domingo, 22 de novembro de 2020

Fukushima espalha a pandemia nuclear

Manlio Dinucci* | Global Research, November 03, 2020

ilmanifesto.it

Não é o Covid, mas a notícia passou quase desapercebida: o Japão descarregará no mar mais de um milhão de toneladas de água radioactiva da central nuclear de Fukushima.

O acidente catastrófico de Fukushima foi provocado pelo tsunami que, em 11 de Março de 2011, atingiu a costa nordeste do Japão, submergindo a central e provocando a fusão dos núcleos de três reactores nucleares. A central foi construída na costa somente a 4 metros acima do nível do mar, com diques de protecção de 5 metros de altura, numa área sujeita a tsunami com ondas de 10-15 metros de altura. Além do mais, houve sérias deficiências no controlo das centrais efectuado pela Tepco, a empresa privada que administra a central: no  momento do tsunami, os dispositivos de segurança não entraram em funcionamento.

Para arrefecer o combustível derrretido, foi bombeada água pelos reactores durante anos. A água, que ficou radioactiva, foi armazenada dentro da central em mais de mil tanques enormes, acumulando 1.23 milhões de toneladas. A Tepco está a construir outros tanques mas, em meados de 2022, também estarão cheios.

Devendo continuar a bombear água nos reactores derretidos, a Tepco, de acordo com o governo, decidiu descarregar no mar a água acumulada até agora, depois de tê-la filtrado para torná-la menos radioactiva (porém não se sabe até que ponto) por meio de um processo que durará 30 anos. Também há lodo radioactivo acumulado nos filtros da central de descontaminação e grandes quantidades de solo e outros materiais radioactivos armazenados em milhares de barris de betão.

Como admitiu a própria Tepco, é particularmente grave a fusão ocorrida no reactor 3 carregado com Mox, uma mistura de óxidos de urânio e plutónio, muito mais instável e radioactiva. O Mox para este e outros reactores japoneses foi produzido em França, utilizando escórias nucleares enviadas do Japão.

Ministro alemão critica manifestantes por comparações com nazismo

#Publicado em português do Brasil

Opositores de medidas para conter a pandemia vêm se comparando a vítimas do regime de Hitler, como Anne Frank e Sophie Scholl. Para ministro Heiko Maas, manifestantes banalizam o Holocausto e zombam das vítimas.

O ministro das Relações Exteriores da Alemanha, Heiko Maas, criticou neste domingo (22/11) os manifestantes que se opõem ao uso de máscaras e outras medidas para combater a pandemia. A crítica de Maas foi dirigida, sobretudo, aos opositores que vêm se comparando com vítimas do nazismo ou afirmando que o governo alemão vem se comportando como o regime de Adolf Hitler ao impor as medidas de distanciamento social.

Para Maas, essas comparações "banalizam o Holocausto" e "zombam" da coragem demonstrada pelos membros da resistência ao regime nazista (1933-1945).

A crítica de Maas ocorre após o discurso de uma participante de um "protesto anticorona" organizado pelo movimento Querdenken em Hannover, no sábado, ter viralizado na internet. Na sua fala, ela diz que se sentia "igual a Sophie Scholl" em sua "resistência" às medidas para conter a pandemia, citando a jovem estudante de Munique que foi executada pelos nazistas em 1943 por criticar o regime de Hitler.

A fala provocou uma série de críticas de usuários de redes sociais. Pelo Twitter, o ministro Maas disse: "Qualquer pessoa hoje em dia que se compare a Sophie Scholl ou Anne Frank está zombando da coragem necessária para enfrentar os nazistas."

"Isso banaliza o Holocausto e mostra uma amnésia histórica intolerável. Nada conecta os protestos com os membros da resistência. Nada!"

OMS antecipa 3ª onda de covid na Europa no início de 2021

#Publicado em português do Brasil

Falando a jornal suíço, enviado especial da OMS David Nabarro critica a política europeia de combate ao coronavírus, ressaltando as vantagens das medidas adotadas em diversos países da Ásia.

O enviado especial da Organização Mundial da Saúde para a covid-19, David Nabarro, comentou ao diário suíço Solothurner Zeitung, neste sábado (21/11) que a Europa provavelmente enfrentará uma terceira onda letal da pandemia, antes que uma vacina possa ser introduzida.

