Bom dia, este é o seu Expresso Curto
Filipe Garcia | Expresso
Imagino um qualquer surfista de
ondas grandes, a reboque de uma moto de água, a acelerar em paralelo à praia,
pronto para descer uma das ondas da Praia do Norte. Imagino a namorada, a mãe
ou mesmo os amigos mais razoáveis, no Forte, aquele que nas fotos nos dá a
verdadeira escala da loucura que por ali se pratica, em surdina ou nem por
isso, a repetir: “Não vás. Não desças. Olha que morres.” A verdade é que eles
vão, surfam o que nunca se imaginou possível e, na esmagadora maioria das vezes,
até escapam sem auxílio médico. É verdade que já quase morreram surfistas na
praia da Nazaré, não menos verdade é que todos eles garantirão, a familiares,
fãs e patrocinadores, que estão prontos para escapar à onda seguinte, aguentar
o impacto e voltar a tentar.
Ontem ficámos a saber as
regras que a Direção-Geral da Saúde sugeriu ao PCP para a organização da Festa
do Avante, a tal que assinala a rentrée do ano político dos comunistas. Uma
irresponsabilidade, gritam uns, um
direito, gritam os outros - e muitos, suspeito, apenas suspiram por em
tempos de pandemia ainda se cumprirem alguns dos rituais a que se foram
habituando. É verdade que o slogan nunca foi o de um comício, congresso ou
convenção, que o qualificativo foi sempre o de Festa. Nem por isso deixou,
sempre, de ser o grande marco no ano político de um dos partidos definidores da
democracia portuguesa.
Porque arriscam a vida os
surfistas de ondas grandes? Dizem que nasceram para descer ondas que mais se
parecem com tsunamis, que só se sentem felizes com a vida em risco. Dizem também
que cumprem todas as normas de segurança, que estão treinados, prontos para
tudo o que mar lhes possa trazer. Dizem que tem de ser. Corajosos ou loucos,
com ou sem razão, há mesmo quem precise de correr riscos que aos outros parecem
desnecessários.
O arranque do PS para mais um Orçamento
Em Coimbra, debaixo do mote de
“Recuperar Portugal”, os socialistas lançaram ontem o seu ano político. No ar
ainda pairava o fantasma
de uma hipotética crise política quando o primeiro-ministro abriu os
trabalhos. Da esquerda à direita, com ecos no Palácio de Belém, não foi
fantasma que colhesse apoio - Disse
"crise política"? "Ultimato" de Costa faz ricochete à
esquerda e à direita – e foi um António Costa diferente o que
discursou: agora apostado em promover acordos duradouros, em voltar a reunir
consensos em torno de uma luta que quer mobilizadora. Como não poderia deixar
de ser, estivemos lá e sobre a cimeira socialista pode ler como Costa
deixou a dramatização à porta e como foi a rentrée assética com apelos mais amigáveis à esquerda.
Novo Banco. 4.000 milhões de perdas e "insuficiências e deficiências graves"
Novo Banco. 4.000 milhões de perdas e "insuficiências e deficiências graves"
"Um conjunto de
insuficiências e deficiências graves de controlo interno no período de
atividade até 2014 do Banco Espírito Santo no processo de concessão e
acompanhamento do crédito, bem como relativamente ao investimento noutros
ativos financeiros e imobiliários", assim diz o comunicado divulgado esta
madrugada pelo Ministério das Finanças sobre a auditoria à gestão de BES e Novo
Banco entre 1 de janeiro de 2000 e 31 de dezembro de 2018. O resultado: mais de 4.000
milhões de perdas para o Novo Banco, entre a resolução do BES, em agosto de
2014, e dezembro de 2018 - e o relatório a caminho da Procuradoria Geral da
República.
Começam a tornar-se tão
repetitivos como pouco animadores os relatórios sobre a saúde financeira do
país. Ontem foi a vez do Instituto Nacional de Estatística divulgar a sua
estimativa para o segundo trimestre do ano e, mais uma vez, as notícias não são
boas: em julho, a
taxa de desemprego subiu aos 8,1% o valor mais alto desde agosto de
2018. Igualmente preocupante é a diferença de evolução entre a população com ou
sem emprego. Comparando períodos homólogos, a população empregada encolheu 3,5%
enquanto a desempregada aumentou 11,7%.
...o PIB a cair...
...o PIB a cair...
O ditado popular diz que as
conversas são como as cerejas, que atrás de uma vem sempre outra. No caso da
Economia, a tendência é semelhante e raramente as más notícias chegam sozinhas.
