quarta-feira, 15 de julho de 2020

"A minha pátria é a língua portuguesa"… de Portugal


Jornalistas e outras gentes "ridículas" atiram a língua portuguesa para o contentor do lixo e agitam até sairem de lá odores pestilentos e a língua portuguesa sacaneada, abandalhada, em aglomerado impregnado por uma grande alhada… Mas parece que agora isso é moderno, é moda, as gerações jovens avançam despudoradamente no crime de lesa-língua de Portugal (pt).

Tomemos em consideração que se fossem só uns quantos a usarem a prática, ainda podíamos não dar importância à evidência que constatamos em cada esquina, em cada programa de rádio ou de televisão, em cada jornal por que passeamos o olhar e a audição, mas não, acontece assim amiúde, é uma tendência rasca que no caso dos que manuseiam a língua portuguesa quotidianamente, que devem saber representar a defesa da língua portuguesa – os jornalistas entre tantos – são muitas vezes os piores agentes da sua defesa, do respeito que todos lhe devemos. Estrangeirismos a eito e usados por quase nada é com o que deparamos na comunicação social de Portugal. Uns mais que outros mas sem dúvida que prática de demasiados no atropelo, na bagunça e – para tantos – na cagança de usarem a língua de William Shakespeare em vez de aplicarem e respeitarem, como portugueses que escrevem para portugueses, a língua de Luís de Camões. A bem chamada “língua-pátria”.

O resultado desta bagunça e trato de polé da língua portuguesa está à vista para quem estiver atento. Já vimos crianças a expressar-se sistematicamente em português do Brasil apesar de as suas fundações assentarem em Portugal, apreenderem na escola em português (pt) – resultado de tanto ouvirem e verem canais de programas infantis e/ou recreativos em português do Brasil (br). Muitas vezes acontece que até os pais e amigos também já falam assim (supostamente fruto das novelas) … A aplicação de termos em inglês também vai acontecendo. Cada vez mais… Demasiado.

Tal situação faz impressão, pelo menos, aos que consideram devermos usar o melhor e mais corretamente possível o português (pt) e fazê-lo “crescer” em qualidade.

O ínfimo mau exemplo está na peça da jornalista do Expresso que transcrevemos a seguir, como às vezes costumamos. Raquel Moleiro, da “oficina” do tio Balsemão, ali coordenadora de sociedade, usa o termo anglófono “silly seasson” para referir-se ao período dos meses de verão em que existe escassez de notícias, maior incidência de gozo de férias – os países a funcionarem a meio-gás. O termo pode traduzir-se “estação ridícula”, segundo a Infopédia. Diz mais: “Expressão inglesa que designa o período do ano de menor intensidade informativa nos media, geralmente o período de verão. Pode ser traduzida por "estação ridícula". Nesta altura, os critérios de seleção jornalísticos tornam-se mais flexíveis, passando a considerar como relevantes assuntos que, geralmente, não constituiriam objeto de notícia.”

Em tempo de avançar com o Curto de hoje, que nem por isso é ridículo, nem encontramos escassez de notícias, considerámos dever fazer notar o mau-trato do português em vigor. Não só neste caso ínfimo de “silly seasson” referido e a que fazemos reparo… se fosse só este e só hoje. Mas não. Está a criar raízes a colonização da anglofonia na língua portuguesa (pt), assim como está a criar graves raízes a neocolonização daqueles que colonizámos, o Brasil p.ex.. Os povos dos países lusófonos merecem todo o respeito no seu português com pronúncias próprias, e são bem-vindos à língua de Camões assim identificados, personalizados. Outra coisa, prejudicial para a língua, é os portugueses de Portugal se tornarem assimilados permanentes das pronuncias que violam o berço luso da língua de Camões, que deve ser defendido pela sua riqueza e permissão na diversidade usada por outros povos, afinal lusófonos mas com sotaques personalizados que marcam o seu carácter, longitudes e latitudes em que nasceram e onde vivem.

Recordamos, como é conhecida, a afirmação de Fernando Pessoa: “A minha pátria é a língua portuguesa”. De Portugal – acrescentamos, a propósito da abordagem.

