segunda-feira, 20 de janeiro de 2020

Isabel… Ou como quanto mais se mexer no esgoto pior vai cheirar


Segunda-feira gelada. Contrastando temos a possibilidade de nos aquecermos com um Expresso Curto cremoso e quentinho. Melhor que cacau – não o da Ribeira (Lisboa) que já não é o que era. Sabem lá os mais novos de idade o que perderam. Voltando ao quentinho, do Expresso e da comunicação social basta proferir um nome: Isabel dos Santos, a dos milhões roubados aos angolanos. Avancemos.

Acerca dessa sujeita, menina que começou por vender ovos aos angolanos (deviam ser ovos de ourJ), que cresceu e estudou para se afirmar como grande ladra de Angola e dos angolanos (o papá nem sabia, coitado – decerto também entretido nos seus saques) ferve este Curto e a comunicação social em geral (até os jornalistas que receberam de Ricardo Salgado Enterprises “luvas” em offshores - quem?) sobre lume bem atiçado como se o dito e escrito sobre Isabel fosse novidade. Mas, não, não é novidade. A não ser que a novidade seja que desta feita tiveram de deitar cá para fora com grandes parangonas os roubos sucessivos praticados por suposta autoria de Isabel dos Santos. Já não havia volta a dar. Vai daí pretendem vender como novidade o que uns quantos jornalistas estrangeiros ou pelo menos capacitados para investigar (coisa rara em Portugal) divulgaram. Por cá, os profissionais domesticados assobiam para o lado e debitam a novidade… Assim faz o Banco de Portugal e outros megeros da especialidade bancária. Dos políticos e governos também, assim como outros profissionais das engenharias financeiras. Afinal doutores que aprenderam nas universidade como viver na opulência dos que estão por cima dos povos português e angolano (pelo menos) – gestores, advogados, Justiça e etc.

Depreende-se com um elevado grau de fiabilidade que em Portugal existem comparsas de Isabel e dos roubos que ao longo do tempo foram depauperando e empurrando para a miséria conhecida os angolanos. E consequências? Pois não devemos esperar que ocorram para a maioria dos cúmplices de Isabel dos Santos. Os mafiosos doutorados – reles criminosos que deviam ser apontados um por um – podem dormir descansados porque neste país à beira-mar situado as máfias da política e da economia, entre outras, têm o estatuto de impunidade. O tempo o dirá, como sempre.

Como gato a atacar o bofe, petisco apreciado e desejado pelo animal, vimos que cai tudo sobre Isabel, a ladra, como se ela não recorresse aos "trabalhadores" de falcatruas económicas e financeiras de Angola e de Portugal e de outros comparsas criminosos de países, empresas e bancos (governos?) de uma fatia importante do mundo.

Isabel roubou Angola e os angolanos. Decerto que por lá com cúmplices. Mas também com cúmplices portugueses, entre outros. Cúmplices da chamada alta esfera política, empresarial, económico-financeira e o que mais seja ilharga associada para sustentar na impunidade tantos crimes, por décadas.

Assim sendo, que consequências para os cúmplices de tantos crimes agora a ser a nata das parangonas dos jornais e afins? Ou será que até para Isabel o prémio será a impunidade porque quanto mais se mexer no esgoto pior vai cheirar?

Joacine também no Curto. Desculpe lá, Joacine, mas a menina quase nem é notícia para este burgo de Isabel Manchete que querem vender por novidade. Gato por lebre.

O melhor é terminar aqui. Avancemos com o Expresso Curto por Elisabete Miranda.

Vá ler e saber no Curto de hoje sobre a ladra e os seus comparsas ladrões e cúmplices, com a certeza de que na comunicação social vai ter badana para toda a semana (ou semanas).

MM | PG




Bom dia, este é o Expresso Curto

Isabel e Joacine, duas mulheres desesperadas

Elisabete Miranda | Expresso

É pouco provável que os destinos de Joacine Katar Moreira e de Isabel dos Santos alguma vez se tenham cruzado. Uma nasceu “negra, gaga e pobre” , e, confessou-o, mal sabe como veio parar a um lugar de destaque na vida política portuguesa. A outra, negra, “inteligente, perseverante”, acha que o lugar de mulher mais rica de África é seu por mérito, fruto do trabalho árduo e de um precoce instinto para o negócio. Mas por estes dias, colocadas em contexto de pressão, ambas se vitimizam, ambas fazem do ataque a sua defesa, e ambas lançam mão de argumentos desesperados: o preconceito contra a cor da pele, os tiques neocolonialistas portugueses e a discriminação das mulheres.

