terça-feira, 2 de junho de 2020

Portugal | Não aprendem nada


João Rodrigues* | opinião

Houve um tempo em que o Estado tinha centros mais robustos de apoio técnico à decisão política nos ministérios, com gente experiente e conhecedora, pensando estrategicamente para lá da espuma dos dias.

Estou a pensar, por exemplo, no Gabinete de Estudos Básicos de Economia Industrial (GEBEI) do Ministério da Indústria. O GEBEI de João Cravinho ou Félix Ribeiro foi destruído pelo cavaquismo. Não foi obviamente o único caso de esvaziamento deliberado da capacidade estatal, mas foi um caso recentemente estudado.

O Estado não precisava de política industrial digna desse nome e os estudos podiam ser de qualquer forma encomendados a peso de ouro aos Porters e às consultoras dos powerpoints desta dependente e medíocre vida. As leis podiam ser feitas em grandes escritórios de advocacia de negócios e assim sucessivamente.

Lembrei-me deste padrão a propósito da contratação de António Costa Silva, desta feita a custo zero, para definir a política de investimento para a recuperação ou lá o que é. Como se uma estratégia pudesse ser definida desta forma, em desgarrado modo individual de toca e foge, apenas porque parece que o Primeiro-Ministro ficou impressionado com umas intervenções geopolíticas deste alto quadro do capitalismo fóssil.

Não aprendem mesmo nada. É que aprender dá muito trabalho político-institucional.

*João Rodrigues em Ladrões de Bicicletas – 1 de Junho de 2020

Na imagem: António Costa e Silva

Sem comentários:

Mais lidas da semana