domingo, 22 de novembro de 2020

“O COLECTOR TURCO”

EXPANSÃO, EMERGÊNCIA, PETRÓLEO E GÁS

Martinho Júnior, Luanda

“O COLECTOR TURCO” com uma receita neo-otomana, acresce aos outros “providenciais” tentáculos à disposição do império da hegemonia unipolar!

De forma verificada e comprovada, o “colector” age em paralelo aos circuitos wahabitas e sionistas, que integram o “colector” arábico, mas graças à experiência na Síria, não despreza o jogo inteligente dos vasos comunicantes e do “soft power” de influência religiosa!

A Turquia faz parte da NATO, apresentando as segundas maiores Forças Armadas do Tratado…

Tendo em conta a dilatação das linhas da NATO até ao Afeganistão e Paquistão (AfPaq), a Turquia passou a desempenhar “naturalmente” um fluido papel central nos dispositivos da hegemonia unipolar no Médio Oriente Alargado, Mar Negro, Mar Cáspio, Mediterrâneo Oriental, Cáucaso e na ultraperiférica África.

Esse papel foi mantido numa agenda que se prolongou, notável pela sua inicial discrição, algo propiciado particularmente pela doutrina Trump, que previa a retirada de forças dos Estados Unidos naquela vasta região e uma participação mais acentuada dos aliados da NATO nela, ainda que com agendas distintas.

As coisas eram para se irem fazendo com discreta sensibilidade (por parte da manobra de dispositivos da NATO) e os emergentes que interpretassem os propósitos e os objectivos, até por que para a artificiosa “ameaça” da Nova Rota da Seda impunham-se respostas ofensivas inteligentes e “dormentes” (se possível mobilizando terceiras bandeiras) na direcção da Ásia Central, do Cáucaso e da Sibéria (procurando impactar a meio da imensidão do território da Federação Russa, sempre com o fito de a tentar fraccionar)…

Assim o papel da Turquia passou a ser crucial, desde logo nos contenciosos operativos mais críticos, como os do Iraque, da Síria e do Cáucaso…

… Um híbrido-charneira entre hegemonia, emergência multipolar e radicalismo wahabita de natureza islâmica, que começa a dividir esferas de influência com a Federação Russa, que por seu turno poderá ficar em causa…

…  se assim for, como fica África?...

01- O governo de Erdogan interpretou a oportunidade para se aplicar a fundo com uma agenda (sub agenda) própria, de natureza expansionista (compensando a saída de efectivos dos Estados Unidos) e para isso foi buscar, no que à superestrutura ideológica diz respeito, a doutrina que no passado já havia sido aplicada com intenções coloniais, a fim de reabilitar em novos moldes as actuais capacidades e práticas, aplicando-as ao contexto neocolonial contemporâneo. (https://atalayar.com/blog/neo-otomanismo;  https://relacoesexteriores.com.br/neo-otomanismo/https://www.dw.com/pt-br/eua-abrem-caminho-para-ofensiva-da-turquia-na-s%C3%ADria/a-50722870).

 O “neo-otomanismo” conforme ao “califado”, não surgiu do nada, ou por capricho: é uma subalterna agenda em flexível versão turca, que recompõe influências socioculturais centenares, inscrita na manobra ofensiva da NATO, que soube esperar a sua hora para melhor surpreender, até por que por um lado era reflexo e por outro iria engendrar contenciosos contraditórios em relação a outras componentes da NATO, historicamente suas concorrentes (o vírus expansionista do Reino Unido e da França, mais discretamente da Alemanha, resulta de interesses neocoloniais de algum modo saudosistas dos seus impérios coloniais e cada um implicado a seu modo). (https://www.resistencia.cc/turquia-e-o-neo-otomanismo/https://actualidad.rt.com/opinion/alberto-rodriguez-garcia/346901-neo-otomanismo-erdogan-turquiahttps://carnegieeurope.eu/2020/01/29/how-far-can-turkey-challenge-nato-and-eu-in-2020-pub-80912).

