quarta-feira, 24 de março de 2021

Portugal |Groundforce: A grande negociata

Alfredo Casimiro, “depois de receber 7,6 milhões, pagou 3,6 milhões”

Ministro das Infra-estruturas, Pedro Nuno Santos, afirmou que o maior accionista “não comprou empresa nenhuma, recebeu dinheiro para a ter”.

O ministro das Infra-estruturas, Pedro Nuno Santos, afirmou esta quarta-feira que Alfredo Casimiro, maior accionista da Groundforce, “provou que não é sério” durante o processo negocial que envolveu a TAP e o Governo. E explicou, no âmbito de uma audição parlamentar, que o empresário, que ficou com maioria do capital em 2012 (50,1%), pagou 3,6 milhões de euros por essa posição em 2018. Pelo meio, “recebeu 7,6 milhões de euros”, divididos entre 5,4 milhões de comissões de gestão até 2016 e outros 2,2 milhões entre 2017 e 2018. Alfredo Casimiro, disse, “não comprou empresa nenhuma, recebeu dinheiro para a ter”. “É uma vergonha o que aconteceu”, acrescentou, em respostas ao deputado do CDS, João Gonçalves Pereira.

Na sua intervenção inicial, começou por dizer que, na sequência da crise da covid-19, a empresa de assistência em terra, detida a 50,1% pela Pasogal de Alfredo Casimiro (o resto é da TAP), foi pedido um empréstimo de 35 milhões com garantias públicas mas que sofreu atrasos devido à falta de entrega de informação financeira. A TAP, disse, começou a fazer adiantamentos à Groundforce em Agosto, que chegaram aos 12,4 milhões de euros. Foi então, acrescentou, que se chegou a um ponto em que tiveram de ser pedidas garantias à empresa, às quais passavam pelas acções de Alfredo Casimiro.

Aqui, começaram a críticas ao empresário por parte de Pedro Nuno Santos, com o ministro a afirmar que foi à última da hora, na recta final de um processo negocial, que soube que as acções já estavam usadas como penhor junto do Montepio e parte até estava junto de outro credor. Este foi, disse, “um momento infeliz de um empresário português, que decidiu enganar o Estado e os trabalhadores”.

Os cerca de 2400 trabalhadores da empresa receberam esta segunda-feira o montante dos salários de Fevereiro que estava em falta, na sequência do negócio articulado entre a TAP SA e a Groundforce, e que passou pela compra de equipamentos por parte da transportadora aérea no valor de 6,9 milhões de euros. Em comunicado, a TAP, principal cliente da empresa de assistência em terra, afirmou que o acordo não tinha “qualquer relação directa com as negociações que têm vindo a decorrer entre a TAP SGPS – accionista minoritário da SPdH (Groundforce) – e a Pasogal”.

O valor da compra de equipamentos (como autocarros) corresponde ao novo número que a Groundforce tinha pedido e que levou a transportadora a pedir as acções da Pasogal/Alfredo Casimiro como garantia, para depois descobrir que estas já comprometidas com outro credor (que o Expresso identificou como sendo o Montepio), o que inviabilizou esta solução. Depois disso, a TAP propôs um aumento de capital nesse valor, a subscrever só por si, o que faria com que Alfredo Casimiro perdesse o controlo da empresa.

Em reacção, o empresário mostrou-se disponível para um aumento de capital, mas desde que pudesse acompanhar a operação. Depois disso, chegou-se então ao acordo agora anunciado, que permite dar algum “oxigénio” à Groundforce.

As partes envolvidas neste processo sublinharam que a solução financeira que foi encontrada para a empresa serve apenas para o curto prazo. Por parte da Groundforce, a expectativa passa pela aprovação de um empréstimo de 30 milhões de euros negociado com a CGD, mas que precisa de ter garantias públicas para avançar

Já a Comissão de Trabalhadores e os sindicatos ligados à empresa divulgaram um comunicado conjunto no qual afirmaram que, com a “resolução da estrutura accionista em curso”, o futuro “não passa pela Pasogal”.

Afectada pela pandemia de covid-19, a empresa teve um prejuízo de 25 milhões de euros em 2020 (recorreu ao layoff logo em Abril), depois de ter lucrado 6,1 milhões no ano anterior. Já a facturação caiu 59%, dos 153 milhões para 63 milhões de euros.

Luís Villalobos | Público

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