segunda-feira, 27 de julho de 2020

Portugal | Esquerda honra Bruno, contra "muro de silêncio que cerca o racismo"


Bruno Candé foi assassinado no sábado, em plena avenida de Moscavide. Vários dirigentes políticos de Esquerda se têm, desde então, pronunciado sobre o caso.

"Vai chover hipocrisia sobre o Bruno Candé. Os racistas vão ter montes de pena, claro, desde que fique bem claro que não foi um crime racista", escreveu este domingo, no Twitter, o eurodeputado José Gusmão, um dos vários dirigentes de Esquerda que acorreram às plataformas online para manifestar o seu pesar, desagrado e repulsa para com o crime que, no sábado, tirou a vida a Bruno Candé, português de ascendência guineense, de 39 anos de idade.

Recorde-se que Bruno Candé Marques, ator da companhia de teatro Casa Conveniente desde 2010, morreu depois de ter sido "baleado em várias zonas do corpo", à queima-roupa, na avenida de Moscavide, no concelho de Loures, em plena luz do dia.

No entender de José Gusmão, classificar este crime como motivado por ódio racial "obrigaria a olhar e ver as responsabilidade do discurso sistemático de incitação à violência que se tornou respeitável no nosso país".

O Bloco de Esquerda, de resto, já havia exigido que todos os pormenores e motivações do crime sejam devidamente apurados, através da delegação de Loures. Beatriz Gomes Dias fez uma publicação onde manifestou o seu "profundo pesar", enviando condolências à família da vítima. "Somos convocados a combater, intransigentemente, o muro de silêncio que cerca o racismo", escreveu.

Catarina Martins, coordenadora do Bloco de Esquerda, depois de publicar uma imagem do ator nas redes sociais, falou num "crime horrível, um assassinato violento, racista", no encerramento do 'Acampamento Online Liberdade 2020', e defendeu que é bom que se perceba que "racismo não é opinião, é crime", e que, "quando se tira a humanidade a outros com o racismo, estas coisas acontecem". José Manuel Pureza fez uso da ironia, ao partilhar a notícia da morte do ator. "Aquilo do racismo estrutural é uma invenção do marxismo cultural, toda a gente sabe", escreveu.

O Livre deixou, também, condolências à família, fazendo similares apelos de justiça. "Este crime que se afigura de contornos racistas mostra que a normalização do discurso racista tem consequências de vida ou morte", sustentou o partido da papoila, no seu perfil de Twitter. Rui Tavares escreveu sobre colocar "as prioridades na ordem certa: celebrar Bruno, combater os racistas, erradicar o racismo".

Joacine Katar Moreira, deputada não inscrita, lembrou Alcindo Monteiro e uma luta que não termina. "Bruno Candé. Para não esquecermos, assim como não esquecemos Alcindo Monteiro. Hoje, 25 de Julho, dia internacional das mulheres negras, perde-se um filho nas malhas do racismo que é todos os dias alimentado por muita gente".

Questionado sobre se o crime foi motivado por racismo, o comissário do Comando Metropolitano de Lisboa da PSP Bruno Pires referiu que "a única coisa que se sabe, e que poderá ser útil para a investigação, é que já existem relatos ao longo desta semana de desacatos [entre vítima e agressor]", mas a PSP ainda desconhece o motivo dos mesmos. A investigação está a cargo da Polícia Judiciária.

A família do ator, porém, exigiu "justiça célere e rigorosa" perante um crime que considerou "premeditado e racista". Através de comunicado, a família refere que o homicida "já o havia ameaçado de morte três dias antes, proferindo vários insultos racistas".

Os populares indicaram, às televisões, que havia um desentendimento por causa de uma cadela que Bruno usava como guia desde que esteve envolvido num acidente que o deixou com sequelas. Uma das colegas de Bruno na Casa Conveniente referiu, em entrevista, que o homicida tropeçou na cadela. De acordo com testemunhos, a família da vítima queixava-se há dias de insultos racistas por parte do agressor, que procurava Bruno nos cafés da zona. 

Anabela Sousa Dantas | Notícias ao Minuto 

Imagem: © Facebook/Bruno Candé Marques

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