MOÇAMBIQUE
A francesa Total está a financiar
as tropas de Moçambique na luta contra o terrorismo
A petrolífera francesa Total assinou, em agosto, um acordo com o Governo moçambicano para dar apoio logístico às autoridades no combate aos insurgentes armados que atacam o norte de Moçambique. O facto está a ser criticado pela sociedade civil, que acusa os governantes em Maputo de estarem a privatizar o Estado e a segurança do país, o que pode pôr em causa a soberania nacional.
"A Total primeiro
comprometeu-se a responsabilizar-se pelos salários de um batalhão de fuzileiros
navais
A ajuda da petrolífera francesa
representa um alívio financeiro para as autoridades centrais. Já em julho,
Moçambique procurou o apoio militar de França para dar resposta ao terrorismo
Segundo André Thomashausen, a França e as suas multinacionais mantêm uma relação quase "siamesa", o que significa que a atuação destas empresas se pode traduzir numa tentativa de ingerência política. Um exemplo disso é o caso do Gabão, onde Paris terá garantido a permanência dos Bongo no poder durante décadas, em troca de "facilidades" na exploração do petróleo.
Será que Moçambique pode escapar a uma ação semelhante?Calton Cadeado, especialista em paz e segurança, destaca que Moçambique goza de "uma diferença" face a outros estados na região: "Não dá o monopólio a ninguém em matéria de exploração de recursos estratégicos", assevera. "Hoje, a Total está aqui, mas é uma presença que não é monopolista, então isto pode eventualmente diminuir o engajamento da força francesa na zona", acrescenta.
"Não temos forças francesas estacionadas aqui, há uma força mínima na zona do Oceano Índico. Há elementos para acreditar que sim, que pode existir essa ingerência, mas também não", duvida o especialista.
Calton Cadeado recorda ainda que Moçambique, por não ter sido uma colónia francesa, escapa à sua influência, embora este país africano esteja na zona de interesse de França, que tem domínio sobre algumas ilhas no Índico. "Se amanhã acontecerem mais atrocidades e gente espancada até à morte e terrivelmente humilhada, a Total, que está a pagar os salários, poderá ser obrigada a explicar-se", adverte o analista.
O facto de França ter as suas
ilhas mesmo em frente a Moçambique é uma vantagem muito grande para esse país
europeu, na eventualidade de uma intervenção militar
Já Calton Cadeado acredita que em caso de irregularidades numa eventual relação com França, Moçambique terá sempre o apoio dos "irmãos regionais" da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC). "Não nos esqueçamos que a SADC está aqui e é muito contra essa ingerência de potências externas", salvaguarda o analista.
"Mesmo dividida ou com desentendimentos, quando se trata de uma entrada externa com muita força, a SADC pode unir-se e fazer diminuir o entusiasmo da intervenção de França. Não nos esqueçamos que na zona Ocidental de África, onde França tem esse protagonismo, também sofreu a pressão de países como a Nigéria e até de antigas colónias como o Senegal, que não viram com bons olhos" a ingerência desse país, conclui.
Nádia Issufo | Deutsche Welle
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