quinta-feira, 13 de agosto de 2020

Portugal | PR, governo e deputados assobiam para o lado


Há coisas demais que nos andam a atormentar...

Seremos rápidos e breves nesta abertura matinal e habitual que tantas vezes fazemos no Página Global. Saiba que os temas a tratar pelo autor de hoje, no Curto,  é Cadete… de nome. Já sabe que ele é a par de jornalista diretor-adjunto no Expresso. Bom dia.

A velhada vem novamente à baila. Cadete repuxa a triste cena, a frieza e o descaramento de uns quantos; por exemplo, da ordem dos advogados… Oh, mas não estamos nós, portugueses já tão habituados àqueles insignes advogados formados em hipocrisia e de cifrões abundantes nos globos oculares? Não por acaso são os da profissão mais representada na Assembleia da República, deputados, pois então. E na política em geral, talvez nos governos, como ministros e primeiros-ministros. E o que se diz dos políticos? Ah, pois, que “são uns aldrabões”… Daqui nos vamos, não sem antes referir que temos curiosidade em saber, se possível, como está representada na política a classe dos economistas-gestores e “coisas” dos dinheiros, orçamentos e correlativos, assim como negociatas… Ainda não são mais que os advogados, os senhores do direito (entortado para o lado deles), mas já devem estar muito mais próximo após terem descoberto a árvore das patacas que é o dinheiro público e as misturas com o privado e outras caldeiradas.

Prometemos ser breves e não estamos a cumprir. Desculpem. Garantidamente não somos advogados, nem gestores, nem deputados, nem nos movem interesses político-partidários siglosos, mas temos um ideal: que tudo seja de todos em vez de somente de alguns. E que não falte nada aos portugueses em direitos fundamentais… Isso, tudo que já bem sabem.

Uma coisa nos anda a atormentar. O fascismo avança, o racismo desfila pelas ruas e ameaça, o essencial da democracia está a ser atacado… O PR, o governo, os deputados, os responsáveis pelas instituições, as polícias e o povinho assobia para o lado, como se vivesse no melhor dos mundos… Todos esses dizem que são democratas. Como? Se na realidade não defendem como devem e se comprometeram a defender os valores constitucionais e realmente democráticos, etc., etc.

Afinal, coisas demais que nos andam a atormentar.

Vamos embora. A palavra ao Curto. A seguir.

MM | PG



Bom dia, este é o seu Expresso Curto

Silêncio! que se vai cantar a covid

Miguel Cadete | Expresso

A máxima mais primitiva e primária e, muito provavelmente, a mais torpe da política é o divide et impera de César. Em mau português, “dividir para reinar”. Com esta pandemia, temos chegado a esse resultado em inúmeras frentes. A mais notória tem sido a dos velhos. E a esse respeito vale a pena ler as crónicas de Henrique Raposo e Luís Aguiar-Conraria, aqui no Expresso mas, sobretudo, a torrente de notícia que nos últimos dias dão conta do abandono dos mais idosos, como esta: “Ordem dos Advogados está a avaliar se houve violação dos direitos humanos no lar onde morreram 18 pessoas”.

Mas não só. Também noutros sectores se revela esse desejo irreprimível de afastar as pessoas, tornando-se notável a histeria e o absurdo. É útil ler muitas das notícias produzidas recentemente sobre a Festa do Avante. Como esta, ontem publicada: “Marta Temido garante que ‘não haverá exceções’ no ‘Avante!’ Lotação terá de ser revista”. Mais uma vez, a tentação de proibir qualquer contacto entre humanos irrompe, mesmo que esse contacto esteja previsto pela lei.

Posto isto, sucede que a “Festa do Avante!” não está dentro da lei pois todos os espectáculos, segundo o artigo 5º A da Lei 19/20, devem ter “lugar marcado”, além de uma “lotação especificamente definida pela DGS em função das regras de distanciamento físico que sejam adequadas”. A DGS pode estar a definir a lotação e as regras, como ontem sublinhou a ministra da Saúde, mas as entradas para a Festa já estão a ser disponibilizadas sem lugar marcado. E isso não é permitido.

