Jornalistas da imprensa privada
moçambicana reconhecem que segurança nas redações é um desafio constante, mas
garantem que não se deixarão calar por ameaças. Sindicato recorda obrigação do
Estado.
Os jornais privados críticos do
Governo de Moçambique sentem que devem reforçar a segurança das suas
redações depois do incêndio
nas instalações do semanário Canal de Moçambique, no domingo (23.08).
O editor do semanário Zambeze,
Egídio Plácido, considera que o incêndio foi criminoso. Mas os jornalistas
moçambicanos não se deixarão intimidar, afirma: "Terão que matar todos nós. Se não o fizerem, claramente podem queimar as redações que quiserem,
mas vamos continuar a produzir", garante.
"Os computadores existem, há
outras saídas. As ideias estão nas nossas cabeças, estão nos documentos, nas
nossas investigações e não é queimando redações que se pode acabar com a
imprensa crítica do Estado moçambicano", dispara.
Segurança é desafio constante
O editor do Zambeze reconhece que
a segurança não é boa nas redações e considera que as condições mínimas devem
ser criadas.
"É muito difícil esta
questão em concreto, porque estamos vulneráveis - não temos capacidades de
ir buscar grandes empresas privadas para nos defenderem. Teríamos que
confiar na sorte e confiar no pouco que temos para garantir a nossa
segurança", diz.
Fernando Lima, presidente da
Mediacoop - uma sociedade que suporta o semanário Savana e o diário Mediafax
- entende que todos os jornais que lidam com assuntos delicados estão
preparados para eventuais atentados.
"Qualquer pessoa que
trabalha em assuntos de risco, hoje em dia, toma o mínimo de precauções.
Qualquer órgão que leva a sério o seu trabalho está protegido para estas
situações", avalia.
Riscos e ameaças
Algumas publicações privadas não
têm dispositivos de segurança capazes de deter atos de sabotagem e ameaças, mas
Fernando Lima garante que a empresa que dirige toma alguns cuidados.
"Estamos minimamente
preparados para enfrentar situações de fogo posto, outro tipo de
curto-circuito, cortes forçados de energia, atentados e ameaças contra os
editores são questões pelas quais já passámos e, aquelas
situações pelas quais ainda não passámos, estamos pelo menos psicologicamente
preparados", declara.
Fernando Lima lamenta o
facto de existirem pessoas "bem identificadas" que usam as
redes sociais para ameaçar jornalistas: "Os cachorros estão à solta
e, todos os dias, lançam ataques e ameaças verbais através das redes
sociais", revela o presidente da Mediacoop .
Garantir a segurança, obrigação
do Estado
O secretário-geral do Sindicato
Nacional dos Jornalistas, Eduardo Constantino, reitera que o Estado também
deve garantir a segurança dos profissionais da comunicação social.
"O país tem autoridades
competentes e confiadas a realizar essa tarefa e é a essa autoridade que temos
estado sempre a pedir", afirma.
Jornalistas e ativistas estão a
aorganizar uma angariação de fundos para o Canal de Moçambique.
"Fazemos este movimento de
solidariedade porque pensamos que não se pode matar a nossa democracia calando
a imprensa e cada um de nós tem obrigação de lutar pela continuidade das
liberdades individuais de expressão e imprensa, que são garantias
constitucionais”, disse à agência noticiosa Lusa a coordenadora da iniciativa, Elisa
Comé.
A campanha Juntos pelo Canal está
a ser divulgada através das redes sociais e destina-se a apoiar a reposição do
material necessário para o funcionamento da redação do semanário, que recorreu
ao pátio do seu edifício para garantir os serviços mínimos
A redação, localizada no centro
de Maputo, ficou destruída, após desconhecidos terem ateado fogo na noite de
domingo. O sucedido foi condenado por várias instituições e personalidades,
nacionais e internacionais, incluindo o presidente Nyusi e a delegação da União
Europeia em Moçambique.
Romeu da Silva (Maputo), Lusa |
Deutsche Welle
Sem comentários:
Enviar um comentário