A RENAMO anunciou que "não tem nada a negociar" com a autoproclamada Junta Militar, fora da sua agenda de paz e reconciliação nacional. Governo moçambicano diz que o partido tem o dever de trazer dissidentes à paz.
Este é o primeiro pronunciamento público do maior partido da oposição após a declaração da trégua unilateral que está a ser observada pelas forças governamentais desde domingo (25.10). A trégua destina-se a permitir o diálogo com a Junta Militar, um grupo dissidente da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO) que protagoniza ataques no centro do país.
A RENAMO considera que a trégua unilateral do Governo é mais uma oportunidade para se criar um ambiente de entendimento e chamar à razão os integrantes do grupo dissidente. Contudo, aponta que algumas vozes, que se caracterizam como porta-vozes da Junta Militar, querem empurrar a RENAMO para uma situação que não faz parte da agenda política do partido e do seu presidente, Ossufo Momade.
"Somos pela paz e reconciliação, por isso, queremos dizer aqui e agora que fora da nossa agenda não temos nada a negociar com a autoproclamada Junta Militar", disse esta quinta-feira (29.10) aos jornalistas José Manteigas, porta-voz da RENAMO.
A Junta Militar, liderada por Mariano Nhongo, um antigo general da RENAMO, não reconhece o atual líder do partido, Ossufo Momade, nem o acordo de paz que assinou com o Governo.
Na quarta-feira (28.10), o chefe de Estado, Filipe Nyusi, apelou à RENAMO para não se distanciar dos esforços em curso com vista a alcançar-se um entendimento com a Junta Militar, tendo indicado que os argumentos apresentados por este grupo referem-se diretamente à RENAMO.
Uma questão de Estado
Questionado se a RENAMO vai participar nos contactos com a Junta Militar, José Manteigas disse que essa é uma questão de Estado. "O que está em causa é a soberania do Estado, é a integridade física dos cidadãos, é a vida dos moçambicanos e quem tem o dever de proteger esses bens jurídicos é o Governo", esclareceu o porta-voz.
José Manteigas lembrou que Mariano Nhongo sempre se recusou a sentar-se à mesma mesa com a RENAMO para informar sobre as razões que o levaram a enveredar pela violência.
"A RENAMO não está fechada, mas sentimos que, se o senhor Mariano Nhongo se coloca numa posição adversa à posição da RENAMO, seria muito pouco provável que houvesse um envolvimento da própria RENAMO e do seu presidente", acrescentou o porta-voz, lembrando que o próprio Nhongo já ameaçou de morte Ossufo Momade e outros quadros do partido.
Ainda esta quarta-feira (28.10), o ministro do Interior, Amade Miquidade, afirmou que a RENAMO tem o "dever patriótico" e no interesse da paz de fornecer toda a informação relativa à Junta Militar, nomeadamente as bases, homens, localização e esconderijos.
Governo "apadrinhou" Junta Militar
José Manteigas acusou o Governo de ter "apadrinhado" a Junta Militar no passado, ao contrário da RENAMO, que, conforme afirmou, não teve nenhuma cota-parte na criação deste grupo.
"O senhor ministro não pode imputar a incapacidade, a inoperância e a ineficácia das Forças de Defesa e Segurança na RENAMO", sublinhou.
A trégua unilateral do Governo acontece numa altura em que está em curso o processo de desarmamento e reintegração das forças residuais da RENAMO, que não é aceite pela Junta Militar. O porta-voz da RENAMO reiterou que o seu partido vai continuar a conduzir este processo com toda a responsabilidade e serenidade.
Ainda durante a conferência de imprensa, José Manteigas exigiu a responsabilização das pessoas envolvidas na atual onda de raptos, sequestros e assassinatos seletivos de cidadãos civis e indefesos e exortou igualmente o Governo a responder às reivindicações da classe médica em tempos de Covid-19.
Leonel Matias (Maputo) | Deutsche Welle
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