Isabel dos Santos não foi apanhada desprevenida pela investigação do Consórcio Internacional de Jornalistas, que o Expresso e a SIC ontem tornaram pública, em parceria com mais 36 órgãos de comunicação social, e estava preparada para ripostar. A mulher que durante anos evitou jonalistas e confiscou câmaras a fotógrafos, ensaiou um momento ‘trumpiano’ e disparou 28 mensagens de uma assentada no twitter. Para acusar os jornalistas de mentira, de “racismo” e de “preconceito”, e convocar “a era das colónias em que nenhum africano pode valer o mesmo que um Europeu”.

Uma das linhas de investigação desenvolvidas por Micael Pereira e Luís Garriapa gravita em torno da Sonangol - curiosamente a empresa que a imprensa angolana apelidou em 2017 de “a mais portuguesa de todas as empresas públicas angolanas”, pela preferência que era dada a quadros portugueses em detrimento de angolanos. Os jornalistas contam como Isabel dos Santos transferiu pelo menos 115 milhões de euros para o Dubai, para uma sociedade que alegadamente prestou serviços à Sonangol mas que, à luz dos ficheiros analisados, era uma entidade que tinha a empresária como beneficiária efetiva (aqui na versão longa, com documentos que podem ser úteis às autoridades, aqui na versão televisiva, e aqui para um resumo telegráfico).

Os principais protagonistas que gravitam à volta desta história são Paula Oliveira, uma portuguesa próxima da angolana, os advogados portugueses Jorge Brito Pereira e Mário Leite Silva, e Sarju Raikundalia, o braço direito de Isabel dos Santos na administração da petrolífera e que, tal como a empresária, desde 2018 que não voltou a Angola, e cujos perfis pode ler aqui.

O banco português Eurobic, com Fernando Teixeira dos Santos ao leme, terá sido usado como plataforma de circulação de dinheiro. Boston Consulting Group (BCG), PricewaterhouseCoopers (PwC), Mckinsey e o escritório de advogados Vieira de Almeida (VdA), em Portugal, também estiveram envolvidos no processo, expondo a ligação estreita do meio da consultoria nacional e internacional à empresária que, à sombra do pai, montou um império com mais de 400 empresas.

Tal como Isabel dos Santos, também Joacine Katar Moreia sabia ao que ia quando entrou na junta de freguesia de Alvalade para o congresso do Livre. Acusada de ter uma agenda demasiado pessoal, de ignorar as estruturas do partido e de cavalgar uma mensagem excessivamente identitária, a deputada carregou no tom, na mensagem e não resistiu à tirada racista. Diz estar a ser vítima de “perseguição absoluta”, acusa os ex-amigos de usarem o ódio do qual tem sido alvo para tentarem afastá-la e de a terem instrumentalizado – elegeram “uma mulher negra que foi útil para a subvenção”.

Joacine Katar Moreira luta por estes dias pela sua sobrevivência política, Isabel dos Santos pela preservação do seu império empresarial. Mesmo que os milagres aconteçam, e Joacine se reconcilie com o Livre e Isabel com o Estado angolano, a história de ambas já não será contada da mesma maneira.

OUTRAS NOTÍCIAS

Este sábado Rui Rio viu novamente legitimada a sua posição à frente do PSD. Marques Mendes, no seu comentário semanal na SIC Notícias, diz que foi subestimado pelos opositores e que “a grande novidade é que provavelmente Rio acabou de ser eleito não para dois, mas para quatro anos”. Miguel Santos Carrapatoso deixa-nos os 11 trabalhos do líder reeleito.

Madonna deixou centenas de fãs apeados ao cancelar inesperadamente o concerto deste domingo, e outros tantos inquietos com o destino dos próximos três agendamentos. A produtora garante que as próximas datas se mantêm, ao passo que a cantora, na nota de desculpas que publicou nas redes sociais, se despediu até terça-feira, “a fazer figas!”

Rui Pinto, o famoso hacker e denunciante, recebeu este domingo uma inusitada expressão de apoio: um grupo intitulado "Cyberteam" entrou na página da Associação Portuguesa dos Árbitros de Futebol e deixou a mensagem “é hora de Portugal se desenvolver". O ataque surge no final da semana em que ficou a saber-se que o informático vai mesmo ser julgado, por 90 crimes. Se todos forem dados como provados, Rui Pinto arrisca, ao todo, 25 anos de prisão.

