terça-feira, 1 de setembro de 2020

Avante com um risco (des)necessário?


Bom dia, este é o seu Expresso Curto

Filipe Garcia | Expresso

Imagino um qualquer surfista de ondas grandes, a reboque de uma moto de água, a acelerar em paralelo à praia, pronto para descer uma das ondas da Praia do Norte. Imagino a namorada, a mãe ou mesmo os amigos mais razoáveis, no Forte, aquele que nas fotos nos dá a verdadeira escala da loucura que por ali se pratica, em surdina ou nem por isso, a repetir: “Não vás. Não desças. Olha que morres.” A verdade é que eles vão, surfam o que nunca se imaginou possível e, na esmagadora maioria das vezes, até escapam sem auxílio médico. É verdade que já quase morreram surfistas na praia da Nazaré, não menos verdade é que todos eles garantirão, a familiares, fãs e patrocinadores, que estão prontos para escapar à onda seguinte, aguentar o impacto e voltar a tentar.

Ontem ficámos a saber as regras que a Direção-Geral da Saúde sugeriu ao PCP para a organização da Festa do Avante, a tal que assinala a rentrée do ano político dos comunistas. Uma irresponsabilidade, gritam unsum direito, gritam os outros - e muitos, suspeito, apenas suspiram por em tempos de pandemia ainda se cumprirem alguns dos rituais a que se foram habituando. É verdade que o slogan nunca foi o de um comício, congresso ou convenção, que o qualificativo foi sempre o de Festa. Nem por isso deixou, sempre, de ser o grande marco no ano político de um dos partidos definidores da democracia portuguesa.

Porque arriscam a vida os surfistas de ondas grandes? Dizem que nasceram para descer ondas que mais se parecem com tsunamis, que só se sentem felizes com a vida em risco. Dizem também que cumprem todas as normas de segurança, que estão treinados, prontos para tudo o que mar lhes possa trazer. Dizem que tem de ser. Corajosos ou loucos, com ou sem razão, há mesmo quem precise de correr riscos que aos outros parecem desnecessários.

O arranque do PS para mais um Orçamento

Em Coimbra, debaixo do mote de “Recuperar Portugal”, os socialistas lançaram ontem o seu ano político. No ar ainda pairava o fantasma de uma hipotética crise política quando o primeiro-ministro abriu os trabalhos. Da esquerda à direita, com ecos no Palácio de Belém, não foi fantasma que colhesse apoio - Disse "crise política"? "Ultimato" de Costa faz ricochete à esquerda e à direita – e foi um António Costa diferente o que discursou: agora apostado em promover acordos duradouros, em voltar a reunir consensos em torno de uma luta que quer mobilizadora. Como não poderia deixar de ser, estivemos lá e sobre a cimeira socialista pode ler como Costa deixou a dramatização à porta e como foi a rentrée assética com apelos mais amigáveis à esquerda.

Novo Banco. 4.000 milhões de perdas e "insuficiências e deficiências graves"

"Um conjunto de insuficiências e deficiências graves de controlo interno no período de atividade até 2014 do Banco Espírito Santo no processo de concessão e acompanhamento do crédito, bem como relativamente ao investimento noutros ativos financeiros e imobiliários", assim diz o comunicado divulgado esta madrugada pelo Ministério das Finanças sobre a auditoria à gestão de BES e Novo Banco entre 1 de janeiro de 2000 e 31 de dezembro de 2018. O resultado: mais de 4.000 milhões de perdas para o Novo Banco, entre a resolução do BES, em agosto de 2014, e dezembro de 2018 - e o relatório a caminho da Procuradoria Geral da República.

Taxa de desemprego a subir...

Começam a tornar-se tão repetitivos como pouco animadores os relatórios sobre a saúde financeira do país. Ontem foi a vez do Instituto Nacional de Estatística divulgar a sua estimativa para o segundo trimestre do ano e, mais uma vez, as notícias não são boas: em julho, a taxa de desemprego subiu aos 8,1% o valor mais alto desde agosto de 2018. Igualmente preocupante é a diferença de evolução entre a população com ou sem emprego. Comparando períodos homólogos, a população empregada encolheu 3,5% enquanto a desempregada aumentou 11,7%.

...o PIB a cair...

