Porque a abordagem do Expresso
Curto vem à cabeça no Curto de hoje, com Donald Trump e Joe Biden no primeiro
debate das eleições presidenciais norte-americanas de 2020, em Cleveland, no
Ohio, não vamos dar muito mais para esse esgoto de mentecaptos do império do mal
Do Curto salientamos outras prosas sobre nós por cá. Joana Pereira Bastos, do Expresso balsemista, deixa matéria. Vá ler. Não dói nada.
Bom dia e goze o sol enquanto pode. Quantos terão morrido hoje por covid-19? A morte está a ganhar balanço e os mais idosos ou vulneráveis estão a ser agarrados e levados. Dá jeito ao “sistema”. Menos despesa. Os Novos Bancos & Capangas agradecem. O corruptos também. Assim têm mais fundo de maneio para as falcatruas...
Encurtamos aqui. Siga o Curto. Bom dia.
MM | PG
Bom dia, este é o seu Expresso Curto
O pior debate da história
Joana Pereira Bastos | Expresso
Bom dia,
Terminou há poucas horas o que muitos já classificaram como o pior debate
da história. Caótico, cheio de interrupções, atropelos, gritaria, insultos,
ataques pessoais, mentiras e reclamações: o nível do primeiro
frente-a-frente entre o presidente Donald Trump e o antigo vice-presidente Joe
Biden para as Presidenciais de 3 de novembro foi
tão baixo que vários jornalistas e comentadores duvidam que
sequer venham a realizar-se os restantes dois debates que estavam previstos.
Há dias, numa ação de campanha, Biden mostrou que sabia os riscos que corria
neste debate. "Só espero não morder o isco de entrar numa rixa com este
tipo, porque é só aí que ele se sente confortável", disse o candidato
democrata. Mas acabou por cair na armadilha. O que se passou esta noite em
Cleveland aproximou-se mais de uma rixa do que de um confronto de ideias e pouco
terá servido para esclarecer os cerca de 200 milhões de eleitores americanos,
sobretudo os 10% que ainda não decidiram em quem votar.
Num registo de "bully", nada surpreendente, o presidente
americano esteve na sua versão mais agressiva. Interrompeu constantemente, usou
informações falsas, por exemplo sobre a pandemia ou a expulsão do filho de
Biden das forças armadas, e recorreu a ataques pessoais para descontrolar o
opositor. Em resumo, Trump foi igual a si mesmo.
Biden não conseguiu passar muito tempo sem cair nas provocações e por vezes
perdeu a calma e a elevação que costumam caracterizá-lo e que o distinguem do
adversário. Chamou-lhe palhaço, mentiroso e mandou-o calar a boca. Num
debate feito de lama, também acabou por se sujar. O moderador mal conseguia
terminar as perguntas e várias vezes teve mesmo de levantar a voz para
acalmar os ânimos. Foi "um espetáculo de merda", resumiu Dana Bash,
jornalista da CNN, pedindo desculpa por não conseguir encontrar outra palavra
para descrever o que vira. O Expresso seguiu tudo, ao
minuto.
A quatro semanas das eleições, o candidato democrata lidera
as sondagens, com uma vantagem de 7% a nível nacional. Mas isso está longe
de ser sinónimo de vitória. Em 2016 Trump também partia em desvantagem e acabou
vitorioso. Nos últimos dias, a diferença entre os dois tem vindo a
encurtar-se e está mesmo dentro da margem de erro em alguns dos estados
mais importantes, onde habitualmente se decide a eleição.
O debate não parece ter sido decisivo. Assim que terminou, um inquérito da CNN
perguntou aos eleitores se o frente-a-frente a que tinham assistido os impelia
a votar em algum dos candidatos. 57% dos inquiridos responderam que não.
Segundo o mesmo estudo de opinião, a maioria dos telespectadores (60%) atribuem
a vitória a Biden e só 28% a Trump. Mas o resultado do primeiro debate de 2016,
que opôs Trump a Hillary Clinton, foi semelhante e isso não impediu a derrota
da democrata.
O pior é que, desta vez, as eleições têm tudo para terminar francamente mal. Trump
recusa comprometer-se a aceitar o resultado das eleições e admitiu chamar
o Supremo Tribunal (onde tem maioria) para dirimir qualquer litígio. "Vai
ser uma fraude como nunca vimos. Podemos não saber os resultados durante
meses", vaticinou, a propósito dos votos por correio. A violência está à
espreita. Num país a ferro e fogo, Trump recusou ainda condenar os
supremacistas brancos e pediu ao grupo de extrema-direita "Proud
Boys" que se "mantenha a postos".
