Licenciada em Direito, ingressou
na carreira diplomática desafiada por amigos. Assistiu à independência de
Timor-Leste, criticou Paulo Portas, Isabel dos Santos e defendeu publicamente
Rui Pinto. É descrita como uma mulher frontal, e pode ser a primeira a chegar a
Belém.
Esta quinta-feira, 10 de
setembro, Ana
Gomes vai anunciar a sua candidatura oficial às eleições Presidenciais
de 2021, sendo que a socialista já tornou públicas as suas intenções esta
segunda-feira, em declarações ao "Público". Mas, afinal, o que se
sabe da antiga diplomata, de 66 anos, que poderá vir a ser a primeira mulher Presidente
da República?
Ana Maria Rosa Martins Gomes
nasceu em Estremoz, a 9 de fevereiro de 1954. Por volta dos 14 anos, aderiu ao
Movimento Associativo de Estudantes do Ensino Secundário de Lisboa, tornando-se
ativista desde jovem. Ingressou na Faculdade de Direito de Lisboa em 1972,
terminado a licenciatura em Direito em 1979, com 25 anos.
Durante os seus tempos de
estudante, Ana Gomes foi militante do Movimento Reorganizativo do Partido
do Proletariado (MRPP), onde conheceu António Monteiro Cardoso, o seu
primeiro marido. Aqui, também se cruzou com Durão Barroso, Maria José Morgado,
Fernando Rosas e Vital Moreira, entre outros. Ainda antes de terminar a
licenciatura, deixa o partido em 1976.
Apesar de ter o desejo de ser
advogada, era fluente em línguas e, na universidade, tinha como prediletas as
cadeiras de Direito Europeu, Internacional e Internacional Público, tal como
refere a "Visão", num artigo de 2016. Desafiada por
dois amigos que lhe reconheceram o talento para uma carreira de notoriedade na
diplomacia, começou este caminho em 1980, depois de ser aceite no terceiro
concurso aberto a mulheres.
Serviu na Missão Permanente de
Portugal nas Nações Unidas em Genebra, de 1986 a 1989. Cerca de uma
década depois, em 1997, coordenou a delegação portuguesa do Conselho de
Segurança na ONU, na sede de Nova Iorque. Deixou os Estados Unidos para exercer
funções na embaixada portuguesa em Tóquio até 1991, e depois em Londres, de
onde saiu em 1994. É em 1999 que tem um grande marco na sua carreira, quando assume
o cargo de embaixadora de Portugal em Jacarta, posição que ocupou até 2003.
É nesta altura que negoceia os
acordos de paz e assiste de forma ativa à independência de Timor-Leste, onde
passava muitos dos seus dias em contacto com autoridades indonésias e com a
resistência timorense, escreveu a "Visão" já este ano. Descrevia o ambiente
político que se vivia, tentava antecipar soluções e passava horas ao telefone
com Lisboa. "Durante semanas, dormiu três ou quatro horas por noite”,
recorda um antigo colega diplomata à mesma publicação. “Queixava-se de que a
missão era esgotante, sim, mas tinha um 'drive' louco por aquela questão,
percebia o que estava em jogo, o papel que podia ter, e assumiu o cargo com
garra."
José Ramos-Horta, antigo
presidente de Timor-Leste , recorda Ana Gomes como uma "figura
audaciosa", que "conquistou o respeito dos adversários, teve um papel
fundamental e não hesitava em criticar o seu governo quando este não era
coerente e ativo na questão de Timor”, escreve a "Visão". Numa
sociedade machista dos anos 90,
a hoje candidata à Presidência da Républica mostrou-se,
nas palavras de Ramos-Hora, uma "mulher muito dura, muito frontal,
sem medos e sem prestar favor a ninguém".
Em 2002, torna-se militante
do Partido Socialista no início do ano, e, em novembro, é eleita membro da
Comissão Nacional e Política do partido do Largo do Rato. Abandona a carreira
diplomática em 2003, integra o Secretariado Nacional do partido enquanto
secretária nacional para as Relações Externas entre 2003 e 2004, sob a
liderança de Ferro Rodrigues, e é também eleita pelo PS nas Europeias de 2004,
e também em 2009 (ano em que é derrotada por Fernando Seara para a presidência
da câmara municipal de Sintra) e 2014.
Voz ativa contra poderosos e
crítica incómoda em casos mediáticos
Foi membro do Parlamento Europeu
entre 2004 e 2019, e participou em várias missões enquanto eurodeputada, tendo
visitado o Afeganistão, Bósnia e Herzegovina, República Popular da China,
Kosovo, Iraque, Israel, Palestina, entre outros.
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