quarta-feira, 21 de outubro de 2020

Portugal | "Não é seguro fazer o teste, dar negativo e ficar tranquilo...

Para que se faz o teste? Para nada"

Perante as dúvidas de muitos, o presidente da associação dos médicos de família explica os casos em que se tem ou não de fazer testes à Covid-19.

É uma das dificuldades dos médicos de família nos últimos tempos: explicar aos utentes e eventuais contagiados com Covid-19 que, na maioria dos casos, quando não há sintomas, não têm nem devem fazer o teste.

"Acontece com todos e recorde-se que os médicos de família estão a seguir 97% dos casos ativos de Covid-19", explica o presidente da Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar. "Na verdade, nem sempre é fácil compreender a necessidade de fazer ou não um teste que é um teste de diagnóstico e não de rastreio", acrescenta.

Rui Nogueira explica à TSF que a norma da Direção-Geral de Saúde (DGS) é fazer isolamento cada vez que uma pessoa esteve em contacto próximo, menos de dois metros e durante mais de 15 minutos, com um doente; sem fazer o teste nos casos em que o eventual infetado não apresenta sintomas.

Vários utentes que passam por médicos de família estranham, mas o representante da classe sublinha que é isso que está previsto na norma e aquilo que tem lógica, pois um teste negativo hoje não significa que amanhã a mesma pessoa não esteja positiva, dando-lhe, pelo contrário, uma falsa sensação de segurança.

Isolamento

"Tendo em conta o período de incubação deste vírus, se vamos testar imediatamente a seguir a um contacto, a possibilidade de dar negativo é grande e depois, afinal, a pessoa vem a desenvolver a doença", refere Rui Nogueira.

"Não é seguro fazer um teste, dar negativo e ficar tranquilo... Então para que é que faz o teste? Para nada... E o que é que a pessoa tem de fazer? Isolamento, tal como teria de fazer se o resultado fosse positivo", explica o presidente da associação dos médicos de família, para quem esta é a única forma de travar a pandemia.

"É tão simples como isto e este isolamento é a grande medida que tivemos na primeira onda e que agora, com tantos contágios, já não é fácil de garantir", afirma Rui Nogueira, que dá o exemplo, positivo, da presidente da Comissão Europeia, Von der Leyen, que, depois de ter estado próxima de Lobo Xavier, numa reunião do Conselho de Estado, em Portugal, anunciou que ia ficar em isolamento, mesmo com um teste negativo.

Restaurantes reclamam testes ao Estado

É a norma anterior que leva a que os empresários da restauração se tenham deparado com médicos que não pedem testes a quem esteve em contacto próximo com pessoas com suspeitas ou mesmo casos confirmados de Covid-19. 

Uma situação que não é, contudo, exclusiva deste setor e que levou a Associação da Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal (AHRESP) a defender, esta terça-feira, que o Estado deve disponibilizar gratuitamente testes a empresas que lidam diretamente com o público.

Sem testes passados pelos médicos de famílias ou de saúde pública, a secretária-geral da AHRESP, Ana Jacinto, detalha à TSF que "muitas empresas estão a realizar testes aos seus trabalhadores", num custo pesado, superior a cem euros por teste, para um setor muito afetado pela crise.

A associação refere que as empresas sentem-se na obrigação de pagar estes testes, "quer por uma questão de responsabilidade para salvaguarda da saúde pública, quer também por 'imposição' dos restantes trabalhadores, que se recusam a prestar atividade junto de alguém que pode ser considerado um caso suspeito".

Nuno Guedes | TSF

Sem comentários:

Mais lidas da semana