"As reações europeias foram incompletas. Eles deixaram de montar a infraestrutura necessária nos meses de verão, depois de ter posto sob controle a primeira onda." Se isso se repetir com a segunda onda, ele antecipa uma terceira, "e já no começo do próximo ano".

Segundo Nabarro, a Europa teria muito a aprender com os países asiáticos: "É preciso reagir rapidamente ao vírus, de forma robusta e decidida, sobretudo no começo, quando ele ainda está se propagando lentamente em diversas comunidades. Se se reaje sem convicção, logo o problema fica maior."

Exponencial versus aritmético

Em meados do ano, a Europa vivenciou uma breve queda das taxas de contágio, mas agora a tendência se reverteu. Com uma população de 84 milhões, no domingo a Alemanha registrou 14 mil novos casos confirmados em 24 horas.

Em contrapartida, a população de 120 milhões do Japan apresentou 2.596 casos no sábado, a Coreia do Sul; com 51 milhões, 386 e um total de apenas 30.700 infecções com o Sars-Cov-2 desde o início da pandemia.

Um problema grave, segundo o enviado da OMS, é que apenas poucos tomadores de decisões compreenderam que o novo coronavírus se alastra em escala exponencial, não aritmética: "Exponencial quer dizer que os números podem crescer oito vezes em uma semana, 40 em duas, 300 em três, mais de mil vezes em quatro semanas, e assim por diante."

Na Ásia, neste ínterim, as cifras são relativamente baixas porque "as pessoas estão totalmente engajadas, adotam comportamentos que dificultam o avanço do vírus; elas mantêm distância entre si, usam máscaras, se isolam quando estão doentes". Além disso, "aplicam as medidas de higiene com muito rigor, lavam as mãos, limpam as superfícies, protegem os grupos mais ameaçados".

A Ásia tampouco relaxou as restrições prematuramente, acrescenta Nabarro: "Quando os números de casos foram reduzidos, com ajuda de uma reação forte das pessoas, não se relaxam as medidas, espera-se até que os números estejam baixos e permaneçam baixos."

Ele também louvou a comunicação clara entre as autoridades e as populações asiáticas: "Só se diz uma coisa: se queremos que nossa economia esteja forte e mantermos nossas liberdades, precisamos todos respeitar algumas regras básicas."

Para Nabarro, deve sempre haver um equilíbrio entre todas as prioridades: "Para que a economia funcione bem, é preciso fazermos a saúde funcionar. Não existe um 'ou isto ou aquilo', só há o 'tanto isto quanto aquilo'."

AV/dw,ots

“O COLECTOR TURCO”

EXPANSÃO, EMERGÊNCIA, PETRÓLEO E GÁS

Martinho Júnior, Luanda

“O COLECTOR TURCO” com uma receita neo-otomana, acresce aos outros “providenciais” tentáculos à disposição do império da hegemonia unipolar!

De forma verificada e comprovada, o “colector” age em paralelo aos circuitos wahabitas e sionistas, que integram o “colector” arábico, mas graças à experiência na Síria, não despreza o jogo inteligente dos vasos comunicantes e do “soft power” de influência religiosa!

A Turquia faz parte da NATO, apresentando as segundas maiores Forças Armadas do Tratado…

Tendo em conta a dilatação das linhas da NATO até ao Afeganistão e Paquistão (AfPaq), a Turquia passou a desempenhar “naturalmente” um fluido papel central nos dispositivos da hegemonia unipolar no Médio Oriente Alargado, Mar Negro, Mar Cáspio, Mediterrâneo Oriental, Cáucaso e na ultraperiférica África.

Esse papel foi mantido numa agenda que se prolongou, notável pela sua inicial discrição, algo propiciado particularmente pela doutrina Trump, que previa a retirada de forças dos Estados Unidos naquela vasta região e uma participação mais acentuada dos aliados da NATO nela, ainda que com agendas distintas.

