sexta-feira, 7 de agosto de 2020

Portugal | Fumo para os olhos


Vítor Santos* | Jornal de Notícias | opinião

As consequências da covid-19, no país e no Mundo, esmagam a atualidade, estando, legitimamente, no topo das preocupações de todos, porque ninguém escapa às consequências de um abalo desta magnitude. Mas não nos podemos deixar hipnotizar, esquecendo o resto, porque existe o risco de situações graves passarem por entre os pingos da pandemia.

A notícia de uma série de irregularidades no processo de aquisição de golas antifumo e sobre a ineficácia deste material, que foi distribuído pela Proteção Civil junto das populações de 1600 aldeias, tem um ano. O Ministério Público está perto de concluir a investigação do caso, sendo que, para já, é possível contabilizar 18 arguidos - entre eles, o presidente da Autoridade Nacional de Proteção Civil, Mourato Nunes -, além de umas quantas cabeças, como o ex-secretário de Estado Artur Neves e um dos seus adjuntos, Francisco Ferreira, que se demitiram depois de a situação ter sido tornada pública pelo JN.

Importa, passado este tempo, lembrar a maneira como o caso foi comentado pelo ministro da Administração Interna, Eduardo Cabrita, classificando como "irresponsável e alarmista" a primeira notícia sobre o assunto. A única coisa que deixa qualquer um alarmado é mesmo a forma negligente como o governante reagiu. Mais ainda quando verificamos que não se trata propriamente de uma situação virgem no Executivo de António Costa, cuja ministra da Cultura, Graça Freitas, conseguiu, recentemente, transformar o anúncio de uma iniciativa positiva num momento de embaraço, precisamente por negligenciar as questões incómodas que lhe foram colocadas a seguir.

Quanto ao caso das golas, resta esperar que a Justiça termine o seu trabalho, acreditando que nem os investigadores adormecerão à sombra da pandemia, nem os políticos se atreverão a voltar a atirar-nos fumo para os olhos.

*Editor-executivo

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