John
Lewis, membro do Congresso norte-americano, defensor da não-violência e dos
direitos cívicos nos Estados Unidos, morreu aos 80 anos, devido a um cancro no
pâncreas
Pacifista
e defensor dos direitos civis dos negros, que marchou com Martin Luther King
Jr. e foi congressista durante décadas, John Lewis era um ícone da luta pelo
direitos dos afro-americanos e travou toda a vida uma dura batalha contra a
discriminação racial e a injustiça.
Foi
repetidamente espancado pela polícia e preso durante os protestos em que
participou contra as leis segregacionistas e os crimes praticados contra os
negros nos Estados Unidos, mas a sua voz nunca se calou perante a injustiça.
Ainda
em junho, apesar de já muito debilitado pelo cancro que agora o vitimou, Lewis
ainda fez questão de viajar para Washington, para participar no movimento Black
Lives Matter contra a discriminação racial, na sequência da morte do
afro-americano George Floyd às mãos da polícia de Minneapolis.
"Hoje, a América lamenta o
desaparecimento de um dos maiores heróis da história do país", escreveu a
presidente da Câmara dos Representantes, a democrata Nancy Pelosi, num
comunicado divulgado na sexta-feira.
John
Lewis foi eleito para a Câmara dos Representantes em 1986 e era o mais novo e o
último sobrevivente do movimento de defesa dos direitos cívicos, liderado pelo
reverendo Martin Luther King Jr.
"Que
a sua memória seja uma inspiração e nos leve a todos, perante a injustiça, a
criar 'bons problemas e problemas necessários'", acrescentou Pelosi, numa
referência a uma das frases mais usadas pelo antigo camarada de Martin Luther
King. E sublinhou: "Era um titã do movimento dos direitos civis, cuja
bondade, fé e valentia transformaram nossa nação".
O
líder da maioria no Senado, o Republicano Mitch McConnell, fez também questão
de juntar a sua voz às homenagens, afirmando que Lewis era um "pioneiro
líder dos direitos cívicos, que pôs a vida em risco para lutar contra o
racismo, promover direitos iguais e levar o país a aproximar-se mais dos
princípios fundadores".
Neste
sábado, a Casa Branca recordou igualmente a sua carreira em defesa dos direitos
humanos. "O congressista John Lewis foi um ícone do movimento pelos
direitos civis, e deixa um legado duradouro que nunca será esquecido",
disse no Twitter a secretária de imprensa da Casa Branca, Kayleigh McEnany.
"A
sua família está nas nossas orações, lembramos as incríveis contribuições do
legislador John Lewis para o nosso país", escreveu ainda a assessora.
Aos
25 anos, quando liderava uma marcha pacífica, Jonh Lewis foi espancado pela
polícia, na ponte Edmund Pettus, em Selma, no estado do Alabama. Mas acabaram
por ser as imagens difundidas da brutalidade policial que forçaram o país a
encarar de uma vez por todas a opressão racial que grassava nos estados do
Sul.
Poucos
dias depois desse episódio, que ficou conhecido por "Domingo
Sangrento", Martin Luther King liderou milhares de pessoas em novas
marchas no mesmo estado, o que levou o então Presidente norte-americano Lyndon
Johnson a pressionar o Congresso para aprovar a lei que permitiu à população
negra votar.
Uma
vida dedicada à luta pela igualdade
John
Lewis nasceu em 21 de fevereiro de 1940, nos arredores da cidade de Troy, no
Alabama.
Era
o quarto de dez irmãos de uma família de camponeses e cresceu numa comunidade
negra, onde frequentou escolas públicas segregadas e rapidamente sentiu na pele
a cruel discriminação por causa da cor da pele., o que o levou a agir. Tinha
apenas 21 anos quando se tornou um dos fundadores dos "Passageiros da
Liberdade", que sacudiu as consciências adormecidas dos americanos em
relação ao sofrimento imposto à população negra no país.
John
Lewis foi também o líder mais jovem da manifestação de 1963 em Washington, na
qual Luther King proferiu seu histórico discurso "I have a
dream" ("Tenho um sonho").
Dois
anos depois, quase morreu durante a manifestação antirracista pacífica em
Selma, no estado de Alabama, quando a polícia o espancou brutalmente,
causando-lhe uma fratura no crânio.
Aquele
dia ficou conhecido como "Domingo Sangrento" e, exatamente meio
século depois, Lewis caminhou com Barack Obama, o primeiro presidente negro dos
Estados Unidos, até ao emblemático local do icónico protesto.
John
Lewis entrou para o Congresso em 1986, onde se tornou numa das suas autotidades
morais. A atual líder Demecrata ali, Nancy Pelosi, considerava-o como "a
consciência do Congresso". E de todos os quadrantes políticos têm chegado
as homenagens ao corajoso activista, congressista escrupuloso e homem bom que
foi John Lewis.
O
presidente francês, Emmanuel Macron, saudou este sábado a sua memória,
referindo-se à sua "vida de combate pelos direitos civis. Uma vida de
belas lutas, para lutar por um mundo mais justo. Muito progresso foi feito
graças a ele. John Lewis era um herói", escreveu na sua conta de Twitter.
John
Lewis, que tinha anunciado em dezembro que tinha um cancro em estado avançado
no pâncreas, afastou-se nos últimos meses da vida política para fazer
tratamentos, mas no início de junho voltou a Washington para participar no
movimento "Black Lives Matter".
"O
vento está a soprar, a grande mudança está a chegar", profetizou numa
debate sobre o racismo entre congressistas.
O
antigo Presidente norte-americano Bill Clinton e a antiga secretária de Estado
Hillary Clinton elogiaram também, por seu turno, Lewis, como "um
gigante" que se tornou "na consciência da nação".
Barack
Obama, que em 2011 lhe atribuiu a Medalha da Liberdade, a maior distinção civil
dos Estados Unidos, voltou agora a homenagear, no Twitter, a sua memória.
"Poucos
de nós vivemos para ver nosso próprio legado desdobrar-se de maneira tão
significativa e notável. John Lewis conseguiu", escreveu o ex-presidente
Obama.
Diário
de Notícias com agências (ontem)
Imagem:
John Lewis morreu aos 80 anos. Era o mais novo e único sobrevivente do
movimento de defesa dos direitos cívicos liderado por Martin Luther King // © EPA/Erik
S. Lesser
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