segunda-feira, 20 de janeiro de 2020

OS PORTUGUESES QUEREM O BEM DE ANGOLA?


Pedro Tadeu | TSF | opinião

Os comentadores e atores políticos portugueses repetem-se em sentenças moralistas sobre como os políticos angolanos deviam atuar. Fizeram isso no tempo da presidência de José Eduardo dos Santos e fazem-no agora no tempo de João Lourenço.

A propósito da investigação angolana a Isabel dos Santos, ouvi ontem a antiga diplomata Ana Gomes dizer que as denúncias que ela protagoniza sobre o tema têm como objetivo primordial "o bem do povo angolano".

Essa frase implica uma visão paternalista sobre Angola pois admite que os angolanos não sabem conquistar o seu próprio bem sozinhos e, por isso, precisam de ajuda do lado português.

O que eu pergunto é isto: os portugueses podem dar lições a Angola?

Tenho muita dificuldade em dar lições de moral a quem, através do meu país, sofreu 400 anos de colonização violenta.

Tenho muita dificuldade em dar lições de moral a um povo que o meu país transformou no maior produtor de escravos de toda a história da África ocidental.

Acho que antes de, paternalmente, andarmos todos agora a felicitar o funcionamento do Estado de Direito em Angola, deveríamos lembrar-nos de como escrevemos e abusámos de leis injustas, quando estivemos a mandar nas colónias até há 45 anos, dedicados à tarefa de explorar a população negra de forma inaceitável, mesmo para os padrões da época.

Acho que antes de andarmos a bradar que a corrupção em Angola é uma vergonha, deveríamos analisar a consciência portuguesa pela manutenção de uma guerra colonial sangrenta, em Angola e noutras colónias.

Portugal | O Livre para lá de Joacine: quem são as (novas) caras do partido?


Há sangue novo no Livre, mas também figuras com experiência que se estão a afirmar a nível interno. Embora privilegiem a paridade são mais mulheres a candidatar-se à direção, enquanto os homens preferem concorrer à Assembleia. Mas todos partilham a mesma visão – ecológica, de esquerda e europeísta – e prometem novos projetos para o partido que se quer "emancipar" e "renascer" após a atual crise

JORGE PINTO: DO PS PARA O LIVRE

É um dos principais rostos do Livre e o único elemento que integrou os três Grupos de Contacto (direção) que o partido teve desde a fundação. Natural de Amarante, Jorge Pinto interessou-se desde cedo pela política – foi militante do PS entre os 18 e os 25 anos, mas percebeu depois que os socialistas não representavam os seus "ideais de esquerda progressista, ecológica e europeísta". Foi então em 2013 que contactou Rui Tavares e se manifestou disponível para integrar o Livre, próximo das eleições primárias após ter privado com o fundador em jantares.

"Defendemos políticas e soluções sempre com base na perspetiva ecológica e social. Gostamos de utopias concretas que acreditamos que podem deixar de ser utopias face à nossa visão para uma sociedade mais integrada e sustentada", afirma o engenheiro ambiental, de 32 anos.

Foi um dos autores do “Manifesto para um futuro europeu”, e coordenou o “Desafio à Diáspora”, outro manifesto escrito por vários apoiantes do Livre que residem no estrangeiro. A viver há mais de uma década em Bruxelas, Jorge Pinto trabalha como especialista ambiental numa agência europeia e procura a partir da capital belga estabelecer contactos com outros membros do partido e dinamizar os núcleos locais em Portugal. "Penso que o mais urgente é aumentar a nossa implantação territorial, através da criação e reativação de núcleos regionais, assim como a garantir formação política", defende.

A ideia embrionária de criar uma academia política – que contacte numa primeira fase especialistas para discutir assuntos prioritários para o partido e depois assumir uma posição pública – partiu dele e está a ser trabalhada com Teresa Leitão, outro membro do Livre que atua como intérprete no Parlamento Europeu. O objetivo é tentar introduzir os temas do Livre na agenda política.

Isabel… Ou como quanto mais se mexer no esgoto pior vai cheirar


Segunda-feira gelada. Contrastando temos a possibilidade de nos aquecermos com um Expresso Curto cremoso e quentinho. Melhor que cacau – não o da Ribeira (Lisboa) que já não é o que era. Sabem lá os mais novos de idade o que perderam. Voltando ao quentinho, do Expresso e da comunicação social basta proferir um nome: Isabel dos Santos, a dos milhões roubados aos angolanos. Avancemos.

