O número de mortos aumentou dramaticamente, há centenas de pessoas desaparecidas desde o golpe e a junta militar parece cada vez mais determinada a acabar com o protesto, diz a ONU.
Pelo menos 149 pessoas foram mortas pelas forças de segurança da junta militar que levou a cabo um golpe de Estado em Myanmar em 1 de fevereiro, 11 das quais nas últimas 24 horas, denunciou esta terça-feira a ONU.
O número de mortos aumentou dramaticamente, há centenas de pessoas desaparecidas desde o golpe e a junta militar parece cada vez mais determinada a acabar com o protesto, ignorando as muitas condenações internacionais, referiu a porta-voz do Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos, Ravina Shamdasani, em conferência de imprensa realizada em Genebra.
“Centenas de pessoas foram detidas ilegalmente e continuam desaparecidas sem o reconhecimento das autoridades militares, o que equivale a desaparecimentos forçados”, afirmou.
“Conseguimos confirmar que pelo menos 149 pessoas foram arbitrariamente mortas desde 1 de fevereiro”, acrescentou, referindo que 11 das vítimas foram mortas na segunda-feira, 39 no domingo e 18 no sábado.
Sublinhando que os números da ONU “são conservadores” e se limitam apenas às mortes confirmadas (outras fontes falam de mais de 180 mortes devido às repressões dos protestos), Shamdasani garantiu que as forças de segurança “estão a aumentar o uso de armas letais contra manifestantes pacíficos”.
De acordo com a porta-voz do organismo liderado por Michelle Bachelet, chegaram à ONU relatos de mais de 2.000 detenções arbitrárias, uso de tortura e desaparecimentos forçados de centenas de pessoas, bem como do uso de francoatiradores contra os manifestantes.
“Pelo menos cinco mortes de pessoas detidas foram denunciadas nas últimas semanas e duas das vítimas mostravam sinais de abusos graves, indicando que foram torturadas”, disse a porta-voz da organização de direitos humanos.
Shamdasani admitiu que a confirmação destas informações está a tornar-se cada vez mais difícil devido à imposição da lei marcial nas principais cidades birmanesas e aos cortes no fornecimento de internet e de outras fontes de informação. Segundo a porta-voz, foram revogadas as licenças de cinco grandes meios de comunicação birmaneses, enquanto pelo menos 37 jornalistas foram detidos.
“Estamos profundamente perturbados com o facto de a repressão continuar a intensificar-se e pedimos, mais uma vez, ao exército que pare de matar e de deter manifestantes“, disse a porta-voz, destacando que a alta comissária, Michelle Bachelet, defende um uso cauteloso de sanções internacionais contra o regime de Myanmar, para que a população civil não seja afetada.
Qualquer sanção deve ser limitada, por exemplo, ao congelamento de fundos no estrangeiro dos membros das forças de segurança ou à proibição de viajarem”, concluiu.
O golpe militar, no dia 1 de fevereiro, atingiu a frágil democracia de Myanmar depois da vitória do partido de Aung Sang Suu Kyi nas eleições de novembro de 2020. Os militares tomaram o poder alegando irregularidades durante o processo eleitoral do ano passado, apesar de os observadores internacionais terem considerado a votação legítima.
Desde então, milhares de pessoas têm-se manifestado contra o golpe militar, sobretudo na capital económica, Rangum, e em Mandalay, a segunda maior cidade do país. Nas últimas semanas, os generais birmaneses têm intensificado o recurso à força para enfraquecer a mobilização a favor do regresso do Governo civil, com milhares de pessoas a descerem às ruas em desfiles diários.
Observador | Lusa | Imagem: Stringer // EPA
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