As coisas eram para se irem fazendo com discreta sensibilidade (por parte da manobra de dispositivos da NATO) e os emergentes que interpretassem os propósitos e os objectivos, até por que para a artificiosa “ameaça” da Nova Rota da Seda impunham-se respostas ofensivas inteligentes e “dormentes” (se possível mobilizando terceiras bandeiras) na direcção da Ásia Central, do Cáucaso e da Sibéria (procurando impactar a meio da imensidão do território da Federação Russa, sempre com o fito de a tentar fraccionar)…

Assim o papel da Turquia passou a ser crucial, desde logo nos contenciosos operativos mais críticos, como os do Iraque, da Síria e do Cáucaso…

… Um híbrido-charneira entre hegemonia, emergência multipolar e radicalismo wahabita de natureza islâmica, que começa a dividir esferas de influência com a Federação Russa, que por seu turno poderá ficar em causa…

…  se assim for, como fica África?...

01- O governo de Erdogan interpretou a oportunidade para se aplicar a fundo com uma agenda (sub agenda) própria, de natureza expansionista (compensando a saída de efectivos dos Estados Unidos) e para isso foi buscar, no que à superestrutura ideológica diz respeito, a doutrina que no passado já havia sido aplicada com intenções coloniais, a fim de reabilitar em novos moldes as actuais capacidades e práticas, aplicando-as ao contexto neocolonial contemporâneo. (https://atalayar.com/blog/neo-otomanismo;  https://relacoesexteriores.com.br/neo-otomanismo/https://www.dw.com/pt-br/eua-abrem-caminho-para-ofensiva-da-turquia-na-s%C3%ADria/a-50722870).

 O “neo-otomanismo” conforme ao “califado”, não surgiu do nada, ou por capricho: é uma subalterna agenda em flexível versão turca, que recompõe influências socioculturais centenares, inscrita na manobra ofensiva da NATO, que soube esperar a sua hora para melhor surpreender, até por que por um lado era reflexo e por outro iria engendrar contenciosos contraditórios em relação a outras componentes da NATO, historicamente suas concorrentes (o vírus expansionista do Reino Unido e da França, mais discretamente da Alemanha, resulta de interesses neocoloniais de algum modo saudosistas dos seus impérios coloniais e cada um implicado a seu modo). (https://www.resistencia.cc/turquia-e-o-neo-otomanismo/https://actualidad.rt.com/opinion/alberto-rodriguez-garcia/346901-neo-otomanismo-erdogan-turquiahttps://carnegieeurope.eu/2020/01/29/how-far-can-turkey-challenge-nato-and-eu-in-2020-pub-80912).

As veladas tensões da Turquia com a União Europeia e no seio da NATO aumentaram a partir de 15 de Julho de 2016. (http://vozdaturquia.com/mundo/europa/2020/10/29/o-problema-do-erdogan-com-a-europa-nao-se-restringe-apenas-a-macron/https://br.sputniknews.com/europa/201707108832202-austria-turquia-golpe-estado-aniversario-escandalo-diplomacia/).

No clímax desse processo está a tentativa de golpe de estado de 15 de Julho de 2016 contra o Governo de Erdogan, tão circunspectamente avisado pela inteligência russa, (https://pt.wikipedia.org/wiki/Tentativa_de_golpe_de_Estado_na_Turquia_em_2016https://br.sputniknews.com/mundo/201607215751847-russia-adverte-erdogan-golpe/) que atentamente viu a oportunidade para replicar explorando as tensões internas da NATO, a fim de atrair a Turquia à causa da Nova Rota da Seda… (https://www.dw.com/pt-br/por-que-a-tentativa-de-golpe-na-turquia-fracassou/a-19408731http://tpa.sapo.ao/noticias/internacional/turquia-deixa-aviso-a-eua-em-dia-de-visita-de-erdogan-a-russia).

Todavia a conexão à NATO significa aproveitamentos recíprocos em cadeia, que não acontecem por acaso: no momento da Rússia conseguir o cessar-fogo e introduzir a sua missão de paz em Nagorno Karabak, na sequência da derrota duma Arménia cujo poder é mais um “filantrópico subsídio” de George Soros e suas “revoluções coloridas”, a administração Trump pretendia fazer um ataque de grande envergadura ao Irão e ao não o fazer implementou mais um pacote adicional de severas sanções… (https://www.nytimes.com/2020/11/16/us/politics/trump-iran-nuclear.html?action=click&module=Top%20Stories&pgtype=Homepagehttps://www.nytimes.com/2020/09/19/us/politics/us-iran-un-sanctions.html?action=click&module=RelatedLinks&pgtype=Article).

