Curto do Expresso com o assinalar da morte de Jorge Coelho, um conquistador de amizades que por vezes era mais que um afável bruto no dizer. Até mesmo na Assembleia da República, nas suas intervenções, demos por isso. Mas conviver com ele, conhecê-lo, representava uma agradável surpresa, um prazer, uma honra. Um homem com H maiúsculo, dos que são cada vez mais raros na vida e na política.
O Curto abre com aquela perda da família, de Portugal e da humanidade. Ricardo Costa traz o infortúnio ocorrido a Jorge Coelho à prosa. Deixemos as suas palavras explanarem-se na ténue recordação do homem que inesperadamente baqueou num acidente de viação. Abalou cedo. Ficamos tristes.
MM | PG
Hoje, o título só podia ser este: Como vai o meu caro amigo?
Ricardo Costa | Expresso
Jorge Coelho ficará
conhecido como o grande bulldozer do PS, o melhor organizador político, o
ministro que se demitiu para dar o exemplo, o comentador televisivo, o
empresário que investiu na sua terra, entre muitas outras coisas de uma vida
intensa na política e na gestão. Tudo isso é bastante evidente. Menos óbvio é
que alguém que nunca foi um grande orador ou um grande mestre das ideias
políticas seja recordado pelas suas frases. Mas poucas horas depois da sua
inesperada morte, as frases de Jorge Coelho andam de boca em boca.
É claro que a pouco subtil “quem se mete com o PS, leva!” não deixará de ficar
na história. Ou a do dia em que, frente a uma multidão viseense, decretou ali
mesmo e sem a ajuda do médico-legista “a morte do Cavaquistão!”. A lista é grande
e será desfiada nos próximos dias, quase sempre com frases encerradas por uma
exclamação. Mas seja por que ponta se pegue desse novelo, lá estará, à frente
de todas, aquela com que arrancava todos os telefonemas:
“Como vai o meu caro amigo?”
Parece pouco para falar de alguém que acabou de desaparecer, ao fim de tantos
anos na vida pública. Mas não é, porque como bem lembrou ontem António Lobo
Xavier, a principal característica de Jorge Coelho é a de ter sido sempre
um beirão. Enquanto militante, dirigente, ministro, ex-ministro, comentador,
gestor, empresário, nunca procurou apagar essas raízes, que eram o seu cartão
de visita, melhor e mais genuíno que qualquer página do Linkedin.
Talvez por isso, uma das suas últimas batalhas tenha sido a de um movimento
de defesa do Interior e o seu grande desafio profissional fosse a queijaria
industrial que fundou em Mangualde, seu concelho natal. Fosse
Parece pouco? Leia estes dois textos que assinalo de seguida e logo tirará
as dúvidas
Jorge Coelho, o ‘bulldozer’ socialista que foi radical e moderado e amigo do
seu amigo (e até dos adversários), um
excelente retrato de Vítor Matos.
“Ora Viva!, Jorge Coelho”, um
texto em que Ângela Silva explica porque era um político raro
OUTRAS NOTÍCIAS
A novela da vacina da AstraZeneca teve ontem um dia
De seguida, Marta Temido convocou uma reunião de emergência para
coordenar posições sobre a administração da vacina, mas a videoconferência de
ministros da Saúde da União Europeia voltou
a deixar claro que isso é impossível. Cada um segue por si.
Como era inevitável, vários países anunciaram entretanto novas restrições
por idades. A Bélgica, por exemplo, decidiu que só a vai administrar maiores de
56 anos e a Itália a maiores de 60, tal como tem estado a fazer a Alemanha. Já
França tem a administração limitada a maiores de 55 anos. Espanha seguiu a
bitola dos mais de 60.
Marta Temido lembrou que a decisão deve ser técnica e não política. Mas já se
percebeu que são palavras levadas pelos vários ventos europeus, que correm em
muitas direções, enquanto os diferentes governos tentam readaptar a logística
da vacinação a estas novas regras.
A União Europeia está agora a braços com um sofagate (isso mesmo, de
sofá). A Presidente da Comissão Europeia foi apanhada de surpresa quando não
lhe foi atribuída uma cadeira durante a reunião com os presidentes da
Turquia e do Conselho Europeu,
O Presidente do Conselho, Charles Michel, foi fortemente criticado por ter
“colaborado” com a encenação turca, mas já se veio defender, dizendo que a
situação embaraçosa decorreu de uma interpretação do protocolo turco e que
naquele momento não havia nada a fazer. Mais um embaraço para Michel, a
quem não se antevê a renovação do mandato à frente do Conselho Europeu.