Ontem também ficámos a saber, igualmente através do INE, que o Produto
Interno Bruto teve uma queda de 16,3% no segundo trimestre do ano. A
explicação? As quedas do investimento e das exportações, mas também uma
tendência gerada pela pandemia, a quebra no consumo privado.
… e o consumo em mínimos históricos
… até atingir, no segundo
trimestre de 2020, o valor mais baixo desde 1999. AQUI mostramos-lhe
quais as áreas em que os portugueses mais refrearam os impulsos gastadores.
Bens duradouros – sejam automóveis ou mobílias – sofreram uma quebra de 27,6%
enquanto o consumo de bens correntes não alimentares caiu 18,5%. Para compensar
e a provar que nem tudo encolheu com a pandemia, a compra de bens alimentares
subiu 4,7%, atingindo um máximo histórico de 6,26 mil milhões de euros.
Outros títulos
Outros títulos
Jornal de Notícias - Linha do Norte custa tanto em obras como fazer Alta Velocidade
Jornal de Negócios - Galp,
Rubis e Repsol com "preços alinhados" nas botijas de gás
Clubes portugueses conhecem os primeiros adversários na Europa
Clubes portugueses conhecem os primeiros adversários na Europa
Pode ser visto como um sinal da
real qualidade do futebol português ou apenas como consequência das diferenças
de poderio financeiro entre clubes de diferentes países, mas por cá só mesmo o
campeão nacional está dispensado das rondas de qualificação para as competições
europeias de futebol. Ontem Benfica e Rio Ave ficaram a conhecer os nomes dos
primeiros adversários na Europa. Ao Benfica calhou em sorte que, na 3ª
pré-eliminatória de acesso à Liga dos Campeões, a visita seja ao PAOK, treinado
pelo português Abel, cujos segredos lhe mostramos AQUI. O
Rio Ave, na 2ª pré-eliminatória de acesso à Liga Europa, terá de enfrentar
os bósnios do Borac Banja Luka. E hoje será a vez do Sporting saber quem o
espera na 3º pré-eliminatória.
A frase
“O vírus revelou muitos dos
problemas que já existiam”
António Costa, na abertura da
conferência “Recuperar Portugal”.
O que ando a ler
1971 não teve um momento de
tédio. Por motivos que me são alheios – sobretudo pelo planeamento familiar
feito pelos meus pais – não andava por cá para o confirmar, mas assim garante o
livro a que me lancei por estes dias, "1971, Never a Dull Moment", de
David Hepworth. Editada em 2016,
a história é a de um ano de viragem, segundo o autor, o
momento “mais criativo” na história da música popular. O concerto para o
Bangladesh de George Harrison, o nível de estrelato alcançado pelos Led
Zeppelin, a edição de "Tapestry" por Carole King, mas também
"What's Going On" de Marvin Gaye ou "The Man who Sold the World",
de David Bowie, são alguns dos exemplos apresentados para a arrojada teoria.
Parto, confesso, cético. Quanto mais não seja porque enumero de cabeça algumas
das edições de 1967, do "Sgt Peppers", dos Beatles, a "Disraeli
Gears", dos Cream, e um punhado muito especial de músicos que nesse ano se
apresentaram – Jimi Hendrix, Janis Joplin, os Doors e até os Velvet
Underground. Mas não é verdade que com a música certa nos conseguem convencer
das teorias mais inauditas? Veremos se a música de 71 é suficientemente boa.
O que ando a ouvir
O Jorge e o João que me
desculpem, mas ontem o dia foi passado a ouvir as lições de outro “Tio”. É
verdade que não tenho qualquer consanguinidade com Sérgio Godinho. Pior ainda,
nunca sequer trocámos palavras. Ainda assim, há muito que lhe ouço os conselhos
e as histórias cantadas do país e da cidade que partilhamos. Talvez por isso,
há muito que comigo Sérgio Godinho perdeu direito aos seus dois nomes, há muito
que carrega um título exclusivo a quem comigo partilha ADN, há muito que é o
meu Tio Sérgio.
O meu tio mais velho completou
ontem 75 anos e, na impossibilidade de partilhar uma refeição ou entregar uma
prenda, a data serviu para lhe revisitar as canções. Há lá coisa melhor que
voltarmos a ser confrontados com a genialidade de quem nos é tão querido? Se a
consanguinidade é apenas um dos fatores que nos molda os afetos, caso para
dizer: obrigado e parabéns, Tio.
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