Reviravolta britânica quanto aos Irmãos Muçulmanos

Director do MI6 britânico, Richard Moore, visitou o Cairo em 9 de Novembro de 2020. Ele manteve uma entrevista com o Presidente egípcio, Abdel Fattah al-Sisi.

Dirigiu-se depois para Ancara, em 11 de Novembro, para se encontrar com o porta-voz do Presidente Erdoğan, Ibrahim Kalin, no Palácio Branco de Ancara.

O MI6 criou no Cairo a Confraria dos Irmãos Muçulmanos, onde actualmente são inimigos do Estado. O Presidente turco, Recep Tayyip Erdoğan, tornou-se o seu protector [1].

Voltairenet.org | Tradução Alva

Portugal | João Miguel Tavares, liberal sem princípio

Na cabeça de João Miguel Tavares o desemprego, a pobreza e a miséria provocadas pela austeridade foram apenas uma desculpa da esquerda para caricaturar Pedro Passos Coelho e a Europa foi frouxa por não o aguentar nem que fosse à bruta. Foram vencidos.

Joana Mortágua* | Esquerda.net | opinião

Convergência pode ser uma palavra enganadora. Em sentido figurado, o dicionário diz-nos que significa “a tendência de várias coisas para se fixarem num ponto ou se identificarem”. Em política costuma ser bem vista - e demasiadas vezes apresentada acriticamente como solução mágica -, a “convergência das esquerdas” ou “das direitas” é bola de arremesso na análise política ao estilo mais infantil que faz da governabilidade uma questão de aritmética. Quando esse fetiche toma conta das cabeças políticas arrasa os programas e as convicções em nome do poder, a convergência transforma-se em capitulação. Vender a alma ao diabo não pressupõe a possibilidade de a comprar de volta.

João Miguel Tavares está neste último grupo que, de acordo com o dicionário, possui uma “elasticidade de consciência que põe de acordo a conveniência com o dever.” Depois de ter defendido como abjeções equiparadas a jornada de trabalho de 35 horas e a castração química de pedófilos para justificar a sua escolha de “mal menor”, JMT fez do seu último artigo um manifesto de rendição da direita liberal à extrema-direita. A razão? Na cabeça de JMT o desemprego, a pobreza e a miséria provocadas pela austeridade foram apenas uma desculpa da esquerda para caricaturar Pedro Passos Coelho e a Europa foi frouxa por não o aguentar nem que fosse à bruta. Foram vencidos.

Mais 73 mortos e 4788 casos de covid-19 em Portugal

Portugal registou, este domingo, 4788 casos de covid-19. Nas últimas 24 horas morreram 73 pessoas, quando o número de internados está num máximo histórico: 3151.

É domingo, e pandemia parece ter abrandado. Os número agora divulgados pela Direção-Geral da Saúde (DGS), coligidos até à meia-noite de sábado, evidenciam uma quebra entre os novos infetados para um patamar inferior ao do domingo anterior. Os 4788 casos positivos identificados no documento da DGS, além de um decréscimo de 1247 infeções relativamente às 6035 do dia 15, representam, ainda, o registo mais baixo dos últimos 11 dias, com o total de infetados agora em 260758.

Nas últimas 24 horas, os óbitos subiram para 3897, com mais 73 vidas perdidas para a doença: 51 pessoas tinham mais de 80 anos (30 homens e 21 mulheres), 13 tinham entre 70 e 79 anos (oito homens e cinco mulheres), oito tinham entre 60 e os 69 anos (sete homens e uma mulher) e uma pessoa tinham entre 50 e 59 anos (um homem).

A ministra da Saúde admitiu, sábado, que a situação nos hospitais está difícil. Domingo, os números comprovam: são 3151 os internados (mais 126 do que no dia anterior) e 491 os doentes mais graves, com mais seis a darem entrada nas unidades de cuidados intensivos durante o sábado.

Quebra no Norte e em Lisboa e aumento de casos no Centro, relativamente ao domingo anterior

A Região Norte continua a ser a mais afetada, registando mais 3091 casos, para um acumulado de 135363 infeções desde que a epidemia foi detetada em Portugal, a 2 de março.

