Rui Sá | Jornal de Notícias |
opinião
Tem toda a razão Rui Moreira
quando se insurge contra os planos da TAP de desprezar completamente o
aeroporto do Porto.
E a sua razão está relacionada
com o facto de, ponderando-se a injeção de milhões de euros de capitais
públicos na empresa, se ter de exigir, como contrapartida, a garantia da defesa
do interesse nacional. Se a empresa é privada, o seu objetivo é o lucro, pelo
que tem toda a liberdade para escolher as rotas que lhe pareçam mais
lucrativas. Mas se a empresa é pública, então o objetivo é servir o interesse
nacional, podendo este ser menos lucrativo (ou, no limite, dar prejuízo), mas
trazendo benefícios económicos, sociais, políticos (que têm de ser colocados na
equação contabilística) para o país.
Aliás, se houve coisa que esta
pandemia nos mostrou é a importância do controlo público dos serviços públicos.
O êxito do nosso combate à covid-19 deveu-se ao Serviço Nacional de Saúde, dado
que o sistema privado desapareceu no início do combate. Esta semana lemos que
os operadores privados de transporte rodoviário de passageiros da área do Porto
deixaram de prestar grande parte dos serviços (porque não davam lucro!),
deixando apeados os utentes, ao contrário do que aconteceu com a STCP e o Metro
do Porto, que no essencial os mantiveram.
A questão do controlo destes
serviços, ao contrário do que afirmou Rui Moreira, é pura ideologia. Entendo
que aqueles que defendem o primado do privado queiram fazer esquecer os factos.
Vejo, até, grandes defensores do "menos Estado, melhor Estado" a
exigirem apoios do Estado, a fundo perdido, à atividade privada... Mas nós,
cidadãos que beneficiamos dos mesmos, não podemos esquecer esta lição: na
altura do aperto, foi o setor público que deu resposta às nossas necessidades.
*Engenheiro
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