As veladas tensões da Turquia com a União Europeia e no seio da NATO aumentaram a partir de 15 de Julho de 2016. (http://vozdaturquia.com/mundo/europa/2020/10/29/o-problema-do-erdogan-com-a-europa-nao-se-restringe-apenas-a-macron/https://br.sputniknews.com/europa/201707108832202-austria-turquia-golpe-estado-aniversario-escandalo-diplomacia/).

No clímax desse processo está a tentativa de golpe de estado de 15 de Julho de 2016 contra o Governo de Erdogan, tão circunspectamente avisado pela inteligência russa, (https://pt.wikipedia.org/wiki/Tentativa_de_golpe_de_Estado_na_Turquia_em_2016https://br.sputniknews.com/mundo/201607215751847-russia-adverte-erdogan-golpe/) que atentamente viu a oportunidade para replicar explorando as tensões internas da NATO, a fim de atrair a Turquia à causa da Nova Rota da Seda… (https://www.dw.com/pt-br/por-que-a-tentativa-de-golpe-na-turquia-fracassou/a-19408731http://tpa.sapo.ao/noticias/internacional/turquia-deixa-aviso-a-eua-em-dia-de-visita-de-erdogan-a-russia).

Todavia a conexão à NATO significa aproveitamentos recíprocos em cadeia, que não acontecem por acaso: no momento da Rússia conseguir o cessar-fogo e introduzir a sua missão de paz em Nagorno Karabak, na sequência da derrota duma Arménia cujo poder é mais um “filantrópico subsídio” de George Soros e suas “revoluções coloridas”, a administração Trump pretendia fazer um ataque de grande envergadura ao Irão e ao não o fazer implementou mais um pacote adicional de severas sanções… (https://www.nytimes.com/2020/11/16/us/politics/trump-iran-nuclear.html?action=click&module=Top%20Stories&pgtype=Homepagehttps://www.nytimes.com/2020/09/19/us/politics/us-iran-un-sanctions.html?action=click&module=RelatedLinks&pgtype=Article).

02- Cedo a Turquia assumiu o desafio híbrido do quadro da NATO em proveito de sua própria geoestratégia: (https://www.elradar.es/el-neo-otomanismo-de-turquia-llama-a-la-puerta/https://www.voanews.com/usa/nato-allies-growing-weary-turkish-aggressionhttps://observador.pt/seccao/mundo/medio-oriente/turquia/recep-tayyip-erdogan/https://southfront.org/intelligence-community-of-the-republic-of-turkey/).

. Enfrentou as pretensões das suas próprias minorias curdas que se alinharam no proscrito Partido dos Trabalhadores Curdos (PKK), assim como na sua emanação legal; (https://www.crisisgroup.org/content/turkeys-pkk-conflict-visual-explainer);

. Foi fazendo esvair as sensibilidades “kemalistas”, à medida que se distanciava da União Europeia (e do seu poder de sucção); (http://tutkainlehti.fi/kemalism-vs-neo-ottomanism-the-untold-story-of-turkeys-diverged-external-behaviour/);

. Implicou-se cada vez mais no norte da Síria pelas mesmas razões e por que o norte da Síria (entre a fronteira comum e a margem esquerda do Eufrates) e do Iraque (Mossul), regiões maioritariamente curdas, há uma fértil exploração de petróleo e a possibilidade de estabelecer outras conexões geoestratégicas; (https://www.arabnews.com/node/1743791/middle-east);

. Foi-se alinhando com um Azerbeijão desejoso duma saída para o Mediterrâneo Oriental (conforme ao projecto do oleoduto “BTC”, Baku (capital e porto do Azerbeijão no Mar Cáspio) – Tbilissi (capital da Geórgia) – Ceihan (porto da Turquia); o oleoduto e gasoduto foi inaugurado em 2005, tendo começado a funcionar em 2006; (http://turkishpolicy.com/images/stories/2005-04-neighbors/TPQ2005-4-ismailzade.pdf;  https://www.ewynza.co.mz/noticias/2020/59288);