De um domingo para o outro, registo para uma quebra de novas infeções na Região de Lisboa e Vale do Tejo (RLVT), que desceu abaixo dos mil casos pela segunda vez em 15 dias, hoje, com 844 novos casos, menos 293 que os 1137 do dia 15.

Na Região Centro, em vez quebra relativamente ao domingo anterior houve aumento, com 637 novos casos registados, um total de 25 013 desde o ínicio da pandemia.

Alentejo e Algarve também registam aumento de casos. No primeiro caso, são 112 hoje, mais 50 que os 72 do domingo anterior, para um acumulado de 5169. Na zona mais austral do país, a subida foi de 73 casos, enquanto o total vai agora em 4679.

Nas ilhas, registou-se um decréscimo de novos casos em ambos os arquipélagos. Nos Açores foram anotados 18 novas infeções, menos oito que as 26 do domingo anterior (779 no total de sempre), enquanto na Madeira a quebra foi menor: de 16 para 13, menos três, portanto, de um domingo para outro.

Jornal de Notícias | Imagem: Louisa Gouliamak // AFP

Portugal | Não, o pior não é a diretora do SEF: é o SEF. E a nossa indiferença

Fernanda Câncio | Diário de Notícias | opinião

Oito meses depois, a morte de Ihor começa finalmente a despertar indignação. Um relatório da IGAI e a desvergonha da ainda diretora do SEF acordaram os distraídos. Mas que a justa fúria contra Cristina Gatões e governo não nos distraia do essencial - o que está errado no SEF não se resolve só com demissões.

as últimas semanas, várias pessoas, entre comentadores muito encartados e anónimos das redes, afirmaram, na sequência de notícias sobre o relatório da Inspeção Geral da Administração Interna e da entrevista da diretora do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras, que houve um incompreensível silêncio sobre as circunstâncias da morte do cidadão ucraniano Ihor Homeniuk, ocorrida a 12 de março e conhecida publicamente 18 dias depois, quando três inspetores da polícia de fronteiras foram detidos pela PJ, indiciados por homicídio..

Não. Não houve "silêncio" sobre a morte de Ihor. Os jornais - com relevo para o DN e o Público - pegaram na história desde o início e nunca a largaram: publicámos dezenas de notícias. Nesta coluna, este é o quarto artigo de opinião sobre o assunto, que por qualquer motivo não tinha até agora despertado a indignação que merece. Chegou? Ainda bem; mas seria bom que quem até agora esteve calado assuma que fez parte do silêncio que pretende denunciar.

O RCEP salta sobre as Novas Estradas da Seda

Pepe Escobar [*]

Ho Chi Minh, na sua morada eterna, estará a saborear isto com um sorriso celestial. O Vietname foi o hospedeiro – virtual – quando as 10 nações da ASEAN, mais a China, Japão, Coreia do Sul, Austrália e Nova Zelândia, assinaram a Parceria Económica Regional Abrangente (Regional Comprehensive Economic Partnership, RCEP ) no último dia da 37ª Cimeira da ASEAN.

O RCEP, cuja preparação levou oito anos, reúne em conjunto 30% da economia global e 2,2 mil milhões de pessoas. É o primeiro marco auspicioso dos Devastadores Anos Vinte (Raging Twenties), os quais começaram com um assassinato (do Gen. Soleimani, do Irão) seguido por uma pandemia global e agora por intimidações agourentas de um suspeito Grande Reinício (Great Reset).

O RCEP define o Leste da Ásia como o eixo primário indisputado da geoeconomia. O Século Asiático de facto já estava em elaboração desde a década de 1990. Entre os asiáticos, e os ocidentais que o identificaram, está o meu livro 21st: The Asian Century publicado em 1997 (excertos aqui .)

O RCEP pode forçar o ocidente a fazer algum trabalho de casa e compreender que a narrativa principal não é que o RCEP "exclui os EUA" ou que é "concebido pela China". O RCEP é um acordo vasto de todo o Leste da Ásia, iniciado pela ASEAN e debatido entre iguais desde 2012, inclusive pelo Japão, o qual para todos os propósitos práticos se posiciona como parte do Norte Global industrializado. Este é o primeiro acordo comercial desde sempre que une as potências económicas asiáticas, China, Japão e Coreia do Sul.

