Greve no setor de Saúde está a causar impacto no maior centro hospitalar guineense. E já há apelos: "O Governo deve engajar-se para ultrapassar a situação da greve. Estamos no momento da Covid-19".
Nas primeiras horas desta quarta-feira (16.09), apesar de alguns serviços estarem a funcionar, a DW África constatou que na maternidade do maior hospital do país, o Simão Mendes, grávidas estão a ser mandadas para a casa, por falta de assistência.
E em outros serviços, situações idênticas verificaram-se e foram relatadas pelos doentes e seus acompanhantes.
"Dizem que quem quer consulta tem de ir lá para baixo (onde há serviço mínimo), mas lá há muita gente e eu tenho febre”, contou uma doente.
Uma mãe, com filho doente, explicou: "Nós tínhamos vindo e nos mandaram de volta. Receitaram-nos o medicamento, mas não fizeram a consulta e nem nos fizeram análise".
"Estou preocupada, porque ter menino com febre e ser mandado para casa por causa da greve, não está bem. Todo o dia de ontem, ele não dormiu. Eu trouxe-o aqui mas disseram que estão em greve”, disse outra mãe.
As exigências dos grevistas
A greve do Sindicato Nacional dos Enfermeiros e Técnicos de Saúde e Afins (SINETSA) visa, de acordo com o caderno reivindicativo, a aprovação do Estatuto da Carreira do Pessoal da Saúde, o pagamento de salários ao pessoal contratado do setor e ainda o pagamento de três meses de subsídios aos técnicos de saúde envolvidos no combate às pandemia da Covid-19.
O presidente do SINETSA, Yoio João Correia, conta que também "há problema do aparelho de radiologia, que quase a nível das regiões sanitárias não funcionam e para nós é complicado".
Pelo menos, a nível de cada região, que exista um aparelho de radiologia que é tão importante para o diagnóstico [da doença], para que as pessoas possam trabalhar".
E Correia queixa-se: "Temos técnicos ligados à radiologia que estão inativos, porque não há aparelhos a funcionar”.
Em maio de 2020, o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) alertou para a precariedade do sistema de saúde guineense e afirmou no seu relatório que, "se em termos normais o setor enfrenta problemas, como com a Covid-19, o sistema pode colapsar”.
Diálogo com o Governo?
Face à greve, o sociólogo Álvaro Óscar Pereira apela o Governo a promover o diálogo com o sindicato da saúde:
"O Governo deve se engajar para ultrapassar a situação da greve. Estamos no momento da Covid-19, que é muito delicado para todos nós e o Governo tem que aceitar negociar", apela.
E Pereira sublinha que "neste momento, com a greve, a sociedade está muito mais abalada com os problemas da Covid-19 e neste momento a sociedade vai enfrentar a desigualdade em termos de condições de saúde”.
Mas o Governo ainda não reagiu à greve. A DW África tentou, sem sucesso, obter a reação das autoridades sobre a situação.
Iancuba Dansó (Bissau) | Deutsche Welle
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