Inês Cardoso | Jornal de
Notícias | opinião
Como nem tudo na vida é preto e
branco, ou 2+2=4, compreende-se que ensinar questões de grande sensibilidade
moral, religiosa e ideológica não seja tarefa fácil.
O preço que pagamos por não o
fazer é, contudo, bastante maior do que o risco de agitar águas ou de cometer
falhas na disciplina de Cidadania, cujos conteúdos são bastante mais simples do
que parece fazer crer o alarido criado à sua volta.
A falta de civismo ao volante tem
custos. A violência de género, o bullying e a discriminação têm custos. A gravidez
na adolescência tem custos. O alheamento da vida política e a falta de
participação democrática têm custos. A incapacidade em identificar fake news
tem custos.
A definição de currículos e de
linhas orientadoras para a escola não é uma escolha individual, nem à medida de
cada um, seja em que disciplina for. Além do perigo que poderia constituir um
ensino em que cada um escolhia o que quisesse, nem todas as famílias têm a
mesma capacidade para intervir e fazer escolhas informadas.
O que soa mais estranho, quase
incompreensível nesta discussão, é o argumento de que a educação cabe à
família. Há alguma dúvida de que os professores não substituem os pais?
Infelizmente temos demasiadas vezes famílias que não acompanham os alunos nem
sabem o que se passa na escola. O inverso nunca é um problema. Não há segredos
sobre os referenciais da disciplina e nenhuma dificuldade em seguir e discutir
em casa o que os filhos aprendem na escola.
Além de bafienta, a discussão
chega a parecer digna de riso num Mundo feito de informação, em que os mais
novos têm tudo à mão. Não há nada, nem em temas ditos fraturantes como a
identidade e o género, que eles não vasculhem e comentem desde cedo. O difícil,
hoje, não é ter acesso à informação.
É saber mover-se no meio dela,
desenvolver espírito crítico e fazer escolhas. A transmissão de valores cabe em
primeira linha à família, mas o caminho a percorrer resulta de uma soma
complexa de contributos. Os filhos não são dos pais, no sentido possessivo ou
restritivo do termo. E se a falta de horizontes pode criar-lhes problemas, o
inverso nunca.
*Diretora-adjunta
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