Por agora está claro, finalmente em vastas faixas da Ásia do Leste, que os 20 capítulos do RCEP reduzirão tarifas de cabo a rabo; simplificarão alfândegas, com pelo menos 65% dos sectores de serviços abertos plenamente, com limites acrescidos de participação accionista estrangeira; solidificação de cadeias de abastecimento ao privilegiar regras comuns de origem; e codificação de novas regulações de comércio electrónico.

Quando se chega aos pormenores, as empresas estarão a poupar e serão capazes de exportar para qualquer lugar dentro do espectro das 15 nações sem se incomodarem com exigências extras e separadas de cada nação. Isto é acima de tudo um mercado integrado.

Covid-19 | Quase um milhão de pessoas foram vacinadas na China

Quase um milhão de pessoas foram testadas com uma das vacinas em desenvolvimento na China para o novo coronavírus, até à data, “sem efeitos adversos significativos”, disse Liu Jingzhen, presidente da farmacêutica estatal Sinopharm.

Liu apontou numa entrevista divulgada hoje pela imprensa local que “a vacina foi testada em quase um milhão de pessoas” e que “apenas um pequeno grupo teve efeitos adversos leves”.

O responsável acrescentou que “diplomatas e estudantes que viajaram para mais de 150 países não apresentaram teste positivo para o coronavírus após serem vacinados”.

Em 22 de julho passado, a China autorizou o uso de vacinas candidatas contra o coronavírus para certos casos excecionais, como “proteção de pessoal da saúde, funcionários de programas de prevenção, inspectores portuários e funcionários do serviço público”.

Embora Liu não tenha detalhado se a vacina testada foi em todos os casos a da Sinopharm, indicou que este grupo está prestes a concluir a terceira fase de testes clínicos, realizados em dez países, com a participação de cerca de 60 mil pessoas.

“Terminamos a coleta de sangue de 40 mil pessoas 14 dias depois de receber as duas injeções necessárias para vacinação. O resultado é muito bom”, afirmou.

As autoridades chinesas não revelaram quando poderão comercializar as vacinas em larga escala, mas o diretor do Centro de Desenvolvimento Científico e Tecnológico da Comissão Nacional de Saúde, Zheng Zhongwei, indicou no final de outubro que o país asiático planeia fabricar 610 milhões de doses, antes do final deste ano, e mil milhões em 2021.

Hoje Macau

China | Guangxi e Sichuan erradicam a pobreza de todos os seus distritos

As autoridades da província de Sichuan e da região autónoma de Guangxi anunciaram a eliminação da pobreza nos seus territórios. O governo chinês tem como meta erradicar a pobreza do país até final do ano.

A Região Autónoma Zhuang de Guangxi (Sul da China) conseguiu varrer a pobreza dos seus 54 distritos, depois de eliminar o fenómeno nos últimos oito onde persistia, segundo anunciou o governo regional esta sexta-feira.

Num comunicado, as cidades de Liuzhou, Baise e Hechi, onde se encontram esses oito distritos, foram aconselhadas a manter os esforços com vista a consolidar as conquistas alcançadas na luta contra a pobreza e a evitar que a população caia novamente na miséria, informa a agência Xinhua.

EUA | Ambientalistas indignados com primeiras nomeações de Biden

Joe Biden nomeou duas figuras ligadas às indústrias poluentes para a sua equipa na área do ambiente. “Não podemos trazer a raposa de volta ao galinheiro”, alerta a ativista Erin Brockovich.

O recém-eleito presidente dos Estados Unidos da América prometeu na campanha uma viragem completa na política ambiental do mandato de Donald Trump, a começar pelo regresso ao Acordo de Paris. Mas as primeiras nomeações para a sua equipa que lidará de perto com os temas ambientais levantaram fortes críticas por parte dos adeptos dessa viragem.

