Francisco Louçã considera ser excessivo concluir que a relação entre Belém e São Bento já viu melhores dias. No entanto, considera que o Presidente podia ter estado presente no dia em que o primeiro-ministro deu a conhecer o plano de desconfinamento ao país.
Ao contrário do habitual, o Presidente da República não falou ao país após mais uma renovação do Estado de Emergência, na quinta-feira, dia em que o primeiro-ministro revelou o tão desejado plano de desconfinamento. A razão? Encontrava-se, nesse dia, a viajar para Roma.
Considerando ser "excessivo" concluir que a relação entre Presidente e primeiro-ministro já conheceu melhores dias, Francisco Louçã disse, no seu espaço de comentário na SIC Notícias, que Marcelo podia ter organizado a agenda de forma a estar no país, uma vez que já sabia há 15 dias que o plano iria ser tornado público no dia 11 de março.
"Não conheço suficientemente a agenda do Presidente, mas sei que não há nenhuma escolha de dias de uma forma não pensada", comentou, sugerindo que a viagem de Marcelo, naquela data, não foi um acaso.
Na opinião do ex-dirigente bloquista, o chefe de Estado não quis, desta vez, alinhar na dinâmica que tem sido comum nestas ocasiões: António Costa fazer as "exposições mais longas" e o próprio Presidente "ser sintético no quadro político". "Poderia tê-lo feito. Poderia ter tido outra agenda que lhe permitisse estar no dia 11", vincou, sublinhando que tal tem significado político.
Sobre o facto de o Governo ter, porventura, ido mais longe no plano de desconfinamento do que aquilo que o Presidente tinha aconselhado, Louçã lembrou que "Marcelo não disse em público o que é que quereria que fosse mais lento" no desconfinamento.
Na ótica de Louçã, o Presidente deu um sinal de "preocupação" quando afirmou, ainda em Portugal, que não se pronunciava sobre o plano porque não lhe conhecia os detalhes. "Hoje, em Roma, voltou a dizer que só o conheceu depois de ter sido apresentado", apontou Louçã, concluindo que o Presidente "quis dizer que não gostou de não conhecer os detalhes do plano e de só conhecer as linhas gerais".
Seja como for, no entender do economista, a cooperação estratégica entre primeiro-ministro e Presidente da República continua.
Sobre o plano de desconfinamento em concreto, que Louçã considerou "razoável", o comentador apontou-lhe dois problemas: a vacinação e a testagem.
Por um lado, disse, "o que falta no plano é uma certeza que merecíamos ter - e o Governo também não pode ter - é como é que ele acompanhado nas várias fases com o cumprimento do plano de vacinas. Há já uma estrutura que permite fazer uma vacinação generalizada, mas não sabemos se vamos ter as vacinas suficientes", analisou.
Por outro lado, "a parte da testagem é óbvio que ainda não está ainda organizada", considerou, lamentando que só hoje tenha sido tomada a "boa medida de permitir que as pessoas possam fazer um teste antigénio comprado na farmácia" - mas que Louçã aplaude. Aliás, "já devia ter ocorrido há muito tempo. Até deviam ser fornecidos às pessoas", defendeu, lembrando que há países a fazê-lo.
Estes testes de antigénio "identificam positivos (...) os negativos não acautelam, mas muitos dos positivos são detetados. (...) O facto de identificar alguns é um grande progresso, permite o isolamento mais precoce de pessoas que não tenham sintomas. Isso devia estar já a desenvolver-se há muito tempo, desde janeiro", comentou.
Melissa Lopes | Notícias ao Minuto | Imagem: © Pedro Granadeiro / Global Imagens
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