segunda-feira, 17 de agosto de 2020

Lukashenko admite partilhar poder em discurso onde acaba silenciado


O presidente marcou presença, esta segunda-feira, numa manifestação de trabalhadores e admitiu partilhar poder e mudar a Constituição, mas reforçou não se repetirão eleições. "Até me matarem, não vão haver outras eleições".

Alexander Lukashenko disse esta segunda-feira, aos trabalhadores que se reuniram frente a uma fábrica de veículos pesados (MZKT), em protesto, estar disponível para partilhar poder e para mudar a Constituição, mas que não o faria sob pressão de manifestações, segundo indicou a agência de notícias bielorussa Belta, citada pela Reuters.

O presidente, reeleito no dia 9 de agosto, disse que já estão em movimento mecanismos para alterar a Constituição por forma a redistribuir o poder, mas não especificou quais.

Ainda assim, sublinhou que não permitirá realização de novas eleições. "Já tivemos eleições. Até me matarem, não vão haver outras eleições", disse, segundo o portal bielorrusso Tut.by.


Esta ideia já tinha sido passada pelo governante no domingo, quando disse que "nem morto" permitirá a entrega do país, na primeira manifestação de apoio à sua reeleição desde que tiveram início as ondas de protesto popular.

Sublinhe-se que centenas de manifestantes reuniram-se hoje junto a fábricas e à sede da televisão pública, em Minsk, capital da Bielorrússia. Esta é a segunda vez que Lukashenko se reúne com trabalhadores, numa tentativa de mitigar a onda de protestos, que ameaçam com greve geral.

"Assim como vocês, ainda não consigo perceber qual é o problema", tentava dizer Lukashenko à multidão de trabalhadores, que não parava de gritar "vai-te embora". O presidente cala-se e termina dizendo "obrigado", conforme pode ver no vídeo abaixo.

"Não vamos esquecer, não vamos perdoar", gritaram os manifestantes reunidos na fábrica, enquanto centenas de trabalhadores de outras fábricas caminhavam para a MZKT para se juntarem aos protestos. Alguns funcionários de uma outra empresa garantiram à AFP que milhares de trabalhadores pararam o serviço da fábrica de tratores de Minsk (MTZ).

Recorde-se que Lukashenko foi reeleito no dia 9 de agosto com pouco mais de 80% dos votos. A principal candidata da oposição, Sviatlana Tsikhanouskaya, terá conseguido apenas 10% dos votos, sendo obrigada a sair do país.

O presidente, sublinhe-se, está no poder, na Bielorrússia, desde 1994 e é considerado o “último ditador da Europa”. Esta onda de protestos, que denuncia fraudes e uma violenta repressão, é o maior movimento de protesto desde que está no poder, há 26 anos.

Anabela Sousa Dantas | Notícias ao Minuto | Imagem: © Misha Friedman/Getty Images

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