Porque há polícias a comprar equipamentos de proteção do seu bolso? “Porque querem”, afiançou este domingo o ministro Eduardo Cabrita em entrevista ao DN e à TSF. O PSD atirou-se ao ministro da Administração Interna, acusando-o de "desfaçatez, falta de respeito e desconhecimento".

Em Berlim, os grupos rivais que combatem pelo controlo do poder na Líbia anunciaram um cessar-fogo após o encontro que juntou vários líderes mundiais.

Davos volta esta semana a ser palco de mais um encontro da elite financeira mundial, numa altura em que completa meio século de existência. O Financial Times deixa um guia sobre o que esperar do fórum que começa esta terça-feira.

FRASES DAS PRIMEIRAS REAÇÕES AO ‘LUANDA LEAKS’

“Alguns membros da família dos Santos, e em particular Isabel dos Santos, conservam um poder considerável na economia agolana. Alguns beneficiários do antigo sistema, e são numerosos, podem ver-se tentados a apoiar a antiga família presidencial”. Estelle Maussion, jornalista francesa, ao Público

"Se já estava cercada pela justiça angolana, agora fica literalmente cercada do ponto de vista judicial e mediático. (…) [no caso do Eurobic], o mais avisado será que as autoridades portuguesas, seja o Governo ou o Banco de Portugal, conversem com rapidez com Isabel dos Santos na perspetiva de vender a sua posição”. Marques Mendes, na Sic

“Como podem ser feitas transferências sucessivas de uma conta deste tipo [através do Eurobic] sem tal ser identificado e reenviado às autoridades competentes em lavagem e dinheiro”? Rui Tavares, no Público

“Nós sabíamos que várias das nossas empresas tinham sido alvo de um ‘hacker’ português. (…) O braço armado deste complô é Rui Pinto”. Sindika Dokolo, marido de Isabel dos Santos, em citações reproduzidas pelo Eco

“É bonita, esperta, bem educada. Mas também é uma tremenda ladra do seu povo”. Ana Gomes, na SIC

OUTRAS FRASES

"Celibato ou não celibato não estão ligados, ontologicamete, ao exercício dos ministérios ordenados. O carisma do celibato não é, de si, o carisma de um padre ou de um bispo. (…) O cardeal Ratzinger criou o deserto teológico na Igreja católica. Queria ser o único (…). Não lhe fica bem alinhar com a campanha dos adversários das reformas urgentes propostas pelo único Papa atual”. Frei Bento Domingues, no Público

“Hoje em dia, a maior ameaça europeia não é a instabilidade financeira, é a sua política externa”. Wolfgang Munchau, Financial Times

“O PSD vinha de um limbo e continua num limbo”. Manuel Carvalho, no Público

“Não vejo espaço para um acordo de salários em 2020”. João Vieira Lopes, presidente da CCP, ao Negócios

O QUE ANDO A LER

Ian McEwan é um dos intelectuais ingleses que mais visceralmente se opõem ao Brexit, de tal modo que, passado mais de um ano sobre o referendo e o escritor ainda se confessava um negacionista. “Não o aceito, não posso acreditar e rejeito-o”. “Tornei-me um completo viciado e, mesmo que o odeie, não consigo esquecê-lo”, confessou em entrevistas.

Foi neste contexto de obsessão e raiva que escreveu “a Barata”, um livrinho de uma centena de páginas que destrata a classe política britânica (Corbyn incluido), ridiculariza Donald Trump, e expõe o que considera ser a insensatez do processo.

A história começa com uma barata que, uma manhã, acorda com forma humana. O protagonista principal é primeiro-ministro de Inglaterra que dirige um gabinete de insetos que, tal como ele, estão temporariamente transfigurados em humanos para levar a cabo uma importante missão: implementar o reversismo.

O reversismo é a economia do avesso - os trabalhadores em vez de receberem um salário pagam para trabalhar, os consumidores em vez de pagarem pelo que compram são pagos para consumir, e onde poupar rende juros negativos. A teoria é descrita como uma criação da direita e da extrema direita, apoiada por trabalhadores pobres e idosos que não tinham nada a perder, e com o seu absurdo McEwan faz o paralelismo com o que considera ser o absurdo do Brexit.

O livro é cáustico, bem humorado e lê-se de uma penada. É suscetível de ferir sensibilidades de eurocéticos.

Tenha uma boa segunda-feira. Esperamos por si no Tribuna, no Blitz e no Vida Extra e no Expresso online, onde, ao longo do dia e do resto da semana publicaremos desdobramentos da investigação aos negócios de Isabel dos Santos.

Sugira o Expresso Curto a um/a amigo/a

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