#Escrito e publicado em português do Brasil
"O
presidente da Rússia, Vladimir Putin, fez um apelo à unidade nacional para
enfrentar os grandes desafios e ameaças com que o país se defronta. E enviou um
sinal ao mundo, principalmente à superpotência americana, de que desempenha e
pretende seguir desempenhando um papel de protagonista na cena
internacional", escreve o dirigente comunista José Reinaldo Carvalho,
editor da Página da Resistência
José
Reinaldo Carvalho*
"É
impossível imaginar o que teria acontecido no mundo se o Exército Vermelho não
tivesse vindo em sua defesa". Pronunciadas em tom enfático perante 15 mil
militares na manhã desta quarta-feira (24), em pleno verão moscovita, em uma Praça Vermelha
engalanada, as palavras do presidente russo revestem-se de profundo
significado.
O
acontecimento é habitualmente comemorado a cada 9 de Maio, Dia da Vitória, mas
neste ano foi adiada devido à pandemia da Covid-19.
Putin
pediu que o povo russo relembre os ingentes sacrifícios das gerações passadas
durante a Grande Guerra Patriótica (1941-1945) e tenha sempre presente que
foram os povos soviéticos os que pagaram o preço mais caro na luta contra o
nazifascismo, a maior ameaça à humanidade na primeira metade do século 20. Ao
exaltar a façanha da União Soviética, o líder russo enfatizou a importância de
"proteger e defender a verdade" sobre aquela guerra.
"Sempre
vamos lembrar que o nazismo foi derrotado pelo povo soviético", disse
Putin. "O povo soviético pôs fim ao Holocausto, salvou o mundo do
fascismo".
O
presidente observou que, depois de defender sua própria terra, os soldados
soviéticos "continuaram a lutar". "Eles libertaram os Estados
europeus dos invasores, puseram fim à terrível tragédia do Holocausto, salvaram
o povo da Alemanha".
Putin
não deixou de frisar a importância da aliança antifascista e recolheu o
ensinamento da história. "Apenas juntos podemos proteger o mundo de novas
ameaças perigosas", asseverando que a Rússia está aberta ao diálogo e à
cooperação com outros países.
O
mandatário falou o óbvio, por isso mesmo poderá ter causado estranheza e
assombro nas forças obscurantistas, reacionárias e recalcitrantes que são
sempre reativas quando se trata de encarar as verdades históricas.
Mas
as verdades históricas precisam ser sempre lembradas para que os acontecimentos
trágicos jamais se repitam . No nosso caso, os comunistas, isto é necessário
para que permaneça vivo na memória dos povos o espírito de resistência e luta
que caracterizou a União Soviética e a façanha libertadora dos povos que
constituíram aquele grande e poderoso país socialista.
Os
povos da União Soviética pagaram o mais terrível preço em vidas humanas e
prejuízos materiais, com a morte de 27 milhões dos seus cidadãos, incluindo 7,5
milhões de soldados.
As
vitórias do Exército Vermelho nas históricas batalhas de Moscou (outubro de 1941 a janeiro de 1942),
Stalingrado (agosto de 1942 a
fevereiro de 1943), Kursk (entre a primavera e o verão de 1943) e Berlim, na
primavera de 1945, permanecerão indelevelmente marcadas na memória da
humanidade, como o tributo dos povos soviéticos para a causa da libertação.
A
vitória sobre o nazifascismo foi fruto também da união dos povos e das forças
democráticas no âmbito de cada país e da ação política e militar de uma ampla
aliança internacional antifascista, de que fizeram parte a União Soviética, o
Reino Unido e os Estados Unidos.
Mas
há quem faça a leitura enviesada do discurso de Putin na comemoração do Dia da
Vitória, atribuindo-lhe caráter eleitoreiro em face do referendo constitucional
marcado para 1º de julho próximo. Pretende-se que Putin está jogando com o
fervor patriótico que se mantém aceso quando ocorrem celebrações como esta.
Seria uma cartada para manipular o sentimento popular, em um momento de
evidentes dificuldades socioeconômicas no quadro da pandemia da Covid-19 que
afeta imensamente a Rússia. Sobretudo, acusa-se Putin de arquitetar a sua unção
como "ditador", ao postular o fim da limitação dos mandatos
presidenciais.
Não
há dúvidas de que a afirmação dos valores patrióticos pode exercer influência
no eleitorado e favorecer as emendas constitucionais propostas por Putin. Mas
não foi este o aspecto principal da sua mensagem.
Essencialmente,
o mandatário russo fez um apelo à unidade nacional para enfrentar os grandes
desafios e ameaças com que o país se defronta. Decerto, a realização deste
objetivo poderá ser mais factível na medida em que o apelo à unidade inclua
medidas progressistas e gestos não apenas simbólicos para com os comunistas,
força atuante no país.
Igualmente,
a Rússia envia um sinal ao mundo, principalmente à superpotência americana, de
que desempenha e pretende seguir desempenhando um papel de protagonista na cena
internacional, no novo quadro geopolítico de multipolaridade que vai sendo
configurado em meio a contradições e conflitos.
Os
Estados Unidos já captaram a mensagem da Rússia e desde há algum tempo esboçam
reação. O chefe da Casa Branca, Donald Trump, anunciou que os EUA provavelmente
deslocarão para a Polônia, como sinal à Rússia, parte das tropas que serão
retiradas da Alemanha. Encontram-se adiantados os acordos militares entre
Washington e Varsóvia, como se viu no pomposo encontro entre o inquilino da
Casa Branca e o presidente polonês Andrzej Duda nesta quarta-feira
(24).
O
conceito estratégico da Otan toma como uma de suas principais tarefas conter a
"ameaça russa". O papel geopolítico da Rússia pode elevar-se bastante
se tiver em conta a ameaça do imperialismo estadunidense, enfrentá-lo com
firmeza estratégica e discernimento tático, fazendo as escolhas certas e
distinguindo-se no concerto mundial como país partidário da paz, como foi no passado
a União Soviética.
(*)
Jornalista, editor da Página da Resistência, membro do Comitê Central e da
Comissão Política Nacional do PCdoB
Publicado em Pravda.ru
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