domingo, 11 de outubro de 2020

Portugal | Ventura agradece a ajuda

Paulo Baldaia | Diário de Notícias | opinião

Sem ilusões, quando se aproxima uma chuva de milhões e se alteram as regras para gastar mais rapidamente o dinheiro, como já aconteceu em 2008 com a aprovação do Código dos Contratos Públicos, o mais provável é que a urgência no combate à crise seja uma boa desculpa para flexibilizar essas regras e, assim, escancarar as portas à criminalidade. O que pode vir a acontecer não é uma certeza, mas há muito conluio, muita cartelização e muita corrupção a serem investigados e julgados pelo que aconteceu nesse passado recente, e isso serve-nos de aviso quando a história começa a repetir-se.

Volta a chuva de milhões, volta a flexibilização das regras nos contratos públicos, e só não podemos afirmar, com certeza, que vão crescer o conluio, a cartelização e a corrupção. Mas os avisos de que tudo isto pode acontecer, esses também já foram repetidos. E a ideia de que quem avisa amigo é não se aplica nunca nestas histórias. Convenhamos, o país não fica obrigado a ser mais corrupto porque muda a lei e recebe milhões, mas dá para desconfiar, até porque já começaram a aparecer os políticos a apontar o dedo aos que desconfiam. Caladinhos, é assim que eles gostam dos portugueses. Como se a culpa fosse dos que desconfiam destes movimentos e nada houvesse para questionar.

Só mentes conspirativas são capazes de imaginar que em Portugal há corrupção. Os puros sabem que tudo isso é uma inexistência. Não há um juiz expulso, uma jubilada e mais dois suspensos em tribunais superiores. Nem um magistrado do Ministério Público condenado a uma pena de prisão efetiva a aguardar em liberdade que o recurso seja decidido. Nem um primeiro-ministro acusado, nem ex-ministros julgados, condenados e a cumprir prisão. Nem um grande banqueiro apontado como o manobrador-mor de uma elite que vivia dobrada com o peso dos salamaleques. E tudo isto só pode significar que a justiça funciona, mas também deixa em muitos portugueses a ideia de que o país está a saque e que quem os rouba é quem tem dinheiro e poder.

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