Isabel Moreira | Expresso | opinião
Qualquer pessoa livre prefere ser arrastada pela rua a ceder a sua privacidade a um polícia. Afrontar este apego à liberdade foi um erro político crasso
Talvez.
Talvez tenha sido essa a intenção de António Costa quando apresentou no local certo, a Assembleia da República, a proposta de lei que agora monopoliza as notícias, essa que determina a obrigatoriedade do uso de máscara ou viseira para o acesso ou permanência nos espaços e vias públicas e a obrigatoriedade da utilização da aplicação STAYAWAY COVID em contexto laboral ou equiparado, escolar e académico. A polémica, claro, diz respeito à aplicação, que pressupõe cidadãos de primeira e de segunda, os que têm dispositivos para a aplicação e os que não os têm, mas, mais grave, que introduz uma rutura no pensamento acerca do Estado de direito que usa nortear o Governo.
É tão difícil perceber o que leva este Governo em concreto a aprovar a iniciativa que desenhou um mundo em que somos obrigados a ter um comportamento dependente de um outro que é opcional (ter ou não o dispositivo), somos fiscalizados por um qualquer polícia sem mandato e devidamente coimados, que talvez a razão da iniciativa esteja mesmo na dramatização.
António Costa quer provocar um debate, quer mexer com as consciências num momento em que a pandemia assusta em número de infetados.
Talvez.
Acontece que o poder de iniciativa legislativa não serve para dramatizar ou para alertar ou para provocar debates. Quando se apresenta uma proposta de lei é bom que se queira a sua aprovação.
Não acredito que António Costa queira este (nosso) policiamento.
Andou mal, por isso, em apresentar a proposta que sabe que não passará.
Qualquer pessoa livre prefere ser arrastada pela rua a ceder a sua privacidade a um polícia.
Afrontar este apego à liberdade foi um erro político crasso.
Pode ter sido uma mera dramatização.
Mas não se dramatiza com a liberdade.
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