. Intensificou a prospecção de petróleo e gás por todo o Mediterrâneo Oriental (arriscando importunar a Grécia, o Egipto e Israel), tirando partido dos enlaces com a Líbia); (https://www.aljazeera.com/news/2020/11/1/turkey-extends-disputed-east-med-gas-exploration-mission-againhttp://vozdaturquia.com/mundo/europa/2020/10/20/ue-condenou-acoes-da-turquia-no-mediterraneo-oriental/https://www.ecfr.eu/special/eastern_med/timelinehttps://www.gazetadopovo.com.br/mundo/breves/pompeo-eua-reconhecem-bds-como-uma-campanha-antissemita/);

. Implicou-se em conexões clandestinas com o Estado Islâmico, na Síria, enquanto essa entidade detinha posse do petróleo e controlava uma grande parte do país; (https://www.voltairenet.org/article188380.html);

. Coligiu os agrupamentos rebeldes que no Iraque e na Síria integravam correntes turcomanas e próximas da Irmandade Muçulmana (tirando partido das “primaveras árabes”), conferindo-lhes o rótulo de “moderados” por justaposição aos “radicais” Al Qaeda e Estado Islâmico, impulsionados por financiadores das monarquias arábicas e filtrados pelas outras concorrentes da NATO; (https://pt.wikipedia.org/wiki/Frente_Revolucion%C3%A1ria_S%C3%ADriahttps://istoe.com.br/exercito-sirio-e-forcas-curdas-lutam-contra-rebeldes-pro-turquia/https://southfront.org/jaysh-al-izza-reportedly-killed-russian-service-members-in-syrias-idlib/);

. Imprimiu seu próprio sistema incubador de agrupamentos rebeldes que não pouparam até o recrutamento de crianças, permitindo uma filtragem entre os “radicais” e os “moderados”, a fim de ir reforçando e refinando seus próprios sistemas ofensivos no âmbito do neo-otomanismo; (https://www.dw.com/pt-br/ofensiva-turca-na-s%C3%ADria-%C3%A9-desafio-para-diplomacia-da-r%C3%BAssia/a-50842427https://southfront.org/ankara-based-think-tank-leaked-data-on-child-recruitment-in-turkish-backed-syrian-factions/https://www.defesanet.com.br/crise/noticia/28447/As-varias-guerras-na-Siria/);

. Silenciosamente está a retirar efectivos dessa incubação implicando-os na Líbia e em Nagorno-Karabak; (https://southfront.org/silent-retreat-of-neo-ottoman-forces-from-syria/https://www.monitordooriente.com/20201113-nagorno-karabakh-vitoria-estrategica-para-a-turquia/);

. Manteve para o efeito uma concepção religiosa sunita, mas não wahabita, relativamente maleável, a fim de evitar hostilizar o Irão, manter uma relativa tensão para com o sionismo israelita e explorar de forma expansionista a sua sub agenda gerada a partir do quadro da NATO, cada vez mais evidente à medida que os Estados Unidos “amoleceram” as suas pretensões militares no amplo teatro operacional do Médio Oriente Alargado (da Síria ao Al Paq), passando para outros (Turquia e Israel) alguns dos seus próprios encargos; (https://eeradicalization.com/muslim-brotherhood-conference-in-istanbul-described-as-disappointing/https://brasil.elpais.com/internacional/2020-07-12/erdogan-coroa-sua-agenda-islamica-com-conversao-da-antiga-basilica-de-santa-sofia.htmlhttps://www.noticiasaominuto.com/mundo/1521036/franca-exige-reacao-da-nato-no-seu-conflito-com-a-turquia);

. Nesse sentido fez florescer a aliança com o Qatar (Irmandade Muçulmana), a fim de se distanciar do espectro wahabita e do enlace entre Israel, os Emiratos Árabes Unidos e o Barein; (https://www.warfareblog.com.br/2020/09/a-tentativa-da-turquia-de-retornar.htmlhttps://www.esquerda.net/en/artigo/turquia-coloca-forcas-militares-no-qatar-para-defesa-contra-inimigos-comuns/49124);

