quarta-feira, 2 de setembro de 2020

Tens covid? Chega-te para lá

Bom dia, este é o seu Expresso Curto

Stayaway Covid: Tens covid? Chega-te para lá

Martim Silva | Expresso

Bom dia e bem-vindo ao seu Expresso Curto desta quarta-feira, dia 2 de Setembro, em que passam seis meses do início da pandemia em Portugal (o primeiro caso foi diagnosticado a 2 de Março) e em que por cá já temos uma aplicação que nos pode dizer se andamos a ter companhias pouco recomendáveis (em termos covídicos, entenda-se), em que os partidos continuam no tradicional exercício de passa-culpas à volta do Novo Banco e em que nos Estados Unidos o clima está verdadeiramente explosivo.

Venha daí comigo

STAYAWAY COVID

Confiar ou não confiar? A defesa escrupulosa dos direitos e liberdades individuais e da minha privacidade ou ceder e fazer um esforço pelo colectivo? Descarrego ou não descarrego?

Ir à loja, neste caso virtual, para descarregar uma aplicação, é um gesto mecânico e automático para milhões e milhões de pessoas em todo o planeta, todos os dias e a toda a hora. E estas inquietações não surgem na maior parte dos casos. Confiamos. Ou não pensamos nisso.

Foi lançada esta terça-feira, com aparato (pelo primeiro-ministro e ainda os ministros Manuel Heitor e Marta Temido) a aplicação Stayaway Covid, que permite ao portador de um telemóvel com essa app descarregada detetar possíveis casos de contágio nas pessoas das proximidades.

Esta aplicação serve para que possa ser avisado caso tenha estado mais de 15 minutos perto de alguém com a covid 19. Não é em caso algum identificada a pessoa em questão, mas desta forma, ao ser alertado pelo seu telemóvel, fica com mais dados que lhe podem permitir avaliar se deve ou não tomar precauções e contactar as autoridades de saúde.

Aqui pode perceber melhor como funciona esta ‘vade retro covid’.

António Costa garante não só a segurança da aplicação como que esta é à prova de engraçadinhos.

Uma das garantias de segurança e inviolabilidade dos dados que nos é dada é precisamente o facto de cada país ter a sua aplicação, caso o entenda. Aqui pode perceber melhor como está a coisa a funcionar lá por fora.

O novo sistema gera naturalmente muitas dúvidas e críticas. Estes são os alertas feitos pela Deco, a associação de defesa do consumidor.

E cerca de 800 mil telemóveis existente no país não têm capacidade para descarregar a nova aplicação.

Apesar de todas as dúvidas, eu já a descarreguei e tenho-a no meu pequeno ecrã. E não hesito em sugerir que faça o mesmo

FESTA DO AVANTE

Aproxima-se a abertura da tradicional festa de rentrée comunista, este ano mais mediática que nunca, pelas dúvidas que levanta a realização de um evento com a concentração de milhares de pessoas em altura de pandemia.

Estivémos em reportagem junto ao local onde se realiza o Avante para perceber como as populações estão a receber a realização da iniciativa.

Rui Rio aproveitou a notícia do New York Times sobre a Festa do Avante para dizer que se no início da pandemia o nosso país era um bom exemplo lá fora, agora as coisas são bem diferentes.


OUTRAS NOTÍCIAS

Cá dentro,

Foi finalmente aprovado o primeiro curso privado de Medicina em Portugal, uma reivindicação antiga e que durante anos tinha vindo a ser rejeitada pelas autoridades, alegando o incumprimento dos requisitos necessários. O anúncio desta aprovação foi feito pela Reitora da Universidade Católica, instituição que vai assim ser a primeira faculdade privada a formar médicos em Portugal.

Marcelo vai fazer um break. É mesmo verdade. Não acredita? Leia o que a Ângela Silva escreve ontem no Expresso:

“Nos próximos dias, com o "Avante!" e a auditoria ao Novo Banco no olho do furacão, Marcelo Rebelo de Sousa vai fazer um 'break" por uns dias. O Presidente alivia a pressão, após uma rentrée inesperadamente musculada. A cinco meses das presidenciais, com Ventura já na estrada e Ana Gomes por um fio, Marcelo Rebelo de Sousa corrigiu em público a estratégia do primeiro-ministro, criticou a Direção Geral da Saúde e o Ministério da Educação, e disse ao povo zangado para "votar noutro Governo".

A auditoria ao Novo Banco já está a gerar forte discussão, embora o documento ainda não seja conhecido, apenas a parte dele que foi divulgada pelo comunicado do Ministério das Finanças.

O Governo considerou o documento elaborado pela Deloitte confidencial e agora no Parlamento está a decidir-se quais as partes que se vão manter sigilosas, pelo respeito ao sigilo bancário, e quais as que devem ser conhecidas.

Do pouco que já se sabe, realce para a análise das perdas de mais de 4 mil milhões de euros que são consideradas na sua grande maioria como responsabilidade da gestão pré-2014, ou seja no tempo do Banco Espírito Santo e Ricardo Salgado.

CDS já pediu que sejam ouvidos com urgência no Parlamento Mário Centeno, Governador do Banco de Portugal, e João Leão, o seu sucessor à frente da pasta das Finanças. O Bloco de Esquerda veio exigir a divulgação pública do documento.

O PS optou por lançar as culpas para o Governo Passos/Portas, dizendo que a resolução de 2014 foi deficiente, e o que se julgava que era o ‘banco bom’ afinal não o era assim tanto.

Aqui fica um resumo de tudo o que se passou politicamente ontem à volta deste assunto.