Eis finda – porque longa - uma abertura PG para o Curto do Expresso que muito provavelmente vão considerar inútil e xaroposa… Propondo que comecem a dar atenção ao português que se fala e escreve em Portugal – não só os jornalistas mas sim todos. Finalmente deixamos que sigam para o trabalho de Raquel Moleiro. Interesse-se. Vale.

Bom dia e bom sol e calor. Proteja-se de tudo… e até das abundantes “calinadas” no português (pt) que por aí podemos apanhar como se fossem praga ou virose..

SC | PG




Bom dia, este é o seu Expresso Curto

Verão (quase) azul, Salgado e nada ‘silly’

Raquel Moleiro | Expresso

Nunca teve uma data exata para surgir, mas era certo que despontava com sol e calor, gostava de areia nos pés e alimentava-se de períodos prolongados de ócio. Com as escolas fechadas, a Justiça a um dia da pausa estival e o campeonato de futebol quase resolvido, a silly season já devia estar a dar os primeiros ares da sua graça no panorama nacional. Mas nem com os termómetros a rondar os 40 graus ela aparece. É como se a nova normalidade tivesse omitido essa valência, riscou-a do calendário com a mesma assertividade com que eliminou (para já) os festivais de Verão, os bares e discotecas noite dentro, as praias forradas a multidão. Há uma emergência de saúde pública mundial que teima em não abrandar (ou mesmo regressar onde já foi cruel) e uma crise económica que por enquanto só deixou ver uma pontinha da desgraça. No arranque da segunda quinzena de julho, ainda não há tempo de antena para futilidades.

As férias judiciais começam amanhã e o Ministério Público fez questão de se despedir com tal estrondo que as ondas do impacto ainda deverão sentir em setembro, quando reabrirem os tribunais. Ontem à noite, já perto das 21h, seis anos e dois dias após o afastamento de Ricardo Salgado do BES, o Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP) deduziu acusação contra 25 arguidos (conheça aqui, um a um), no âmbito do processo “Universo Espírito Santo”, por crimes económicos e financeiros que causaram prejuízos de 11,8 mil milhões de euros, explica o MP num comunicado de três páginas, onde revela que abriu pelo menos mais três processos relacionados com a derrocada do grupo, um dos quais relacionado com políticos estrangeiros.

Salgado, outrora conhecido como o dono disto tudo, líder do BES entre 1991 e 2014, aparece como o mentor de uma alegada associação criminosa, acusado pela equipa do procurador José Ranito de 65 crimes, entre os quais 29 de burla qualificada e 12 de corrupção ativa, a que se juntam infidelidade, manipulação de mercado, branqueamento de capitais e falsificação de documentos. De acordo com o Público, do saco azul do GES saíu dinheiro para pagar campanha de Cavaco e ao atual presidente da TAP.

O despacho tem 4117 páginas, conseguindo ultrapassar as 4083 da Operação Marquês, que envolve José Sócrates. Entre os acusados há mais três elementos da família Espírito Santo, e um arrolado como testemunha de acusação: José Maria Ricciardi, que cedo entrou em rutura com o primo Ricardo Salgado. “Não podia na altura sequer imaginar a extensão e gravidade das fraudes e crimes praticados e dos prejuízos causados a terceiros”, diz.

Já eram quase 23h quando a defesa do antigo banqueiro reagiu. Num comunicado assinado pelos advogados Francisco Proença de Carvalho e Adriano Squilacce, afirma-se que o conteúdo do despacho “falsifica” a história do Banco Espírito Santo (BES), que Ricardo Salgado “não praticou qualquer crime” e que não houve lesados enquanto este esteve à frente da instituição.

O tema vai certamente dominar o dia (ou dias), e não é por falta de concorrência. Esta quarta-feira, PCP e Bloco de Esquerda reúnem-se com António Costa. Da agenda constam dois temas que poderão determinar o futuro da estabilidade governativa: o Orçamento do Estado para 2021 e o plano de recuperação económica. O primeiro-ministro não esconde que quer entendimentos à esquerda.