. Alastra seu expansionismo “suavemente” para leste, para dentro da Ásia Central (o Casaquistão, o Uzbequistão e o Tajiquistão apoiaram o Azerbeijão contra a Arménia), podendo até captar velhas culturas Federação Russa adentro, até à fronteira ocidental da China e, para este, em África; (https://www.notiulti.com/el-continuo-apaciguamiento-de-putin-hacia-turquia-podria-amenazar-la-seguridad-de-rusia-en-el-futuro/);

. Não é perceptível ainda se a Turquia, tutelando um expansivo “Turquestão” com implicações militares, está flexivelmente apta a encaixar a filosofia da Organização de Cooperação de Shangai e da Nova Rota da Seda, conforme processos estimulados pela China e pela Rússia, ou seja, se a China será capaz de repetir a ocidente o relativo êxito do RCEP; (https://rcepsec.org/;  https://resistir.info/p_escobar/rcep_16nov20.html);

. As linhas da expansão turcas, recorde-se, estão a ser levadas a cabo ainda sem a Turquia romper com a NATO… Como vai ser?... A Turquia vai aceitar o “faça-se comércio, não guerra, Make Trade, Not War”?... (https://www.independent.org/students/essay/essay.asp?id=1456https://rcepsec.org/legal-text/).

03- O momento da mais dramática “viragem” de Erdogan seguiu-se ao do golpe fracassado contra o seu governo, que foi identificado como uma operação da CIA. (https://www.rfi.fr/pt/mundo/20170417-turquia-vitoria-renhida-do-simhttps://brasil.elpais.com/brasil/2017/07/11/internacional/1499764031_180405.htmlhttps://sicnoticias.pt/mundo/2017-02-08-Diretor-da-CIA-vai-debater-na-Turquiatentativa-de-golpe-de-Estado-no-pais).

Indicia ser uma força centrífuga à NATO, o que lhe compete comprovar… (https://pt.euronews.com/2019/10/11/turquia-mede-forcas-com-nato-e-uniao-europeiahttps://www.voltairenet.org/article194818.html).

A natureza do golpe, perpetrado com o concurso de interesses de potências da NATO, fez Erdogan decidir-se pelo expansionismo articulado e flexível que lhe era possível e começar a transigir em relação à geoestratégia da Nova Rota da Seda, que integrava o projecto do oleoduto russo South Stream, com todas as incógnitas que ainda persistem… (https://fort-russ.com/2020/11/what-can-russia-do-with-erdogan/?utm_medium=ppc&utm_source=push&utm_campaign=push%notificationss&utm_content=varies;  https://www.gazprom.com/projects/turk-stream/;  http://www.asianews.it/news-en/New-Ankara-Moscow-energy-axis-to-revive-%E2%80%98Turkish-Stream%E2%80%99-38265.html).

Ao aproximar-se mais da Rússia, a Turquia sob a orientação de Erdogan, equacionou a sua sub agenda, híbrida e meio comprometida com a NATO por um lado e com as causas da emergência multipolar por outro, alicerçando assim seu quadro expansionista ideologicamente comprometido. (https://aeromagazine.uol.com.br/artigo/turquia-podera-adquirir-cacas-russos-su-35_4740.html;  https://www.publico.pt/2016/10/10/mundo/noticia/o-amigo-russo-chega-a-istambul-para-se-reunir-com-erdogan-1746750https://www.monitordooriente.com/20200824-turquia-e-russia-assinam-acordo-para-aquisicao-de-sistemas-de-misseis-s-400/https://www.monitordooriente.com/20200915-turcos-e-russos-se-reunirao-em-ancara-para-discutir-siria-e-libia/https://www.dn.pt/lusa/estados-unidos-fazem-ultimato-a-turquia-sobre-compra-dos-misseis-russos-s-400-10991041.html).