Acerca dessa sujeita, menina que começou por vender ovos aos angolanos (deviam ser ovos de ourJ), que cresceu e estudou para se afirmar como grande ladra de Angola e dos angolanos (o papá nem sabia, coitado – decerto também entretido nos seus saques) ferve este Curto e a comunicação social em geral (até os jornalistas que receberam de Ricardo Salgado Enterprises “luvas” em offshores - quem?) sobre lume bem atiçado como se o dito e escrito sobre Isabel fosse novidade. Mas, não, não é novidade. A não ser que a novidade seja que desta feita tiveram de deitar cá para fora com grandes parangonas os roubos sucessivos praticados por suposta autoria de Isabel dos Santos. Já não havia volta a dar. Vai daí pretendem vender como novidade o que uns quantos jornalistas estrangeiros ou pelo menos capacitados para investigar (coisa rara em Portugal) divulgaram. Por cá, os profissionais domesticados assobiam para o lado e debitam a novidade… Assim faz o Banco de Portugal e outros megeros da especialidade bancária. Dos políticos e governos também, assim como outros profissionais das engenharias financeiras. Afinal doutores que aprenderam nas universidade como viver na opulência dos que estão por cima dos povos português e angolano (pelo menos) – gestores, advogados, Justiça e etc.

Depreende-se com um elevado grau de fiabilidade que em Portugal existem comparsas de Isabel e dos roubos que ao longo do tempo foram depauperando e empurrando para a miséria conhecida os angolanos. E consequências? Pois não devemos esperar que ocorram para a maioria dos cúmplices de Isabel dos Santos. Os mafiosos doutorados – reles criminosos que deviam ser apontados um por um – podem dormir descansados porque neste país à beira-mar situado as máfias da política e da economia, entre outras, têm o estatuto de impunidade. O tempo o dirá, como sempre.

Como gato a atacar o bofe, petisco apreciado e desejado pelo animal, vimos que cai tudo sobre Isabel, a ladra, como se ela não recorresse aos "trabalhadores" de falcatruas económicas e financeiras de Angola e de Portugal e de outros comparsas criminosos de países, empresas e bancos (governos?) de uma fatia importante do mundo.

Isabel roubou Angola e os angolanos. Decerto que por lá com cúmplices. Mas também com cúmplices portugueses, entre outros. Cúmplices da chamada alta esfera política, empresarial, económico-financeira e o que mais seja ilharga associada para sustentar na impunidade tantos crimes, por décadas.

Assim sendo, que consequências para os cúmplices de tantos crimes agora a ser a nata das parangonas dos jornais e afins? Ou será que até para Isabel o prémio será a impunidade porque quanto mais se mexer no esgoto pior vai cheirar?

Joacine também no Curto. Desculpe lá, Joacine, mas a menina quase nem é notícia para este burgo de Isabel Manchete que querem vender por novidade. Gato por lebre.

O melhor é terminar aqui. Avancemos com o Expresso Curto por Elisabete Miranda.

Vá ler e saber no Curto de hoje sobre a ladra e os seus comparsas ladrões e cúmplices, com a certeza de que na comunicação social vai ter badana para toda a semana (ou semanas).

MM | PG

Luanda Leaks | ISABEL, COMO UMA GRANDE LADRA QUALQUER


Ana Gomes sobre Isabel dos Santos: 
“É bonita, esperta, bem educada. Mas também é uma tremenda ladra do seu povo”

Durante o comentário na SIC sobre o Luanda Leaks, a investigação internacional agora divulgada sobre a filha do ex-presidente angolano, Ana Gomes admitiu a possibilidade de “acionar um processo” contra Isabel dos Santos devido a um dos seus tweets

Desde que a investigação internacional sobre como Isabel dos Santos desviou dinheiro da Sonangol para o Dubai foi divulgada na tarde deste domingo, a empresária angolana tem estado a publicar vários tweets. Num deles, alega que George Soros “deu dinheiro” ao jornalista Rafael Marques, que por sua vez “partilhou o gozo do dinheiro com Ana Gomes”. “Não desço ao nível rasteiro deste tweet”, disse Ana Gomes no seu comentário na SIC este domingo à noite. “Se [Isabel dos Santos] não estiver presa entretanto, terei muito gosto em acionar um processo contra ela”, acrescentou.

Ana Gomes defendeu que o que está em causa no desvio de dinheiro feito por Isabel dos Santos “é muito mais do que os 115 milhões” revelados no Luanda Leaks. “São 2 mil milhões de dólares, valor em que está avaliada a sua fortuna”, afirmou a comentadora.

