Domingos De Andrade*
| Jornal de Notícias | opinião
O que se passou com a
resolução do BES em 2014, no Governo PSD/CDS, e a venda do Novo Banco ao Fundo
Lone Star em 2017, no Governo PS, é demasiado sério para que o relatório da
auditoria da Deloitte pouco mais tenha servido do que de arma de arremesso da
Oposição ao Governo socialista e dos socialistas ao Governo então liderado por
Passos Coelho.
Do que se sabe, e é pouco, do que
se saberá depois do documento ser expurgado dos segredos do sigilo bancário, e
prevê-se que pouco seja, sublinham-se os milhares de milhões de prejuízos, que
residem num passado longínquo onde tudo cabe e as responsabilidades se diluem.
Esse, o passado, começa no
comunicado do Ministério das Finanças, que assinala "insuficiências e
deficiências graves de controlo interno no período de atividade até 2014 do
Banco Espírito Santo". São apontadas perdas de quatro mil milhões de euros
em 283 operações, a grande maioria das quais recuando ao tempo da resolução.
São as primeiras informações que
permitem, por exemplo, à Administração do Novo Banco justificar as perdas
incorridas à "exposição de ativos que tiveram origem no período de
atividade do BES e que foram transferidas para o NB". Permite mais,
segundo um comunicado da Administração de António Ramalho: "evidencia a
importância da alienação de ativos para a recuperação do balanço" do
banco. Em linguagem simples, contas simples: o passado é mau, o presente é
extraordinário, o futuro é radioso.
O presente, e a auditoria só
abrange o período entre 2000 e 2018, deixa de fora dúvidas tão legítimas quanto
se a venda à Lone Star agravou ou não as condições da instituição, ou como foi
possível que em cinco operações o banco tenha perdido 600 milhões de euros,
mais a rede intrincada dessas vendas e a quem.
Claro é o facto de um banco bom
criado para salvar um banco mau ter hoje a sua credibilidade nacional e
internacional hipotecada, apenas suportado pela resiliência dos clientes. E dos
contribuintes, para quem nada disto pode ser normal.
*Diretor
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