Manuel Molinos* | Jornal
de Notícias | opinião
O pequeno passo atrás dado agora
com o dever cívico de recolhimento domiciliário em 19 freguesias de Lisboa não
é só fruto de descuido ou falta de civismo. É também resultado de contradições
e dualidade de critérios políticos e sanitários.
Será que muscular as leis e as
forças de segurança trava o ressurgimento de casos de covid, em Portugal ou em
qualquer outro país? A ver vamos. Certo é o ruído político e a conflitualidade,
também legislativa, que as medidas vão provocar.
As multas para travar os
ajuntamentos de pessoas além do limite permitido atribuem, implicitamente, aos
jovens a culpa pelos novos surtos. Apontar o dedo aos mais novos, fechar
estabelecimentos comerciais mais cedo ou acabar com a venda de bebidas
alcoólicas nas lojas de conveniência até pode refrear os profissionais dos
comentários. Mas não resolve o problema. Este ainda persiste nos transportes
públicos e nas habitações sobrelotadas e naqueles que nunca puderam, nem vão
poder, ficar em teletrabalho.
O reforço de 90% nos autocarros
da Grande Lisboa a partir de segunda-feira, anunciado ontem, foi tardio. Assim
como o programa para melhorar as condições de sanidade dos bairros. Como é
discutível que os bares sejam um problema e não uma solução e ainda estejam de
portas fechadas, mesmo depois de terem apresentado ao Governo um guia de boas
práticas.
E é ainda necessário que as
mensagens cheguem aos destinatários. Que sejam claras, oportunas e coerentes.
Se os mais velhos já tiveram momentos em que não percebiam exatamente o que
lhes era transmitido (ora a máscara não é necessária, ora já é, ora até é
imprescindível), os mais novos também ficaram confusos com as variáveis do
desconfinamento. O esforço para entender como eles percebem e vivem o momento
atual também não foi grande.
Aliás, o caricato post (para não
o batizar de centralista ou dar-lhe outra classificação) da Direção-Geral da
Saúde no Facebook com algumas recomendações para o São João, já depois da noite
do santo popular ter acontecido, é revelador de uma comunicação nem sempre
assertiva.
* Diretor-adjunto
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