No Parlamento os holofotes viram-se para Mário Centeno. É votado o relatório descritivo da audição do ex-ministro à Comissão de Orçamento e Finanças, realizada no passado dia 8. Mas daí não sairá nenhum travão à sua nomeação para Governador do Banco de Portugal. Trata-se de um mero pró-forma do processo. O documento é omisso sobre a adequação de Centeno à sucessão de Carlos Costa e a simples transcrição da audição ocupa cerca de 91% das 61 páginas, quase 27 mil palavras, 159 mil carateres. Foi redigido em tempo recorde para tentar adiantar-se à providência cautelar da Iniciativa Liberal que acabou ontem rejeitada pelo Supremo Tribunal Administrativo.

Há ainda uma notícia já adiada duas vezes, e que poderá concretizar-se hoje, tornando o Verão azul, além de Salgado. Ontem, a vitória do Benfica por 2-0 frente ao Vitória de Guimarães não permitiu ao Futebol Clube do Porto festejar a conquista do campeonato (com a contenção ditada pela pandemia). Será que se sagra campeão frente ao Sporting? Basta-lhe somar um ponto.

OUTRAS NOTÍCIAS

Assim vai a pandemia. Portugal registou ontem o número de casos mais baixo dos últimos oito dias (233), o maior número de recuperados em quase dois meses e o registo da região de Lisboa é o melhor desde 25 de maio, com 61% do total de novas infeções a nível nacional (veja aqui os gráficos e mapas). Fernando Medina pede freios no entusiasmo e Governo vai no mesmo sentido, tendo aprovado terça-feira, na reunião extraordinária do Conselho de Ministros realizada por via eletrónica, a manutenção, até ao final do mês, da situação de alerta na generalidade do continente, de contingência na Área Metropolitana de Lisboa e de calamidade em 19 freguesias. Foi igualmente decidido que a fase final da Taça de Portugal não terá público e a aplicação de coimas de 2 mil euros por cada passageiro que chegue de países de risco sem teste covid feito, a pagar pelas companhias aéreas.

Nos Estados Unidos, a vacina da empresa de biotecnologia Moderna mostra resultados promissores na primeira fase de testes, com todos os voluntários 'cobaias' a apresentar defesas. Fase final começa a 27 de julho. A conquista, porém, pode ser enfraquecida pela recente descoberta de que a imunidade dos infetados pode desaparecer em poucos meses, e o mesmo deve suceder com os vacinados, revela um estudo realizado por investigadores do King's College, em Londres.

A COVID-19
já matou pelo menos 574.278 pessoas e infetou quase 13,2 milhões em196 países desde dezembro de 2019. Nas últimas 24 horas, o Brasil (733), os EUA (713) e a Índia (553) foram os que registaram mais óbitos.

Operação Saco Azul. São quatro os arguidos no processo que investiga um possível crime de fraude fiscal praticado pelo Benfica. Além da SAD, da Benfica Estádio e de Luís Filipe Vieira, a investigação também levou à constituição como arguido do administrador financeiro, Domingos Soares de Oliveira. CMVM suspende ações do Benfica à espera de informação.

Bebés vendidos na Net. Casal do Porto concebeu quatro filhos para os comercializar online 'como se fosse mercadoria'. Daniella Neto, pasteleira, e Jaime Moreira, pedreiro, estão acusados de tráfico de pessoas e falsificação de documentos e conhecem hoje a sentença. As crianças vivem atualmente em França e na Suíça e não vão ser retiradas aos 'pais' que as compraram.

Negro Castro Verde. Cerca de três por cento da área da Reserva da Biosfera da UNESCO em Castro Verde (Beja) ardeu no fogo que consumiu dois mil hectares no concelho. No combate às chamas ficaram feridos cinco bombeiros, dois dos quais com gravidade. O ministro da Administração Interna determinou a abertura de um inquérito.

O novo comandante. Rui Manuel Carlos Clero, de 58 anos toma hoje posse como comandante-geral da GNR. Substitui no cargo o tenente-general Luís Botelho Miguel, que atingiu o tempo limite no posto.

O fim da central. Faltam seis meses para o encerramento definitivo da central termoelétrica de Sines, durante anos um dos maiores emissores de dióxido de carbono do país. Com o fim, acaba também a água quente da praia de São Torpes, usada para refrigerar os condensadores, antes de a devolver ao mar. As histórias de 35 anos de história contadas aqui pelo Miguel Prado.