Não há forma de isto correr bem, resume Germano
Almeida, especialista em política norte-americana. Faltam 34 dias para as
eleições.
OUTRAS NOTÍCIAS
Dado sim, emprestado não. Portugal vai "usar integralmente" os
cerca de 13 mil milhões de euros da União Europeia que chegarão através de
subvenções a fundo perdido, ou seja sem contrapartidas, mas não irá recorrer
aos empréstimos disponibilizados por Bruxelas (que podem ir até aos 15,7 mil
milhões) para não fazer explodir a já avultada dívida pública, garantiu
ontem o primeiro-ministro. O país tem de decidir até 2023 o que quer fazer,
e como, com a "bazuca"
europeia para responder à profunda crise económica e social provocada
pela pandemia.
Investimento na qualificação, reindustrialização, modernização da administração
pública, coesão territorial e cuidados aos mais velhos estão entre as
prioridades do plano que António Costa apresentará até 15 de outubro. Ontem, em
Lisboa, perante a presidente da Comissão Europeia, o Governo já apresentou
alguns exemplos de pequenos e grandes investimentos que serão patrocinados
pelos milhões europeus. Entre eles, uma estrada
de 20 quilómetros.
Ursula von der Leyen não poupou nos elogios ao país, considerando que Portugal
pode até ser "um modelo para os outros". E recebeu os encómios de
volta, cativando
a grande maioria dos conselheiros de Estado. "Há uma líder na
Europa", confia Marcelo. "E gosta de Portugal".
Um milhão de mortos. Foi este o número total de vítimas mortais provocadas
pela pandemia atingido ontem em todo o mundo. A manter-se o ritmo atual, a
fasquia dos dois milhões de óbitos será atingida
em abril. Até agora, mais de metade das mortes foram registadas em apenas
quatro países: Estados Unidos, Brasil, Índia e México. Mas, tendo em conta a
população residente, o Perú é o país com a cifra mais negra, logo seguido da
Bélgica. Portugal surge em 45º lugar.
Nas últimas 24 horas, o país registou 688 novas infeções e mais seis
mortes. No total, contam-se agora 24.561
casos ativos, dos quais 661 estão internados e 99 em cuidados intensivos.
Rutura nos cuidados continuados. O Governo promete criar, com o dinheiro
da Europa, 8000 novas camas de cuidados continuados, mas o presidente da
associação que representa o sector garante que o investimento não será
suficiente. José Bourdain queixa-se de subfinanciamento e de uma grave
falta de enfermeiros e deixa
um alerta: “Basta fecharem duas unidades de cuidados continuados por
falta de pessoal para lançar o caos em hospitais do SNS”.
Apoio à retoma. Só as empresas com quebras de faturação iguais ou
superiores a 75% poderão avançar para a redução total do horário de trabalho,
no âmbito do programa de apoio à retoma progressiva, que deverá estender-se
para o próximo ano para fazer face às dificuldades das empresas mais
afetadas pela pandemia. Neste mecanismo, que se aproxima do lay-off
simplificado, os trabalhadores que ficarão com "horário zero" terão
assegurada uma retribuição equivalente a 88% do salário bruto,
comparticipada a 70% pela Segurança Social e 30% pelo empregador. A garantia
foi dada ontem pelos ministros da Economia e do Trabalho.
O regresso dos adeptos. A partida entre o Santa Clara e o Gil Vicente, que
se disputará este fim de semana, vai ter uma assistência
de mil pessoas, tornando-se o primeiro jogo profissional da época a ter
público no estádio. O encontro funcionará como um "jogo-piloto" para
o regresso dos adeptos às bancadas. O próximo teste será a 7 de outubro, no
jogo da seleção frente à Espanha, que decorrerá no estádio de Alvalade. Também
a partida frente à Suécia, a 14 de outubro e igualmente no recinto do Sporting,
foi autorizada a receber público. Nos jogos da seleção, foi estabelecido um limite
de 5% a 10% da lotação.
Acidente no metro de Lisboa. O colapso de parte do túnel do metro na
estação da Praça de Espanha causou ontem à tarde quatro feridos ligeiros e
obrigou a interromper a circulação entre as Laranjeiras e o Marquês de Pombal,
que deverá permanecer suspensa pelo menos até amanhã. O desabamento atingiu um
comboio, com cerca de 300 pessoas a bordo, e obrigou o motorista a uma travagem
de emergência. Três dos quatro feridos foram assistidos por ataque de ansiedade.
