Cerca de 20 diplomatas europeus visitaram hoje um bairro em Jerusalém oriental para pedir a Israel que reconsidere o projeto de ali construir casas para colonos, o que inviabilizaria um Estado palestiniano, tendo sido recebidos por manifestantes israelitas.
"O que estamos aqui a ver é uma tentativa de anexação de facto e não pode continuar", afirmou o representante da União Europeia (UE) em Jerusalém, Sven Kühn Von Burgsdorff, durante a visita ao bairro Givat Hamatos.
A autoridade israelita que gere a propriedade de terras lançou ofertas de construção de mais de 1.200 casas, a maioria das quais residenciais, para aquela área, disse no domingo a organização Ir Amim, uma organização sem fins lucrativos que pretende tornar Jerusalém uma cidade justa e sustentável para israelitas e palestinianos.
A autorização para a construção de até 3.000 unidades habitacionais na região foi dada em fevereiro pelo primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu.
Se as casas forem construídas, Jerusalém oriental vai ficar separado de Belém [cidade palestiniana na Cisjordânia que se assume como centro cultural e turístico da Palestina], "tornando difícil para os residentes de Jerusalém oriental entrarem na Cisjordânia", observou Sven Kühn Von Burgsdorff.
O projeto "também prejudicará a continuidade de um futuro Estado palestiniano, conforme previsto pelas resoluções do Conselho de Segurança da ONU e aceites internacionalmente", acrescentou o diplomata alemão, pedindo "às autoridades israelitas que revoguem a decisão".
A visita dos diplomatas europeus foi interrompida por cerca de 50 ativistas de extrema-direita, que agitaram bandeiras israelitas e gritaram "UE, tem vergonha!" tão alto que os membros da delegação europeia não conseguiram fazer declarações públicas e tiveram de se deslocar para outra parte da cidade.
"Este plano de expansão deixa alguns observadores a pensar se Israel não está a tentar criar `factos concretos` antes de o Presidente norte-americano eleito Joe Biden assumir o cargo, em janeiro", referiu Sven Kuhn von Burgsdorf.
"É muito importante demonstrar união na comunidade internacional e demonstrar que qualquer projeto, qualquer construção ilegal aos olhos do direito internacional, não pode avançar", disse.
Os palestinianos reivindicam um futuro Estado que inclua Jerusalém oriental e a Cisjordânia - territórios ocupados por Israel na guerra de 1967 - e veem os colonatos como um grande obstáculo à paz.
Com quase 500.000 colonos a viver atualmente na Cisjordânia e mais de 220.000 em Jerusalém oriental, os palestinianos consideram que as hipóteses de criar um Estado estão rapidamente a diminuir.
Israel rejeita há muito as
críticas internacionais aos colonatos, mas a decisão de prosseguir com a
construção de casas
O secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, planeia visitar um colonato judeu na Cisjordânia ocupada no final desta semana, contrariando as decisões dos seus antecessores, que muitas vezes se manifestaram contra a construção de assentamentos.
Também o enviado da ONU para o Médio Oriente, Nickolay Mladenov, disse hoje, em comunicado, que está "muito preocupado" e pediu às autoridades que revejam o projeto.
A colonização israelita nos Territórios Palestinianos cresceu muito nos últimos anos sob a liderança do primeiro-ministro Netanyahu e desde a chegada de Donald Trump à Casa Branca, já que o ainda Presidente dos EUA abandonou uma posição assumida durante décadas pelo país, que considerava os assentamentos ilegítimos.
Mais de 600.000 israelitas vivem em colonatos, considerados ilegais pelo direito internacional, na Cisjordânia e em Jerusalém oriental, enquanto três milhões de palestinianos vivem nesses territórios ocupados por Israel desde 1967.
RTP | Lusa
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