Ana Gomes lembrou ainda que as transferências “foram feitas através do Eurobic”, o que a levou a criticar a “não regulação” do Banco de Portugal. “Ou então a regulação finge que não vê e deixa andar”, afirmou. “O Banco de Portugal tem uma particular responsabilidade. O governador Carlos Costa já se devia ter demitido”, disse a ex-eurodeputada, repetindo o que já este domingo tinha defendido numa primeira reação à informação divulgada.

Ainda durante o comentário na SIC, este domingo, ao ouvir Ana Gomes, Isabel dos Santos publicou outro tweet:
_________________


Ana Gomes admite que o investimento na Effacec, feito por isabel dos santos foi financiamento dos bancos comerciais portugueses, e não foi erário público angolano. Obrigada Ana Gomes por esclarecer e finalmente admitires a verdade.
_________________

Sobre esse tweet, a ex-eurodeputada reagiu: “Não sei porque me trata por tu”, disse, lembrando ter conhecido Isabel dos Santos “quando era miúda”. “É bonita, esperta, bem educada. Mas também é uma tremenda ladra do seu povo.”

AS AUTORIDADES NÃO PODEM CONTINUAR “CEGAS”

Ana Gomes considera que as autoridades portuguesas “não fizeram o que deviam ter feito”. E já este domingo tinha acusado o Banco de Portugal, a Comissão do Mercado de Valores Mobiliários e a Procuradoria-Geral da República de serem “coniventes” com os esquemas da empresária angolana.

“Obviamente que as autoridades [portuguesas] não podem continuar não só cegas mas coniventes, porque é isso que tem acontecido. Sucessivos governos e governantes, alguns, em particular o Banco de Portugal e a CMVM, autoridades políticas e judiciais deveriam ter atuado", disse Ana Gomes, estendendo as críticas à PGR portuguesa: “Muita desta informação já se sabia, além das minhas denúncias concretas.”

“É completamente imoral, a título pessoal ou no quadro de empresas, que portugueses colaborem” na transformação de Portugal numa “lavandaria da criminalidade que rouba Angola”, acrescentou esta tarde.

No comentário na SIC voltou a sublinhar que as falhas também ocorreram “no nível politico e governamental”. “Hoje suponho que estejam muito aflitos e têm boas razões para isso. Eu tudo farei para que estejam.”

Expresso – 19.01.20 [texto atualizado às 22h48]

*Título PG

Luanda Leaks. Documentos põem a descoberto esquemas de Isabel dos Santos


Milhares de documentos mostram como a empresária usou a Sonangol para criar a sua fortuna.

Foram mais de 715 mil ficheiros analisados pelo Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação (ICIJ) e que ajudaram a desconstruir a forma como a fortuna de Isabel dos Santos, a mulher mais rica de África, foi feita com base na exploração do seu país e de esquemas de corrupção.

A investigação que foi levada a cabo por vários órgãos de comunicação social internacionais - como o The Guardian, a BBC e pelo jornal Expresso, em Portugal - e que contou com mais de 120 jornalistas, apurou as centenas de benefícios conseguidos por Isabel dos Santos durante a presidência de José Eduardo dos Santos, seu pai.

Num dos casos expostos na enorme divulgação de dados é revelado um esquema de ocultação que começou a ser montado a seguir à filha do ex-Presidente de Angola ter sido nomeada pelo pai para liderar a petrolífera estatal - Sonangol.

Portugal/Livre | O espelho invertido de Joacine


Inês Cardoso | Jornal de Notícias | opinião

Joacine Katar Moreira e a novela cheia de gritos em que se converteu o Livre poderiam ser apenas um caso de impreparação política. Ou efeito de lutas de egos e de uma personalidade inflamada e com tiques de arrogância a fazer lembrar ditos de Cavaco Silva que ficaram célebres - este fim de semana ouvimos Joacine afirmar que nada fez de errado "ainda", mas que por ser humana "se calhar" um dia há de errar.

A questão é que cada deputado ocupa um cargo público. Representa os portugueses e assume responsabilidades perante eles. Nessa medida, as declarações de Joacine merecem reflexão pela visão limitada que denotam do cargo. E pela noção tão insistentemente personalizada da representação parlamentar que acaba por assumir uma dimensão quase messiânica.

