segunda-feira, 1 de junho de 2020

Porto(gal) | É ideologia, sim!


Rui Sá | Jornal de Notícias | opinião

Tem toda a razão Rui Moreira quando se insurge contra os planos da TAP de desprezar completamente o aeroporto do Porto.

E a sua razão está relacionada com o facto de, ponderando-se a injeção de milhões de euros de capitais públicos na empresa, se ter de exigir, como contrapartida, a garantia da defesa do interesse nacional. Se a empresa é privada, o seu objetivo é o lucro, pelo que tem toda a liberdade para escolher as rotas que lhe pareçam mais lucrativas. Mas se a empresa é pública, então o objetivo é servir o interesse nacional, podendo este ser menos lucrativo (ou, no limite, dar prejuízo), mas trazendo benefícios económicos, sociais, políticos (que têm de ser colocados na equação contabilística) para o país.

Aliás, se houve coisa que esta pandemia nos mostrou é a importância do controlo público dos serviços públicos. O êxito do nosso combate à covid-19 deveu-se ao Serviço Nacional de Saúde, dado que o sistema privado desapareceu no início do combate. Esta semana lemos que os operadores privados de transporte rodoviário de passageiros da área do Porto deixaram de prestar grande parte dos serviços (porque não davam lucro!), deixando apeados os utentes, ao contrário do que aconteceu com a STCP e o Metro do Porto, que no essencial os mantiveram.

A questão do controlo destes serviços, ao contrário do que afirmou Rui Moreira, é pura ideologia. Entendo que aqueles que defendem o primado do privado queiram fazer esquecer os factos. Vejo, até, grandes defensores do "menos Estado, melhor Estado" a exigirem apoios do Estado, a fundo perdido, à atividade privada... Mas nós, cidadãos que beneficiamos dos mesmos, não podemos esquecer esta lição: na altura do aperto, foi o setor público que deu resposta às nossas necessidades.

*Engenheiro

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