Conseguiu criar algum campo de manobra e equilíbrio na Síria, particularmente com a bolsa de Idlib, dando tempo para gerar uma outra mobilização para os rebeldes “moderados”… (https://www.publico.pt/2019/10/11/mundo/analise/obsessao-turquia-curdos-siria-1889511https://www.euractiv.com/section/global-europe/news/assad-accuses-erdogan-of-close-ties-to-muslim-brotherhood/).

. Antes do mais deu-lhes abrigo, recolhendo-os naquela bolsa quando eles foram derrotados noutras regiões da Síria pelas Forças Armadas Árabes; (https://www.boursorama.com/bourse/actualites/une-intervention-turque-a-idlib-n-est-plus-qu-une-question-de-temps-erdogan-ae5b7a9b2262a415fec0a0f0015ff3b7https://www.abcbourse.com/marches/a-idleb-la-monnaie-turque-remplace-une-livre-syrienne-en-chute-libre_506415;  https://www.lemonde.fr/international/article/2020/03/02/a-idlib-les-frappes-turques-permettent-aux-rebelles-de-contre-attaquer_6031513_3210.html;  https://www.lemonde.fr/international/article/2020/10/26/pres-de-80-rebelles-syriens-proturcs-tues-dans-des-frappes-a-idlib_6057447_3210.html);

. Depois defendeu-as enviando unidades de suas próprias Forças Armadas e negociando com os russos, tentando aproximar geoestratégias em toda a região; (https://www.lecho.be/economie-politique/international/moyen-orient/a-moscou-erdogan-et-poutine-s-accordent-sur-une-treve-pour-idlib/10212695.html);

. Por fim, reconhecendo implícita e tacitamente a transitoriedade dessas medidas, está a transferi-los para campos de batalha que lhe são afins na Líbia, no Azerbeijão e eventualmente para outras partes de África (Somália, Sudão…). (https://www.aljazeera.com/news/2020/02/turkey-erdogan-confirms-sending-syrian-fighters-libya-200221082443159.html).

Na última convulsão armada em Nagorno Karabak, quase três mil efectivos dessas “mutantes” milícias foram utilizados nos combates e, depois do cessar-fogo, mantêm-se no território conquistado, tornando-se potenciais colonizadores com a expulsão dos arménios, podendo ainda aproximar-se da Ásia Central (aqueles cujas origens são dessa região nevrálgica). (https://www.lemonde.fr/blog/filiu/2020/10/18/les-filieres-turques-de-mercenaires-syriens-en-azerbaidjan/https://www.lorientlejour.com/article/1234491/des-mercenaires-syriens-seraient-enroles-par-ankara-pour-combattre-larmenie.html).

A aliança da Turquia com o Azerbeijão, um assunto entre turcomanos, pressupõe o alargamento de interconexões entre os dois países, mas também a extensão dessas interconexões com o leste do Cáspio em relação aos turcomanos da Ásia Central (particularmente o Turquemenistão)… (http://www.opinione.it/esteri/2020/10/28/fabio-marco-fabbri_ankara-baku-azerbaigian-nagorno-karabakh-recep-tayyip-erdogan-ilham-aliyev-genocidio-armenia/?altTemplate=Stampa).

04- A entrada da Turquia em África é também um acontecimento recente, intimamente associado à crítica em relação às potências europeias componentes da UE, em especial as antigas potências coloniais, à concorrência com outras filiações muçulmanas, mas também um resultado de sua emergência. (https://www.researchgate.net/publication/40439973_Turkey_Discovers_Africa_Implications_and_Prospectshttps://www.bloomsbury.com/au/turkey-in-africa-9780755636990/https://www.dw.com/pt-002/mesquitas-em-%C3%A1frica-prova-de-for%C3%A7a-no-pr%C3%B3ximo-oriente/a-51862612https://www.rfi.fr/pt/africa/20180304-turquia-aposta-em-africa).