Há muitos mais exemplos de divisão imposta legal, politicamente ou tão sé pelo medo entre os meandros da cultura e da música em Portugal. Os festivais e os espectáculos, com ou sem regras cumpridas, desapareceram quase por completo, muito por culpa da dependência face a organismos públicos e autárquicos. Há uns poucos que resistem. Mas até esses que foram avante são olhados com desconfiança, como as atuações de Bruno Nogueira no Campo Pequeno (ainda na presença do PR e do primeiro-ministro), ou os espectáculos que com grande esforço teimam em acontecer, como o ciclo de concertos que está a acontecer nos jardins do Palácio de Cristal, no Porto.

Outro exemplo, as “discotecas estão revoltadas com a Festa do Avante”. Até por que passam por uma época de extrema dificuldade, com pouca ou nenhuma receita. Mesmo as que já tinham aberto nos Açores, foram ontem mandadas encerrar.

Outro exemplo são as Noites F – substituto do Festival F – que começam esta noite, em Faro, e decorrem ao longo de próximo mês. São 20 noites com música ao vivo no Algarve É lá que vão atuar António Zambujo, Miguel Araújo, Pedro Abrunhosa e Xutos & Pontapés entre outros. “O que vamos fazer é fechar uma praça e fazer espetáculos com lotação limitada a mil pessoas”, disse o seu organizador, Vasco Sacramento, ao Expresso.

A rarefação de espectáculos, naquela que era a sua época alta, está a conduzir a situações de grande dificuldade entre os trabalhadores do meio. Não só em Portugal. A maior empresa de espectáculos do mundo, a Live Nation, que em Portugal é proprietária de grande parte do Rock in Rio, viu as suas receitas caírem 98%.

Já Olavo Bilac, que se tornou conhecido como vocalista dos Santos & Pecadores, atuou num jantar-comício do Chega e foi criticado (e defendido) nas redes sociais. Até por camaradas de mester, como Diogo Piçarra, que o acusou de “falta de carácter”. O próprio Olavo pediu posteriormente desculpa por ter atuado no evento do Chega mas não estou certo que valha a pena fazer notar que Olavo Bilac faz parte do numeroso lote de artistas que ao longo da sua carreira atuou na Festa do Avante.

A este respeito, vale muito a pena ler a prédica, ontem, o cantor australiano Nick Cave enviou aos seus fãs, na já famosa newsletter Red Hand Files, e que no site da BLITZ levou o título: “O politicamente correto tornou-se a religião mais infeliz do mundo”. O que importa reter, porém, é o seguinte: “o politicamente correcto foi, em tempos, uma tentativa meritória de reimaginar a nossa sociedade de forma mais justa. Agora apresenta todos os piores aspetos que a religião tem para oferecer, e nenhuma da sua beleza - [cheia de] certezas morais e de uma arrogância acima de qualquer capacidade de redenção. Tornou-se numa má religião fora de controlo”.

Foi também o politicamente correcto que, na primeira metade do século XX, impôs a máxima, “silêncio! Que se vai cantar o fado”. A ideia era emprestar respeitabilidade às casas de fado, então marcadas pela devassa, pela prostituição, a bebedeira e as bulhas. O silêncio agora é outro, e quem canta nos noticiários é o número de casos de infetados.

OUTRAS NOTÍCIAS

Deputados e membros da Associação SOS Racismo receberam e-mail que os insta a abandonar Portugal. O e-mail é assinado por uma tal Nova Ordem de Avis – Resistência Nacional, a mesma organização que alegadamente terá feito um desfile durante a noite de sábado, em frente da sede da associação antirracista liderada por Mamadou Ba.

Turismo do Algarve espera que Reino Unido retire Portugal da lista negra. Mesmo que decisão só tenha efeito a partir de setembro, será útil para a temporada de golfe e para grandes eventos que se aproximam no Autódromo de Portimão, como o Grande Prémio de Fórmula 1.