Limpeza de fachada. A Santa Casa da Misericórdia do Porto vai investir meio milhão de euros na limpeza da fachada do hospital de Santo António, da autoria do arquiteto inglês John Carr, classificado Monumento Nacional desde 1910. A intervenção é divulgada hoje, 250 anos depois do lançamento da primeira pedra do edifício – que nunca foi limpo.

Sobe o pano no Maria Matos. O teatro de Lisboa reabre esta quarta-feira, quase dois anos depois de ter encerrado como equipamento municipal. Concessionado a privados, leva a palco a reposição do musical Avenida Q (até 1 de novembro), que esteve em cena em 2017 no Teatro da Trindade e no Casino de Lisboa e, em 2018, no Teatro Sá da Bandeira, no Porto.

Disneyland abre, Disneyland fecha. A Disneyland Paris volta a abrir portas hoje, mas de forma parcial (sem parada e espetáculo de luzes), faseada e com regras de distanciamento. Os bilhetes só podem ser adquiridos online, não há abraços às personagens que se passeiam pelo recinto e as máscaras são de uso obrigatório para maiores de 11 anos. Em sentido contrário, a Disney encerra o seu parque em Hong Kong devido ao aumento do número de infeções no território – esteve aberto apenas 27 dias, depois de um primeiro fecho a 26 de janeiro.

FRASES

“Ainda que se pudesse censurar eticamente toda a situação de facto invocado pelo requerente, na realidade não deixa de estar em causa, perante a lei, um ato político, sem que esteja em causa a censurabilidade de qualquer questão de legalidade relativa ao mesmo".

Supremo Tribunal Administrativo, sobre a providência cautelar interposta pela Iniciativa Liberal à nomeação de Mário Centeno para o Banco de Portugal

“Deixai vir o homem de 15 em 15 dias”.
António Filipe, deputado do PCP, a defender a manutenção dos debates parlamentares quinzenais com António Costa.

“O Live Aid arruinou a minha vida”.
Bob Geldof, em entrevista à Associated Press, sobre o concerto de beneficência que organizou em julho de 1985

O QUE ANDO A LER

Não sei quando isto começou. Cresci rodeada de jornais e revistas - e continuo - e fui guardando primeiras-páginas e capas emblemáticas, de momentos históricos, alguns que nem vivi, roubados às Vida Mundial dos meus pais. O 25 de Abril, o ataque às torres gémeas, Timor, a morte da Amália, do Eusébio, o Europeu, Pedrógão...

As mais recentes são da pandemia - não é por ainda estar a acontecer, e se arrastar por um futuro incerto, que deixa de ser um marco. E não sou só eu a pensar assim (o que me dá mais legitimidade para acrescentar exemplares à coleta).

Tropecei recentemente em dois artigos sobre o carater histórico do presente, pelos quais só ainda passei parcialmente os olhos. A revista The Atlantic publicou este mês um ensaio de como poderá ser o capítulo de um livro escolar de História sobre o ano 2020 (How a History Textbook would describe 2020 so far), que apesar de ainda lhe faltar cinco meses e meio para acabar já dá, até ao momento, todo um manual.

Por se tratar de uma revista americana, fala da liderança tumultuosa de Trump, do processo de impeachment rapidamente esquecido devido à crise sanitária e económica em que o mundo mergulhou por causa do vírus chegado de Wuhan, inicialmente ignorado e secundado em importância pelos fogos dantescos que consumiam a Austrália. As datas-chave são do primeiro infetado, do primeiro morto, do primeiro “Temos isto controlado” do presidente americano, do primeiro surto em Nova Iorque. E nos EUA, a história nacional tem outro marco dentro do marco: a morte de George Floyd e o nascimento do movimento Black Lives Matters.

Para assegurar que a História não se perde na voracidade dos dias, conta o New York Times que há atualmente museus a trabalhar non-stop na recolha de artefactos e objetos efémeros da pandemia, como cadernos onde os doentes apontam os sintomas diários da covid, por exemplo. “Os curadores e os arquivistas estão perante um dos maiores desafios da sua carreira: contar a história da Pandemia. E estão a implorar para que os americanos preservem objetos pessoais para a posteridade e, se possível, para enriquecer as coleções museológicas”. Seria uma boa ideia a importar.

Tenha uma ótima quarta-feira. Siga toda a atualidade em expresso.pt

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