A Turquia neo-otomana tem uma sub agenda própria, que em África é concorrente da também sub-agenda wahabita-sionista, assim como da sub-agenda do “pré-carré” da FrançAfrique… (https://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/afp/2020/10/28/turquia-eleva-tom-com-a-franca-apos-publicacao-de-caricatura-de-presidente.htmhttp://vozdaturquia.com/mundo/africa/2020/09/01/abertura-militarizada-da-turquia-para-africa-provoca-guerras-de-influencia/);

A agenda shihita do Irão está fora do âmbito do império da hegemonia unipolar e dos seus instrumentos CENTCOM e AFRICOM, pelo que a sub-agenda turca é-lhe propositadamente próxima. (https://www.rtp.pt/noticias/mundo/turquia-e-irao-concertam-agendas-e-cooperacao-para-um-novo-medio-oriente_n1257820).

Em África o papel da “neo otomania” prioriza o Magrebe e o Sahel (regiões onde a sua presença é mais visivelmente acutilante), mas os sinais de sua extensão na direcção da África Central, Grandes Lagos e África Austral, começam já a surgir: (https://www.dn.pt/globo/europa/erdogan-visita-o-magrebe-apesar-da-contestacao-3253724.html).

. Estabeleceu relações diplomáticas com quase todos os países africanos, reforçando laços em função das doutrinas inerentes à Irmandade Muçulmana, ao expansionismo neo-otomano e/ou aos interesses económicos; (https://www.dailysabah.com/opinion/op-ed/neo-ottomanism-debate-in-light-of-turkey-africa-relationshttps://studies.aljazeera.net/ar/node/1497?source=post_page---------------------------&page=22);

. Intensificou os laços com os estados do Magreb (Tunísia, Argélia e Marrocos, para além da Líbia); (https://www.theafricareport.com/40438/turkeys-push-to-win-over-the-maghreb-the-gateway-to-africa/);  

. Consolidou sua posição na Somália, segundo a trilha dos Irmãos Muçulmanos, contrapondo-se com êxito em alternativa contra o Al-Shabab e como um dos principais suportes do Governo Federal de Transição artificiosamente instalado em Mogadíscio (reconhecido internacionalmente), com todos os vasos comunicantes que isso está a implicar; (https://observador.pt/seccao/mundo/africa/somalia/;  https://pt.wikipedia.org/wiki/Governo_Federal_de_Transi%C3%A7%C3%A3o_da_Rep%C3%BAblica_da_Som%C3%A1liahttp://vozdaturquia.com/mundo/africa/2020/07/02/atentado-suicida-atinge-grande-base-militar-turca-na-somalia/);

. Estabeleceu nexos com o Governo de Acordo Nacional da Líbia, instalado em Trípoli a fim de estabelecer uma frente comum em relação aos interesses económicos, financeiros e sobretudo em relação ao petróleo e ao gaz; (https://www.monitordooriente.com/20201116-forcas-especiais-da-turquia-chegam-na-libia-como-preparacao-a-visita-de-erdogan/https://www.monitordooriente.com/20200725-como-a-turquia-reagira-a-intervencao-do-egito-na-libia/); 

. Implantou bases na Líbia, na Somália e tende a implantá-las em mais países africanos de sua esfera de influência (caso do Sudão); (https://www.athina984.gr/pt/2020/07/06/epidromes-xen%C3%B4nio-aeroskafon-enantion-vasis-stratigikis-simasias/); 

. Está a aproximar-se (falta comprovar se não está por detrás), das autoridades surgidas do último golpe de estado militar no Mali, irritando sobremaneira a FrançAfrique; (https://www.trt.net.tr/portuguese/turquia/2020/09/10/a-estabilidade-seguranca-e-bem-estar-do-mali-sao-muito-importantes-para-a-turquia-1488274https://www.youtube.com/watch?v=XO_WEwtkkAk);