Andaluzia, Castela La Mancha e Castela e Leão ponderam proibir que se fume na via pública. À semelhança do que já sucede na Galiza, aquelas regiões de Espanha estão a considerar a proibição de fumar tabaco nas ruas, de forma a minimizar os riscos de contágio pelo novo coronavírus quando não é possível manter a distâncias mínima de dois metros.

PP pede a demissão de Pablo Iglesias. Os conservadores espanhóis exigem que o vice-primeiro-ministro espanhol e dirigente do Podemos cumpra a sua palavra e se demita depois de ter sido envolvido em vários escândalos financeiros do partido. Pablo Montesinos, do PP, pretende que Iglesias “assuma as responsabilidades políticas que reclamava de todos”.

Paris Saint Germain elimina Atalanta. No primeiro jogo da Liga dos Campeões a ater lugar em Lisboa, perante as despidas bancadas do Estádio da Luz, o PSG de Neymar e Mbapé eliminou o Atalanta, que esteve a ganhar até aos descontos por uma bola. O título da Tribuna é bom: “A Atalanta derrotou o PSG. Mas Neymar derrotou a Atalanta”

Cofina lança OPA sobre a Media Capital. A empresa proprietária do “Correio da Manhã” volta à carga na intenção de comprar a dona da TVI e vai lançar uma oferta pública de aquisição sobre 100% da Media Capital, segundo anunciado à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários. Há um outro senão: Mário Ferreira, o empresário da Douro Azul que adquiriu recentemente 30% da Media Capital, pode ser obrigado a lançar, também ele, uma oferta sobre a Media Capital. Na operação anunciada esta quarta-feira, 12 de agosto, a Cofina propõe-se a pagar 41,5 cêntimos por cada ação da Media Capital. Um investimento que poderá chegar aos 35 milhões de euros.

Grupo Américo Amorim muda de líder. Marta Amorim é a nova Presidente do Grupo Amorim. Aos 48 anos, substitui a irmã Paula, numa rotação familiar prevista nos estatutos.

FRASES

“Quando olhamos para as métricas mensuráveis da televisão, das redes sociais e do ‘ativismo’ de rua, fica claro que salvar cães mexe mais com a emoção dos portugueses do que salvar velhos” Henrique Raposo, cronista, nos Exclusivos Expresso

“E stá na altura de perguntarmos com cada vez mais insistência: e se não houver vacina eficaz? Vamos manter os velhos sequestrados no lar durante quanto tempo? Até deixarem de reconhecer os netos?”. Luís Aguiar-Conraria, cronista, nos Exclusivos Expresso

“Retrato catastrófico da forma como este país despeja velhos em lares, numa pandemia de desleixo, insensibilidade e desinteresse pelos invisíveis da sociedade, que mata muito mais do que a covid”. João Miguel Tavares, cronista, “Público”

O QUE ANDO A LER

Alfredo Cunha já tem lugar assegurado na história da fotografia portuguesa, mais não seja pelas imagens que captou durante o 25 de Abril. De então para cá a sua produção tem sido mais que prolífera e publicada não só nos jornais mas também em livros. Nem sempre com a mesma qualidade.

O regresso às edições em livro sucedeu nos últimos dias, pela mão da Tinta-da-China, com “A Cidade Que Não Existia”, um álbum dedicado à Amadora com textos de Luís Pedro Nunes, seu companheiro de outras andanças.

No caso em apreço, as imagens captadas na Amadora durante os anos 70 são postas em confronto com algumas mais recentes, criada no leitor/espectador a impressão de que alguma coisa mudou para que tudo ficasse na mesma, entre as crianças que posam em frente das barracas e os afrodescendentes frente a um grafiti, somos convocados para assegurar uma terrível continuidade. Ou não?

Tenha um bom dia ou umas boas férias se for caso disso.

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