Pedro Ivo Carvalho
| Jornal de Notícias | opinião
Prefiro
o pessimismo descrente à exultação infantil quando se trata de olhar para os
camiões de notas que Bruxelas nos meteu nas mãos.
Desde
logo porque passamos com excessiva facilidade do estado "se não nos
emprestarem dinheiro depressa vamos morrer à fome" para o "e agora,
como é que vamos gastar esta massa toda?" Sempre que me enchem os ouvidos
com os 58 mil milhões de euros que vão forrar os cofres da República nos
próximos anos só me vem à cabeça uma capa recente deste jornal: "Fraudes
nos subsídios europeus davam para pagar duas vezes a TAP". Numa década, os
esquemas fraudulentos na obtenção e desvio de subsídios públicos sonegaram 2,3
mil milhões de euros ao desenvolvimento do país.
Não
quero ser mesquinho e concluir que a prebenda vai ser toda mal gasta. Mas é bom
assentarmos os pés na terra, porque já sabemos do que a casa gasta. O debate
sobre a melhor forma de aplicar os generosos fundos europeus tem de ser
acompanhado por um apertado escrutínio público dos múltiplos beneficiários
dessa fortuna que salvou a Europa de si própria. O dinheiro é de todos, como
tão oportunamente afirmou o presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, e
por isso é natural e desejável que lhe sigamos o rasto.
Definam-se
as apostas, as áreas essenciais, as linhas orientadoras, todos os chavões da
macroeconomia, mas não se tape a montra com joguinhos opacos de poder e
partidarite aguda. Já nos basta a deficiente taxa de execução dos fundos, não
precisamos que a isso se some a pilantragem e o colarinho branco.
As
más opções e as más políticas minam o progresso, e nunca é demais lembrar que
tão cedo não teremos um cheque assim chorudo no bolso, mas a corrupção endémica
já provou ser capaz de nos manter agrilhoados aos vícios do passado. Este jogo
da mala tem de ser coletivo e transparente. E não uma partida de póquer servida
por um croupier com queda para arruinar a casa.
Diretor-adjunto
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