar acima de 30 graus.

E uma notícia boa: eis os segredos do pregador Ventura, contados hoje pela Visão: os poderosos lóbis evangélicos, as ligações ao setor imobiliário, as influências neofascistas, as milícias digitais e o percurso controverso de dirigentes.

AS FRASES

"O Novo Banco não é público e o Estado não o gere, nem o supervisiona, nem audita as contas”. António Costa, no debate em que virou o discurso sobre a transferência dos 850 milhões de euros.

"[O papel do Presidente da República] não é servir nem de charneira, nem de salva-vidas, nem de bengala do governo". Miguel Albuquerque, no dia em que pôs a Madeira de bicos de pés para as presidenciais de 2021.

"O caminho é alargar, não é estreitar". Francisco Rodrigues dos Santos, no momento 'a manta é curta' do CDS, assinalando a reintegração de Manuel Monteiro como militante do partido.

“Regina Duarte relatou que sente falta de sua família, mas para que ela possa continuar contribuindo com o Governo e a Cultura Brasileira, assumirá, em alguns dias, a Cinemateca em São Paulo". Jair Bolsonaro, oficializando a saída da atriz Regina Duarte do seu Governo, poucos meses e muitas polémicas depois de ter entrado.

O QUE ANDO A LER

O nome talvez não lhe diga nada: Michael Flynn. Foi ex-conselheiro de Donald Trump para a segurança nacional, foi demitido poucas semanas depois de tomar posse - ainda em janeiro de 2017. Flynn confessou ter mentido ao FBI, na investigação sobre as ligações de Trump à Rússia e sobre a sua participação num esquema que ajudaria à eleição do atual Presidente.

Depois, a investigação acabou. E Trump escapou, sem uma acusação formal - apesar das suspeitas claras que ficaram no documento final.

Flynn, entretanto, mudou de advogado e deu o dito por não dito. Trump chegou a admitir perdoá-lo, mas o seu procurador-geral (que na América é também ministro da justiça) fez o trabalho sujo: ignorando a confissão, passando por cima do crime, abriu uma investigação à investigação do FBI, deixou cair as acusações a Flynn, abriu a porta a que Donald Trump pudesse reintegrá-lo na equipa. Pelo caminho, ainda criou uma teoria da conspiração para atacar Obama, o seu antecessor e apoiante de Joe Biden, seu adversário no próximo mês de novembro.

O que leio nas últimas semanas parece um filme, mas é uma América em desintegração, é uma Democracia a ruir. Nos últimos dias, depois de ter tentado destruir os seus adversários externos, Donald Trump começou a despedir os seus adversários internos: um a um, os inspetores gerais que têm como missão escrutinar as falhas do Governo começaram a receber cartas de saída. O último investigava Mike Pompeo, seu secretário de Estado para os Assuntos Exteriores, por uma alegada venda irregular de armas para a Arábia Saudita.

Nesta mesma América, milhares e milhares morrem às mãos de um Presidente que reagiu tarde à pandemia, que aconselha a tomar medicamentos perigosos, que se alia aos "supremacistas brancos", que ameaça sair de organismos multilaterais, que lança teorias da conspiração contra adversários, que declara “inimiga do povo” a imprensa, que atropela a verdade 18 mil vezes em pouco mais de 1000 dias, que usa o seu ministro da Justiça como arma política para fugir ao escrutínio, que reintegra os seus conspiradores.

Leio tudo na imprensa, aquela de que falava Jefferson nos documentos que fundaram a América há mais de dois séculos. Faltam seis meses para as presidenciais - e sabemos que em dois séculos de uma democracia tão segura como a que descreveu Tocqueville, meio ano não é nada. Mas nestes dias, fazem parecer o fim do mundo como o conhecemos. Venham os votos. E Deus abençoe a América.

Até amanhã.

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