segunda-feira, 3 de agosto de 2020

Roubalheiras

Rui Sá* | Jornal de Notícias | opinião

Foi notícia, recentemente, o facto de o rei Juan Carlos, de Espanha, ter recebido 100 milhões de euros de um membro da Casa Real saudita a título de comissão pelo facto de um grupo espanhol ter ganho a empreitada de construção de uma linha ferroviária de alta velocidade na Arábia Saudita.

A abordagem da maior parte das notícias passa pelo facto de Juan Carlos ter transferido 65 milhões de euros desta comissão para a conta de uma sua (ex?) amante. Sinceramente, penso que é uma abordagem errada. Se Juan Carlos tem ou teve amantes, tanto me faz. Se essa transferência foi por amor ou por interesse, é-me indiferente, embora me pareça estarmos perante um padrão ibérico: José Sócrates, um aristocrata nacional, também recebeu umas transferências "por amizade" do seu amigo Carlos Silva......

O problema não é esse. Nem tão-pouco o facto - sem dúvida relevante! - de um rei, que devia ser um símbolo da soberania e do interesse nacional, fazer passar o seu dinheiro por paraísos fiscais, subtraindo-os à Fazenda do seu país (mais ou menos como uns empresários portugueses que, colocando a sede das suas empresas em paraísos fiscais, se fartam de debitar umas postas sobre a estratégia para Portugal e a "imperiosa necessidade" de todos (?) pormos o interesse do país à frente dos nossos interesses pessoais, nomeadamente em matéria de sacrifícios laborais e salariais dos trabalhadores!...)

Não! O problema é que foi possível pagar "luvas" de 100 milhões de euros pela intermediação na adjudicação de uma empreitada! Que, por maior que fosse a sua dimensão, mostra que sobraram 100 milhões de euros que poderiam ter sido poupados ao erário público. O que nos elucida sobre como são inflacionados os custos de diversas obras públicas! À custa de todos nós.

*Engenheiro

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