Confrontos entre rebeldes e
forças do Governo angolano teriam causado mais de 20 mortos em junho em Cabinda. Ativistas
denunciam que militares estariam a vitimar civis e a operar em território de
países vizinhos.
Organizações que defendem a
autonomia da província angolana de Cabinda consideram reais os alegados
confrontos entre as Forças Armadas Angolanas (FAA) e o braço armado da Frente
de Libertação do Enclave de Cabinda (FLEC).
Segundo relatos de organizações
que advogam pela paz via a autonomia da região, confrontos entre soldados
angolanos e guerrilheiros intensificaram-se nos últimos dias. As incursões
militares atribuídas às FAA terão feito ao menos 23 mortos em junho.
O movimento separatista acusa o
Governo angolano de evitar o diálogo. No domingo (28.06), dois líderes da União
dos Cabindeses para Independência (UCI) foram detidos.
"Ainda não recebemos
informações preliminares por parte dos advogados, haja vista que foram impedidos
de interagir com os detidos. A informação não oficial que temos é que foram
detidos por colarem panfletos pelo diálogo para a paz em Cabinda. A colagem de
panfletos aconteceu na noite de sábado, e a detenção na manhã de domingo em
Bukungoio”, diz.
O secretário-geral da UCI,
Eduardo Matunda, disse que a busca por combatentes da FLEC na região tem
vitimado cidadãos inocentes.
"Quem vive em Cabinda sabe
que se trata de um território muito militarizado. Vive-se um clima de
insegurança total. Vemos todos os dias militares com armas de guerra nas ruas e
isso intimida a população”, analisa Matunda.
Segundo o secretário-geral da
UCI, militares do Governo estariam a atacar constantemente áreas do enclave e a
operar em território de países vizinhos – como República do Congo e República
Democrática do Congo. Matunda garante que tais incursões vitimam inocentes.
"O que acontece aqui em
Cabinda é uma situação caótica”, diz o ativista.
O líder do Movimento da
Reunificação dos Povos de Cabinda para a sua Soberania (MRPCS), Arão Bula
Tempo, confirma o conflito armado no interior da província. O advogado denuncia
que algumas vítimas seriam cidadãos dos dois países vizinhos, suspeitos de
apoiarem os separatistas.
"Quando as nossas forças
[militares do Governo angolano] encontram civis naquelas circunstâncias, não
poupam. Para eles, todo o que for suspeito deve morrer. É o mesmo que acontece
na cidade de Cabinda com os ativistas de movimentos independentistas. Quando
estes apelam que o Governo angolano adote outra postura que não seja pelas
armas, são detidos”, afirma o presidente do MRPCS.
Acordo falhado
O advogado defende o diálogo para
a solução do problema e acredita que o impasse continua por falta de
"votande política” do Governo - que não cumpriu com o memorando de
entendimento.
O acordo visava a adoção de
medidas para mitigar os problemas sociais da província, a construção do porto e
do aeroporto na região e mecanismos para Cabinda beneficiar de pelo menos 1% da
produção local do petróleo e da arrecadação de impostos. Havia o acordo para a
integração dos membros do Fórum Cabindês para o Diálogo no Governo e nas FAA.
"Infelizmente o Governo não
teve esta boa vontade de cumprir com o que foi assinado”, afirma Tempo.
O Governo recusa reagir aos
comunicados da FLEC, que relatam as hostilidades no enclave. Na semana passada,
a União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA) classificou o
silêncio como "insanidade”.
O primeiro-ministro do
"Governo Sombra” da UNITA, o deputado Raúl Danda, diz que o que a FLEC
regista em "vídeos” demonstra que "estão lá de pedra e cal, bem
fardados, bem armados, e a criar problemas”. Por seu turno, o secretário-geral
da UCI afirma que o silêncio tem a finalidade de deturpar a informação.
Borralho Ndomba (Luanda) |
Deutsche Welle
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