.  Ao estabelecer relações diplomáticas com a Guiné Bissau, a “neo otomania” vai apurar a sensibilidade em relação ao espaço sociocultural dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa, com os olhos apontados para os actuais acontecimentos em Moçambique (Cabo Delgado), a fim de melhor penetrar em todo o espaço SADC; (http://m.portalangop.co.ao/angola/pt_pt/noticias/africa/2020/8/37/Guine-Bissau-Turquia-preparam-para-abrir-embaixadas,798b226e-aa6c-46ba-856a-715c2eb1c5b7.html;  https://newsavia.com/turkish-airlines-vai-abrir-voo-regular-para-a-guine-bisssau/https://www.portaldogoverno.gov.mz/por/Imprensa/Noticias/Turquia-interessada-em-fortalecer-a-cooperacao-com-Mocambiquehttps://www.portaldogoverno.gov.mz/por/Imprensa/Noticias/Cooperacao-entre-Turquia-e-Mocambique-na-area-da-Educacaohttp://m.portalangop.co.ao/angola/pt_pt/noticias/africa/2015/9/44/Mocambique-Nova-ligacao-area-Istambul-vai-aproximar-pais-Turquia,cf7875b1-1d6b-4701-b824-22ee978ca1c3.html);

. A penetração turca em Angola preenche uma discreta penetração que tira partido de questões económicas e deixa supor que está em inteligente disputa no quadro da “suave” emergência muçulmana no país, não fugindo ao papel de “colector” do AFRICOM, isto é, capaz de aproximar-se das contingências das arruaças que a UNITA pretende “promover”, cumprindo a “aliança” da doutrina de Gene Sharp com a doutrina de George Soros que tão bem serve ao National Endowment for Democracy e à CIA; (https://www.angop.ao/noticias-o/?v_link=https://www.angop.ao/angola/pt_pt/noticias/economia/2018/10/45/Angola-promove-oportunidades-negocios-Turquia,23f1ae72-ff1d-49f3-b034-b51a46ec2c49.html;  https://www.angop.ao/noticias-o/?v_link=https://www.angop.ao/angola/pt_pt/noticias/internacional/2019/6/29/Turquia-prioriza-agricultura-turismo-cooperacao-com-Angola,c9d59d87-a713-4719-a299-5a027d64eac3.html;  http://www.parlamento.ao/noticias/iii-legislatura/-/blogs/novo-embaixador-da-turquia-identifica-areas-de-cooperacao#http://www.parlamento.ao/glue/AN_Navigation.jsp?; https://www.skyscanner.com.br/rotas/tr/ao/turquia-para-angola.html;  https://www.youtube.com/watch?v=jpPz3liDGZk&feature=emb_title&fbclid=IwAR0nRDKffk-Le3GFEPdZ3TT452o9hd_bhzbV0F6GJpLtBUuDS2JkwMyUA1U);

. A aproximação a Moçambique está em curso e será uma prioridade nos próximos anos; (https://www.trt.net.tr/portuguese/turquia/2017/01/16/turquia-passa-o-ultimo-artigo-de-alteracao-constitucional-651767https://www.dw.com/pt-002/presidente-turco-pede-ajuda-a-maputo-para-combater-movimento-de-fethullah-g%C3%BClen/a-37257753);

. É comprovado e verificado o factor importante do “choque de civilizações” ao nível “soft power”, que decorre ao longo de todo o Sahel, desde o Senegal à Somália, contrapondo-se à neocolonial FrançAfrique no seu próprio “pré carré”; esse é um processo que começou a ser evidente desde a década de 90 do século XX, um processo “idílico” para as concepções que nutrem o AFRICOM; (https://eurasiaprospective.net/2020/05/08/le-xxie-siecle-est-il-le-siecle-des-civilisations/;  https://www.institutmontaigne.org/blog/erdogan-macron-le-choc-des-civilisations;  https://www.voltairenet.org/article11267.htmlhttps://www.voltairenet.org/article211532.html);