O ditado popular diz que as conversas são como as cerejas, que atrás de uma vem sempre outra. No caso da Economia, a tendência é semelhante e raramente as más notícias chegam sozinhas. Ontem também ficámos a saber, igualmente através do INE, que o Produto Interno Bruto teve uma queda de 16,3% no segundo trimestre do ano. A explicação? As quedas do investimento e das exportações, mas também uma tendência gerada pela pandemia, a quebra no consumo privado.

… e o consumo em mínimos históricos

… até atingir, no segundo trimestre de 2020, o valor mais baixo desde 1999. AQUI mostramos-lhe quais as áreas em que os portugueses mais refrearam os impulsos gastadores. Bens duradouros – sejam automóveis ou mobílias – sofreram uma quebra de 27,6% enquanto o consumo de bens correntes não alimentares caiu 18,5%. Para compensar e a provar que nem tudo encolheu com a pandemia, a compra de bens alimentares subiu 4,7%, atingindo um máximo histórico de 6,26 mil milhões de euros.

Outros títulos




Jornal de Negócios - Galp, Rubis e Repsol com "preços alinhados" nas botijas de gás

Clubes portugueses conhecem os primeiros adversários na Europa

Pode ser visto como um sinal da real qualidade do futebol português ou apenas como consequência das diferenças de poderio financeiro entre clubes de diferentes países, mas por cá só mesmo o campeão nacional está dispensado das rondas de qualificação para as competições europeias de futebol. Ontem Benfica e Rio Ave ficaram a conhecer os nomes dos primeiros adversários na Europa. Ao Benfica calhou em sorte que, na 3ª pré-eliminatória de acesso à Liga dos Campeões, a visita seja ao PAOK, treinado pelo português Abel, cujos segredos lhe mostramos AQUI. O Rio Ave, na 2ª pré-eliminatória de acesso à Liga Europa, terá de enfrentar os bósnios do Borac Banja Luka. E hoje será a vez do Sporting saber quem o espera na 3º pré-eliminatória.

A frase

“O vírus revelou muitos dos problemas que já existiam”
António Costa, na abertura da conferência “Recuperar Portugal”.

O que ando a ler

1971 não teve um momento de tédio. Por motivos que me são alheios – sobretudo pelo planeamento familiar feito pelos meus pais – não andava por cá para o confirmar, mas assim garante o livro a que me lancei por estes dias, "1971, Never a Dull Moment", de David Hepworth. Editada em 2016, a história é a de um ano de viragem, segundo o autor, o momento “mais criativo” na história da música popular. O concerto para o Bangladesh de George Harrison, o nível de estrelato alcançado pelos Led Zeppelin, a edição de "Tapestry" por Carole King, mas também "What's Going On" de Marvin Gaye ou "The Man who Sold the World", de David Bowie, são alguns dos exemplos apresentados para a arrojada teoria. Parto, confesso, cético. Quanto mais não seja porque enumero de cabeça algumas das edições de 1967, do "Sgt Peppers", dos Beatles, a "Disraeli Gears", dos Cream, e um punhado muito especial de músicos que nesse ano se apresentaram – Jimi Hendrix, Janis Joplin, os Doors e até os Velvet Underground. Mas não é verdade que com a música certa nos conseguem convencer das teorias mais inauditas? Veremos se a música de 71 é suficientemente boa.

O que ando a ouvir

O Jorge e o João que me desculpem, mas ontem o dia foi passado a ouvir as lições de outro “Tio”. É verdade que não tenho qualquer consanguinidade com Sérgio Godinho. Pior ainda, nunca sequer trocámos palavras. Ainda assim, há muito que lhe ouço os conselhos e as histórias cantadas do país e da cidade que partilhamos. Talvez por isso, há muito que comigo Sérgio Godinho perdeu direito aos seus dois nomes, há muito que carrega um título exclusivo a quem comigo partilha ADN, há muito que é o meu Tio Sérgio.

O meu tio mais velho completou ontem 75 anos e, na impossibilidade de partilhar uma refeição ou entregar uma prenda, a data serviu para lhe revisitar as canções. Há lá coisa melhor que voltarmos a ser confrontados com a genialidade de quem nos é tão querido? Se a consanguinidade é apenas um dos fatores que nos molda os afetos, caso para dizer: obrigado e parabéns, Tio.

Sugira o Expresso Curto a um/a amigo/a

Sem comentários:

Mais lidas da semana