Analistas acreditam que há um mal-estar que torna impossível dar a volta à instabilidade política. Alegados rumores de golpe e mudanças em cargos militares geram receio de que a crise no Governo possa estar a agravar-se.
O clima político-militar na Guiné-Bissau gerou apreensão depois dos rumores sobre um alegado golpe de Estado que estaria em fase de planeamento e das substituições nas Forças Armadas na semana passada.
A 12 de fevereiro, o Presidente Umaro Sissoco Embaló denunciou rumores sobre um possível golpe de Estado. Dias depois, o chefe de Estado procedeu a algumas mudanças nas Forças Armadas do país.
Para o analista político Luís Vaz Martins, há um mal-estar evidente na Guiné-Bissau e tais mudanças em cargos militares confirmam a existência de uma crise que vem assombrando as instituições do país.
"Há mal-estar. As declarações e atuações de Umaro Sissoco Embaló não confortam a esmagadora maioria dos guineenses e os seus aliados, aqueles que o ajudaram a assumir o poder", observa Martins.
Transferências de soldados
As exonerações e nomeações da passada sexta-feira (19.02) foram as primeiras alterações feitas por Sissoco na classe castrense desde que assumiu a Presidência, há quase um ano.
O chefe do Estado Maior da Força Aérea, Ibraima Papa Camará, foi exonerado das funções por motivos desconhecidos e nomeado novo presidente do Instituto de Defesa Nacional (IDN).
À frente do IDN estava Augusto Mário Có, agora exonerado. Para o lugar de Camará foi escolhido Joaquim Filinto Silva Ferreira. Ferreira terá como adjunto Mamadú Saliu Embaló, que ocupa o lugar do exonerado Carlos Bampoque.
A DW África soube que, paralelamente a essas mudanças, haveria a intenção de promover transferências de soldados e oficiais subalternos entre as unidades militares.
Uma fonte militar ouvida pela DW, entretanto, acredita que essas transferências não são exequíveis. "Há mais de duas semanas elas são conhecidas, mas ainda ninguém se movimentou", disse.
"Instabilidade incontornável”
O líder do Partido da Unidade Nacional (PUN), Idriça Djaló, afirma que é impossível contornar a instabilidade. Para Djaló, a crise nunca terminou e o país ruma a mais uma fase dessa instabilidade.
"É a fase mais quente da crise. É aquilo que eu estava à espera. Não podia haver outra possibilidade a não ser esta", calcula o líder do PUN.
Analistas falam num alegado mal-estar entre o Presidente Sissoco e o primeiro-ministro Nuno Nabiam - uma situação que não foi desmentida pelos setores políticos do país. Causa estranheza entre analistas que, nas últimas semanas, Nabiam tenha aparecido pouco publicamente.
Esta segunda-feira (22.02), Midana Nantcha, dirigente do partido de Nabiam, a Assembleia do Povo Unido - Partido Democrático da Guiné-Bissau (APU-PDGB), criticou o chefe de Estado.
"O comportamento de Umaro [Sissoco Embaló] que assistimos hoje na Guiné-Bissau, não é conflito que está a provocar? Dividir as pessoas e insultar juízes. Qual é a sua confiança? Presidir Conselho de Ministros todas as semanas para bloquear o primeiro-ministro. Porquê?", questiona.
Iancuba Dansó (Bissau) | Deutsche Welle
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