O Metropolitano já abriu um inquérito para averiguar as causas do acidente.
"A escola é no Espaço". Neste que é, provavelmente, o mais
singular de todos os arranques de ano letivo, o Expresso pediu a 20 crianças e
jovens dos 4 aos 18 anos para desenharem o regresso às aulas com o que
encontraram de diferente. Os mais pequenos põem o coronavírus no lugar do sol,
desenham-no enorme ou põem-no a voar e acham que os professores são astronautas
quando agora os veem de máscara. A distância das mesas, a separação dos irmãos
nos recreios, as setas no chão, os frascos de álcool-gel e até as notícias
televisivas com os números da covid-19 aparecem retratados nos desenhos. Vale a
pena espreitar aqui.
FRASES - especial debate às presidenciais norte-americanas
“O facto é que tudo quanto ele disse até agora é simplesmente mentira. Não
estou aqui para denunciar as mentiras dele. Toda a gente sabe que é um
mentiroso”,
Joe Biden, antigo vice-presidente dos EUA e candidato democrata
“É difícil conseguir dizer uma palavra com este palhaço”,
idem
“Calas-te, homem?”,
idem
“Tu não és nada esperto”,
Donald Trump, presidente dos EUA e candidato republicano à reeleição
“A China comeu-te o almoço”,
idem
“Foi o pior debate presidencial que vi em toda a minha vida”,
George Stephanopoulos, antigo porta-voz de Bill Clinton e atual pivô na ABC News
“O povo americano sofreu esta noite, isto foi horrível”,
Jake Tapper, jornalista da CNN
O QUE ANDO A LER
Estou no início de Cinco Travessias do Inferno, o livro que compila o
relato das "melhores viagens horrorosas" da jornalista
norte-americana Martha Gellhorn, uma das mais importantes repórteres de guerra
do século XX, testemunha privilegiada da maioria dos grandes conflitos do seu
tempo, desde a Guerra Civil Espanhola, nos anos 30, até à invasão do Panamá
pelos EUA, no final da década de 1980, passando pela Segunda Guerra Mundial -
assistiu in loco ao desembarque das tropas aliadas na Normandia - e
pela Guerra do Vietname.
A primeira das cinco travessias infernais leva-nos até à China, em 1941, em
plena segunda guerra sino-japonesa. Então com 33 anos, Gellhorn acompanhou o
exército chinês, no meio de trincheiras enlameadas e imundas, entre soldados
descalços "com ar de órfãos tristes".
Nessa "viagem horrível ", a jornalista teve sempre a seu lado um
companheiro que no livro identifica apenas como C.R. (iniciais de Companheiro
Relutante). Na verdade, o companheiro era o marido, Ernest Hemingway, com quem
casara meses antes. Foi, aliás, a Martha que Hemingway dedicou Por Quem os
Sinos Dobram, uma das suas melhores obras.
Na China, Gellhorn e Hemingway enfrentaram pragas de percevejos, dormiram em
camas de tábuas, adoeceram, passaram fome e tremeram de frio. Embarcaram num
avião que se descontrolou e entrou em queda livre "como uma borboleta no
meio de um furacão" e tantas vezes viram a morte de perto que passaram os
dias "agarrados a resquícios de sanidade".
Num desses dias, para fazer uma entrevista, a jornalista viu-se atirada para
dentro de um riquexó, de olhos vendados, e acabou numa cela de paredes caiadas
que tinha por mobília apenas uma mesa e três cadeiras. Do outro lado da mesa
estava Chou En-lai, na altura comunista na clandestinidade, "um homem
fascinante" que a cativou e que viria a ser o primeiro primeiro-ministro
da República Popular da China.
Dezasseis anos depois dessa entrevista, em 1957, uma outra mulher, portuguesa,
também jornalista, seguiria os passos de Martha Gellhorn ao fazer uma extensa
viagem pela China, ao lado do mesmo Chou En-Lai. Chamava-se Maria Lamas, era
minha bisavó e fonte maior de inspiração. Foi por ela que quis ser jornalista.
Na próxima terça-feira passam 127 anos do seu nascimento.
Por hoje é tudo. Tenha um dia bom e acompanhe toda a atualidade em expresso.pt.
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