A deputada não tem dúvidas de que o lugar que ocupa é seu, não do partido. De tal forma que considera ilegítima a possibilidade de renunciar, porque a sua voz é insubstituível. "Elegeram uma mulher que gagueja. (...) Elegeram uma mulher negra." Na sequência desta frase, vem mais uma tirada sobre a subvenção, que apesar do baixo nível é irrelevante para a tese de Joacine. Foi eleita por ser uma mulher negra que gagueja. A sua figura é em si mesma todo um programa.

Apesar dos sinais de abertura para fazer cedências, ficou claro que só um milagre, como referiu um dos dirigentes do Livre, permitirá manter a confiança política em Joacine. No cenário de permanecer como deputada independente, ficará com total liberdade para decidir a sua agenda e acentuar um discurso agressivo que, no limite, explora as desigualdades e feridas sociais como espelho invertido de André Ventura. A escolha é de Joacine, que tem o mandato nas mãos. Mas, se passar a deputada não inscrita, praticamente perde voz no Parlamento. E, nessa medida, fica ainda mais difícil um caminho que, apesar de curto, foi já até agora carregado de pedras.

*Diretora-adjunta

Portugal / Livre | A esperança de Joacine esvai-se em 27 votos


Não há como dizê-lo de outra forma: os membros do Livre estão tão fartos de Joacine Katar-Moreira que querem mesmo retirar-lhe a confiança política. Preferem perder tempo de antena, subvenção, a representação parlamentar a ter de continuar a confiar numa representante que dizem que já não os representa. 

Apostam fichas que conseguem ser de novo uma fénix renascida das cinzas, desde que o inferno que tem sido a relação com a deputada termine. Foi por isso que, por larga maioria, o congresso reconduziu grande parte dos dirigentes e que a nova Assembleia, que vai decidir o futuro da relação entre o Livre e Joacine, foi ou reconduzida ou garantida a maioria. Joacine chuta para a frente e pede “cedências de parte a parte” para evitar o inevitável. Já esgotou as oportunidades, responde-lhe a nova direção. “Só um milagre” num partido de ateus poderia levá-los a mudar de ideias.

Houve uma palavra dita várias vezes que foi um sinal político claro sobre o que decidiram os congressistas do que será o mandato dos órgãos do partido nos próximos dois anos: “continuidade”. A “continuidade” neste contexto significa que os novos órgãos vão terminar o trabalho dos que cessaram funções e levar a bom porto o divórcio com a deputada.

PORQUE OS EUA PRECISAM DA GUERRA?

– Despesas militares atingem níveis inéditos
– Empreiteiros da defesa vendem sucata ao governo dos EUA a preços exorbitantes

Vladimir Platov [*]

Em 2003 um sítio alternativo com sede na Bélgica, o Indy Media, publicou um artigo inteligente intitulado "Why America Needs War", escrito pelo renomado historiador e cientista político Dr. Jacques R. Pauwels.

Dado o facto de este artigo ter sido republicado recentemente por um conhecido e respeitado site de media alternativa, o Global Research , muita atenção foi atraída para as intermináveis guerras de Washington. No artigo acima mencionado, era declarado que as guerras são um terrível desperdício de vidas e recursos e, por esse motivo, a maioria das pessoas se opõe, em princípio, às guerras.

No entanto, com os EUA presos num estado perpétuo de conflito com outros actores internacionais, é de perguntar o que há de errado com os políticos americanos. Será que todos eles sofrem de alguma doença mental?

A razão porque os eventos que observamos no cenário global estão realmente a verificar-se é o facto de os EUA confiarem no que Pauwels descreve como a "economia de guerra" na qual os EUA se apoiam há mais de um século. Esta economia permite que indivíduos e empresas ricas se beneficiem da violência e do derramamento de sangue, o que os torna propensos a advogar guerras ao invés de resolver pacificamente os conflitos. Contudo, o artigo afirma que sem guerras quentes ou frias esse sistema não pode senão produzir o resultado esperado na forma de lucros cada vez maiores, que os ricos e poderosos da América consideram como seu direito inato. Está claro que os EUA não podiam escapar das garras da Grande Depressão sem entrar na Segunda Guerra Mundial, como foi afirmado no artigo acima mencionado:

Durante a Segunda Guerra Mundial, os possuidores de riqueza e altos executivos das grandes corporações aprenderam uma lição muito importante: durante uma guerra há dinheiro a ser ganho, muito dinheiro. Por outras palavras, a árdua tarefa de maximizar lucros – a actividade chave na economia capitalista americana – pode ser absolvida com muito mais eficiência através da guerra do que através da paz. No entanto, para isso é necessária a cooperação benevolente do estado.

Mais lidas da semana