Desapareceram 184 mil
trabalhadores dos três escalões salariais mais baixos. Destes, 156 mil ganhavam
600 euros líquidos ou menos.
A destruição de emprego provocada
pela pandemia, em Portugal, foi toda à custa dos trabalhadores por conta de
outrem mais pobres, os que ganham salários inferiores a 600 euros líquidos
mensais.
Em contrapartida, o número
de empregados que auferem salários mais elevados até aumentou no segundo
trimestre deste ano face a igual período de 2019.
Os dados de base para estas
evidências vêm do Instituto Nacional de Estatística (INE); os cálculos são do
JN/Dinheiro Vivo (DV).
Ironicamente, o facto de o
emprego ter subido nos escalões salariais mais altos e de ter caído de forma
significativa nos escalões mais baixos acabou por fazer subir o salário médio
da economia no período em análise.
Na semana passada, o JN/DV
noticiou que os jovens com menos de 35 anos, os contratos mais precários e os
licenciados foram os que mais sofreram com o brutal ajustamento imposto pela
crise pandémica. Toda a destruição de postos de trabalho ficou concentrada
nos contratos a termo (a prazo, trabalho sazonal e ocasional) e nos
recibos verdes.
Efeito da pandemia
De acordo com o INE,
desapareceram com a pandemia quase 148 mil postos de trabalho, em termos
líquidos. Como referido, todos os escalões salariais mais baixos (menos de 310
euros, 310 a
600 euros e 600 a
900 euros líquidos) contribuíram para a perda de empregos. Em contrapartida,
todos os escalões acima dos 900 euros ainda conseguiram reforçar.
As maiores destruições de emprego
aconteceram no grupo dos que ganha 310 a 600 euros (menos 35 mil empregos, uma
descida de 35% face ao segundo trimestre de 2019) e no escalão dos 600 aos 900
euros, onde a razia foi de 122 mil empregos a menos, um colapso de quase 40%.
A ganhar terreno estiveram os
trabalhadores do escalão salarial mais elevado. Aparentemente, a maior parte
conseguiu manter o emprego apesar da pandemia. Aliás, o grupo dos que
ganham três mil euros limpos ou mais aumentou 14%, a maior subida de todos os oito
escalões definidos pelo INE (ver quadro). Há agora mais 5,5 mil empregados
neste escalão. A maior subida ocorreu no escalão dos 1200 a 1800 euros líquidos
mensais, onde o emprego avançou cerca de 11%, mais 59 mil casos no ano que
termina em junho.
O reforço no emprego dos mais
abonados acabou por mais do que compensar o efeito da destruição massiva de
empregos com ordenados inferiores a 900 euros (menos 184 mil postos de trabalho
desapareceram) no salário médio da economia, que subiu 4,5% para 952 euros
líquidos mensais.
Precário, mal pago
Jovens, precários e mal pagos,
incluindo quase 70 mil licenciados, foram de facto os que arcaram, quase em
exclusivo, com o brutal ajustamento do mercado laboral nestes três meses de
pandemia (abril a junho).
Desigualdades
Fenómeno da perda de emprego nos
salários mais baixos acaba por ser também um alerta antecipado em relação a
outros problemas graves, como o agravamento das desigualdades e da pobreza
neste quadro de recessão.
Cenário negro
A consultora EY estima que, caso
haja uma segunda vaga da pandemia de covid-19 em Portugal, a taxa de desemprego
no país possa atingir os 17,6%.
Luís Reis Ribeiro (JN/DV)
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