Caso se concretize a indicação de Biden, a pessoa responsável na Casa Branca por lidar com os ativistas climáticos e com as empresas será o congressista democrata Cedric Richmond. Ao longo dos dez anos dos seus mandatos na Câmara de Representantes, Richmond recebeu cerca de 341 mil dólares em donativos de empresas do setor do petróleo e gás, tornando-o o quinto eleito dos Democratas neste ranking de simpatia por parte da indústria fóssil. Richmond foi eleito para representar eleitores de localidades do estado do Louisiana e é no seu círculo eleitoral que a Agência para a Proteção do Ambiente (EPA) encontrou 7 dos 10 sítios com maior poluição atmosférica em todo o país.

Joe Biden é contra a pena de morte e admite pôr fim à prática

O presidente eleito dos EUA, Joe Biden, é contra a pena de morte e tenciona acabar com aquela prática, disse hoje o seu porta-voz, quando estão agendadas mais três execuções para antes da posse do novo chefe de Estado.

Biden "opõe-se à pena de morte agora e no futuro", disse o porta-voz do presidente eleito os EUA, não esclarecendo se as execuções serão imediatamente suspensas quando Biden tomar posse, adiantou a Associated Press (AP).

As execuções federais foram retomadas este ano, depois de 17 anos de intervalo. Isto, apesar do contexto da pandemia de covid-19 que já matou mais de 250 mil pessoas no país e em que o vírus está ativo dentro do sistema prisional americano.

Este ano, o Departamento de Justiça já procedeu a mais execuções do que as que ocorreram nos últimos 50 anos, ainda que o apoio à pena de morte seja cada vez mais fraco entre Democratas e Republicanos.

De acordo com documentos oficiais estão agendadas execuções para 11 de dezembro e para 14 e 15 de janeiro, dias antes da tomada de posse de Joe Biden, a 20 de janeiro.

Notícias ao Minuto | Lusa | Imagem: © Getty Images

Leia em Notícias ao Minuto: Biden rejeita novo confinamento apesar de aumento de casos nos EUA

Não enterraram o trumpismo, Biden e Democratas não criaram via alternativa

#Publicado em português do Brasil

Hadas Thier, Jacobin Magazine

"Se os próximos quatro anos trouxerem ainda maior erosão dos padrões de sobrevivência, e o fim de quaisquer medidas progressistas para enfrentar o desmonte da vida e da sociedade, o efeito será um retorno triunfante do trumpismo em 2024, com ou sem Donald Trump" [e do tucanismo à moda Guedes, com ou sem Bolsonaros&generais-obesos&Guedes (NTs)].

Joe Biden ainda não tinha acabado de se autodeclarar vencedor, quando os centristas do Partido Democrata puseram-se a culpar a esquerda do Partido pelos resultados abaixo do esperado da eleição da semana passada, contra todas as provas.

Unido ao coro estava um dos apoiadores Republicanos de Biden, John Kasich, que sempre repetiu, falando aos Democratas, que se tivessem "rejeitado a esquerda radical" do próprio partido, teriam falado mais claramente aos norte-americanos, gente que, dizia ele, "vive essencialmente no centro". Mais uma vez, os números indicam o contrário disso: polarização crescente, e esvaziamento do centro.

Mais importante, o meio-campo que efetivamente existe oferece terreno que seria mais favorável a ideias da esquerda. Como a deputada Democrata Alexandria Ocasio-Cortez (AOC) apontou corretamente, "todos os candidatos que votaram a favor do Medicare for All em distrito oscilante conseguiram a reeleição." E todos os distritos oscilantes que aceitaram a ajuda de AOC para se reeleger foram bem-sucedidos, e praticamente todos que se afastaram dela perderam.

Em muitos estados e condados que votaram com os Republicanos, os referendos  aprovaram, por forte maioria, o aumento no salário mínimo, o financiamento para a educação pública, a descriminalização das drogas e o controle sobre preços de aluguel. No Mississippi, eleitores decidiram a favor de se substituir a bandeira do estado, imutável desde a era dos Confederados. Em questões econômicas, o padrão é ainda mais claro. Como o Huffington Post noticiou, segundo as pesquisas "um de cada cinco Republicanos tem ideias econômicas que se alinham melhor com o Partido Democrata do que com o Partido Republicano." Inclui-se aí o apoio a aumento do salário mínimo, impostos sobre os mais ricos, e atenção concentrada em garantir subsídios significativos à saúde em tempos de COVID-19.