. É comprovado e verificado que os contenciosos tensos que se desenrolam em cadeira (sob um aparente “efeito dominó”, ou efeito cascata) no Médio Oriente Alargado e Magrebe (Líbia), assim como desde o Sudão e “corno de África”, até à África Austral (via do Índico), são uma extraordinária oportunidade para a penetração da emergência turca; (https://www.vocaleurope.eu/from-turkey-to-libya-the-eu-refugee-crisis-never-ending-domino-effect/https://perspective.usherbrooke.ca/bilan/servlet/BMAnalyse?codeAnalyse=650;  https://atalayar.com/fr/content/la-turquie-%C3%A9tend-ses-tentacules-en-afrique-pour-accro%C3%AEtre-son-influence-en-libyehttps://www.jeuneafrique.com/544975/politique/infographie-ambassades-vols-aeriens-bureaux-de-la-tika-quelle-est-la-presence-turque-en-afrique/https://www.angop.ao/noticias-o/?v_link=https://www.angop.ao/angola/fr_fr/noticias/politica/2018/9/44/Turquie-souligne-role-Angola-dans-stabilite-Afrique-australe,5ea8cf8f-9fce-426b-91fb-e6acb4d408a2.html);

. O seu-à-vontade ilustra o encaixe do “colector turco” na manobra do AFRICOM, como um assunto ultrassensível tendo em conta a artificiosa contradição com o “pré carré” da FrançAfrique!… (https://www.lepoint.fr/afrique/libye-le-chef-du-commandement-militaire-americain-en-afrique-a-tripoli-23-06-2020-2381276_3826.phphttps://www.africom.mil/pressrelease/33312/africom-commander-visits-niger-chad-mali-and-senegal).

05- O império da hegemonia unipolar com a próxima administração democrata de Joe Biden, aproximar-se-á mais da “neo-otomania” quer no Médio Oriente Alargado, quer em relação às linhas de progressão em direcção à Ásia Central, Federação Russa e China Ocidental, quer ainda na ultraperiférica África.

No que diz respeito a África, a aproximação poderá tornar-se mais fluida em relação ao Magrebe, ao “corno de África” e à costa leste, Moçambique incluído.

Uma vez que o império vai retomar com mais vigor os expedientes das “revoluções coloridas” e das “primaveras árabes”, algo que vai repercutir em África, no caso angolano pode eventualmente haver uma maior atenção turca espreitando os contenciosos que potenciam a UNITA na trilha da “desobediência civil” em que se tende a empenhar até às próximas eleições, sobretudo em Luanda.

Martinho júnior -- Luanda, 21 de Novembro de 2020

Imagens:

. Mapa da expansão otomana, repescado para alimentar as linhas de força da expansão neo-otomana, segundo a clivagem de Erdogan – https://fr.wikipedia.org/wiki/Empire_ottoman;

.  Salami-slicing tactic? – In a 2016 Foreign Policy article, Nick Danforth of the German Marshall Fund pointed out how Turkish TV was using irredentist maps that showed northern Iraq and northern Syria as parts of Turkey, which offered insights into Ankara’s self-image and current domestic and foreign policies. The map was not quite the Ottoman Empire, just a slightly bigger Turkey, and in March 2019 a Bloomberg article mapped Turkey’s expanding military footprint. With Ankara’s steady buildup of military bases abroad to access key energy corridors such as the Persian Gulf, the Horn of Africa, the Caucasus, the Red Sea and the Mediterranean Sea, as well as increasing defense ties with various energy producers, this seems to overlap with the geography of the former Ottoman Empire. – https://asiatimes.com/2019/10/neo-ottoman-turkeys-string-of-pearls/

. Turkey’s Dangerous New Exports: Pan-Islamist, Neo-Ottoman Visions and Regional Instability – https://www.mei.edu/publications/turkeys-dangerous-new-exports-pan-islamist-neo-ottoman-visions-and-regional;

. Turquish mosque de Joanesburgo – https://www.ruideviagem.com/2016/05/turkish-mosque-de-joanesburgo.html

. Al-shabab claims to have attacked Turkish military base in Somalia – https://radiokulmiye.net/2018/05/12/al-shabab-claims-to-have-attacked-turkish-military-base-in-somalia/ .

Sem comentários:

Mais lidas da semana