AULAS. Tema forte neste início de mês, e seguramente durante as próximas semanas, é a preparação para o regresso às aulas, com o novo ano letivo, seis meses depois do início da pandemia e do confinamento.

Nas creches e colégios já se está a trabalhar, e todos se vão habituando às novas regras de higienização, de funcionamento das instituições e de distanciamento social. Os pais, esses, têm de ficar à porta.

Mário Nogueira, líder da Fenprof, veio acusar o Governo uma vez mais de não ter criado as condições para garantir um regresso seguro às aulas.

Investigadores portugueses ajudaram à descoberta mundial que promete revolucionar tratamento da depressão e de outras doenças psiquiátricas

O consumo de gás natural subiu quase cinco por cento em agosto.

Lá fora,

CHARLIE HEBDO. O julgamento sobre os ataques terroristas de janeiro de 2015 em Paris, incluindo à revista satírica Charlie Hebdo, em que morreram 17 pessoas, começa esta quarta-feira em Paris, com 14 pessoas no banco dos réus e um júri especial.

EUA

Dizer que os Estados Unidos se encontram a ferro e fogo e num clima verdadeiramente de cortar à faca pode ser um chavão, mas é provavelmente o que melhor caracteriza a situação verdadeiramente explosiva.

Na última noite, Donald Trump, contra a indicação do próprio governador do estado do Wisconsin, deslocou-se a Kenosha, que desde o passado dia 23 de agosto – quando mais um cidadão negro foi baleado à queima-roupa por agentes policiais - tem sido palco de fortes confrontos e manifestações, raciais e políticos.

Já há vários casos de apoiantes de um lado e do outro baleados nesses confrontos.
No meio deste caldeirão a ferver, Democratas e Republicanos estão numa cerrada campanha eleitoral, o que só ajuda a que os ânimos fiquem ainda mais acesos.

Não sei se o leitor já pensou nisto, mas eu, confesso, não consigo deixar de o fazer, por mais masoquista que possa parecer: e se Trump ganha as eleições de Novembro para um segundo mandato na Casa Branca?

FACEBOOK

Não se pode dizer que tudo começou há quatro anos, mas o que aconteceu há quatro anos, com a interferência russa nas eleições norte-americanas, marcou um antes e um depois. Ainda no último Curto que escrevi, alertei para um livro, “Lie Machines”, que fala longamente sobre o IRA, a agência de espionagem criada pelo regime de Putin para interferir nas redes sociais, quer internamente quer a nível internacional. Agora, o The New York Times diz que a mesma agência russa já foi detectada a tentar perturbar a campanha norte-americana deste ano, com a criação de sites de notícias falsas e a veiculação de fake news e desinformação, de forma a prejudicar o candidato democrata e a beneficiar Trump.

SUÉCIA

Desde o início da pandemia que todos sabemos que a Suécia se tem caracterizado por ter ido, digamos assim, contra a corrente maioritária, ou esmagadoramente maioritária, adoptada pelos países. É assim também na questão do uso das máscaras.

Zona Euro

A inflação baixa pode ser uma boa notícia. Mas como qualquer economista pode explicar, também essa boa notícia pode chegar a um ponto em que deixa de o ser. Pela primeira vez em quatro anos, o a Zona Euro registou inflação… negativa.

DESPORTO

À primeira oportunidade, Roglic mostrou porque é um dos grandes candidatos à vitória no Tour

Naomi Osaka tem sete máscaras com sete nomes diferentes. E espera chegar à final do US Open para mostrar alguns dos nomes da desigualdade

De Rosario para Barcelona: pai de Messi a caminho da Catalunha para resolver saída

FRASES

“Descarregar a aplicação é um dever cívico”, António Costa, sobre a Stayaway Covid

“Infelizmente, agora esta questão da Festa do Avante até já é exemplo negativo no estrangeiro”, Rui Rio, sobre a notícia do NYT à volta das festa comunista

"Há um António Costa que apregoa crises, e outro que apregoa consensos. Uma espécie de Dr. Jekill e Mr. Hide da política", Henrique Monteiro, no Expresso

O QUE ANDO A LER

As últimas duas semanas, desde que aqui nos encontrámos pela última vez, têm sido particularmente frutuosas neste campo. E os dias que se avizinham ainda parecem mais cativantes.

Depois de muito hesitar sobre se lia ou não a auto-biografia de Woody Allen, uma figura de referência para mim durante muitos anos, finalmente atirei-me de cabeça ao livro "A Propósito de Nada", editado por cá pelo grupo Almedina.

Para quem, como eu, cresceu a ler Sem Penas ou a ver Manhattan, Alice, Annie Hall, Inimigo Público e tantos outros filmes irresistíveis, o regresso a Woody Allen consegue ser carregado de prazer e sorrisos.

Claro que o livro entra, e muito, pelo conflito de décadas com Mia Farrow, pelas acusações de abuso sexual, pela sua relação com a filha adoptiva de Farrow desde que esta tinha 22 anos.

Antes, o regresso ao meu mais confortável pouso de leitura sempre que não sei bem o que ler. Andei pelas aventuras do execrável Teodorico, à caça da fortuna da sua beata tia titi, entre Lisboa e a Terra Santa. A Relíquia, de Eça de Queiroz, claro está.

Finalmente, para iniciar Setembro, dois pratos bem suculentos: "Os Doentes do Doutor Garcia", da espanhola Almudena Grandes,
e o novo e muito aguardado romance de Elena Ferrante, saído ontem mesmo por cá.

Já chega. Tenha uma excelente quarta-feira e muito boas leituras.

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