Mandar as pessoas ficarem em casa e sem trabalhar indefinidamente, sem ter os meios mínimos para fazer isso não é plano viável.

Com os votos ainda sendo apurados em alguns estados, o cenário mais provável é que Biden leve a eleição, com 306 votos no Colégio Eleitoral, contra 232 votos para Donald Trump, diferença pequena, mas significativa nos votos populares, de 50,5% a 47,4% (cerca de 4 milhões de votos). É margem confortável, depois do drama da noite da eleição e uns poucos dias seguintes. Mas essas margens estão distantes do que se viu em 1992, última vez que presidente Republicano deixou de se reeleger, em tempos de recessão. Bill Clinton venceu aquela eleição com 370 votos eleitorais, e 168 para George H. W. Bush, 43% a 37% no voto popular (Ross Perot levou os 19% restantes). Barack Obama, também, apesar de não enfrentar presidente que tentasse a reeleição, beneficiou-se de o Partido Republicano ter governado sob recessão. Em 2008, Obama obteve 365 votos eleitorais, contra 173 para John McCain, 53% contra 46%.

Boaventura: Descolonizar o saber e o poder

O drama do nosso tempo é dominação articulada e resistência fragmentada. Muitas vezes, os movimentos anticapitalistas, feministas e antirracistas têm combatido uma destas formas de opressão – e fechado os olhos às outras

Boaventura de Sousa Santos* | Outras Palavras | Imagem: Oswaldo Guyasamin

“Outras Palavras” tem orgulho de publicar, com frequência, os textos de intervenção política de Boaventura de Sousa Santos. O que vem a seguir refere-se, em sua parte final, às eleições parlamentares portuguesas: marcadas para outubro, elas já incendeiam o país, inclusive pelo inconformismo da direita diante da “gerigonça” – um raro governo de esquerda. Talvez falte, ao leitor não-português, contexto para compreender parte dos argumentos lançados neste trecho.
Mas as reflexões iniciais de Boaventura referem-se, de modo sintético e provocador, a um drama que talvez seja ainda mais intenso no Brasil que em Portugal. Ele aborda a desarticulação – e muitas vezes a exacerbação dos conflitos – entre os movimentos sociais anticapitalistas, feministas e antirracistas. O artigo sugere: talvez a origem do fenômeno esteja no fato de as esquerdas “terem sido treinadas, no mundo eurocêntrico, para desconhecer ou descartar as articulações entre os três modos de dominação”… Esta elaboração teórica interessará decerto a nosso público majoritariamente brasileiro – que também tem, no texto, a oportunidade de se situar sobre uma das importantes disputas eleitorais que marcarão os próximos meses (A.M.)

Os conflitos sociais têm ritmos e intensidades que variam consoante as conjunturas. Muitas vezes acirram-se para atingir objetivos que permanecem ocultos ou implícitos nos debates que suscitam. Num período pré-eleitoral em que as opções políticas sejam de espectro limitado, os conflitos estruturais são o modo de dramatizar o indramatizável.

Os conflitos estruturais do nosso tempo decorrem da articulação desigual e combinada dos três modos principais de desigualdade estrutural nas sociedades modernas. São eles, capitalismo, colonialismo e patriarcado, ou mais precisamente, hetero-patriarcado. Esta caracterização surpreenderá aqueles que pensam que o colonialismo é coisa de passado, tendo terminado com os processos de independência. Realmente, o que terminou foi uma forma específica de colonialismo — o colonialismo histórico com ocupação territorial estrangeira. Mas o colonialismo continuou até aos nossos dias sob muitas outras formas, entre elas, o neocolonialismo, as guerras imperiais, o racismo, a xenofobia, a islamofobia, etc. Todas estas formas têm em comum implicarem a degradação humana de quem é vítima da dominação colonial. A diferença principal entre os três modos de dominação é que, enquanto o capitalismo pressupõe a igualdade abstrata de todos os seres humanos, o colonialismo e o patriarcado pressupõem que as vítimas deles são seres sem plena dignidade humana, seres sub-humanos. Estes três modos de dominação têm atuado sempre de modo articulado ao longo dos últimos cinco séculos e as variações são tão significativas quanto a permanência subjacente.

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