O nome de Suzana Garcia para a Amadora foi anunciado ontem pelo PSD.
José Silvano, secretário-geral do partido, defende que as declarações polémicas
da candidata foram analisadas e que "não põem em causa os valores
essenciais do PSD", sublinhando que o partido é contra a castração química
e que esta candidatura em nada alterará essa posição.
A advogada e ex-comentadora televisiva do day-time, que tem estado no
centro da polémica por alegadas aproximações ao Chega, vai ser cabeça de
cartaz na Amadora, uma das câmaras mais importantes do distrito de Lisboa. O
PSD não vê entraves: o nome da candidata foi aprovado na comissão política
nacional por "unanimidade" e coordenador autárquico garante
que declarações da candidata "não põem em causa valores essenciais do
PSD".
Os dias dramáticos continuam a correr em Cabo Delgado. Os enviados da SIC
e do Expresso a Moçambique – Luís Garriapa, Rafael Homem e Ricardo Marques -
entraram esta quarta-feira num terreno de trauma e medo. Chegaram a Palma,
a localidade martirizada há duas semanas pelos ataques de grupos armados,
enquanto uma parte da população continua a fugir e outros regressam para tentar
recuperar haveres. A
reportagem sobre o rasto de destruição e morte merece ser vista.
Amanhã é conhecida a decisão instrutória da Operação Marquês. Às 14h, o
juiz Ivo Rosa começará a leitura do resumo das mais de 6 mil páginas que
escreveu. Em suma, dirá o que segue para julgamento e o que cai ou se, por
alguma razão formal, cai tudo. Em abstrato, também poderia assinar de cruz a
acusação, mas este juiz nunca o fez, tendo uma longa tradição de escrutinar ao
milímetro o que o Ministério Público lhe apresenta.
As estratégias apresentadas pelas defesas são muito diversas, sendo
talvez a da advogada Paula Lourenço (que representa Carlos Santos Silva) a mais
importante, pela argumentação que pretende implodir o caso. A advogada remonta
à sua origem – num processo administrativo de 2005 – e aos longos anos (o
inquérito oficial só nasce em 2013) em que a investigação se fez fora do radar
do processo crime, o que pode ser ilegal.
Se quer perceber as diferentes estratégias das defesas e as razões
que podem levar à queda, parcial ou total, da Operação Marquês veja
este trabalho do Diogo Torres na SIC. Depois, não esqueça que a
decisão e Ivo Rosa será sempre alvo de recurso do Ministério Público para o
Tribunal da Relação, onde costuma ter bastante sucesso.
O F.C. Porto tropeçou ontem na Champions, comprometendo a magnífica
carreira que tem feito na prova. Perdeu por 0-2 contra o Chelsea, num jogo que
decorreu
Pode ler
aqui a crónica do Diogo Pombo, na tribuna, que explica muito bem porque é
que a eficácia do Chelsea foi a grande marca do jogo de ontem.
Noutra frente, o Bayern de Munique perdeu em casa 2-3 com o PSG , com
Mbapée a fazer mais um jogo estupendo. Hoje é dia de Liga Europa, com
transmissão na SIC às 20h do Granada- Manchester United, onde Bruno Fernandes
promete uma vez mais ser um dos jogadores decisivos.
FRASES
“Jorge Coelho era a personificação da vida e saber que ele morreu é algo que
nem consigo aceitar”. António Guterres, secretário-geral da ONU e grande amigo
de Jorge Coelho, em declarações à SIC Notícias
“Os Estados-membros da UE partilharam diferentes interpretações sobre as
conclusões do [mais recente] relatório, tendo procurado, no entanto, clarificar
com a EMA aspetos relacionados com a sua segurança”. Comunicado conjunto da EU
sobre a Astra Zeneca
"A posição da candidata (Susana Garcia) que se conhece e que é pública em
nada afeta os valores essenciais do PSD". José Silvano, secretário geral
do PSD
“Sabemos que podemos reabrir a eliminatória”. Sérgio Conceição, treinador do
F.C. Porto
O QUE EU ANDO A LER
Estou a terminar de ler Uma Longa Viagem com Vasco Pulido Valente, um
livro de João Céu e Silva. A obra encerra um ano de conversas semanais
entre os dois, numa fase
O trabalho de João Céu e Silva é sistemático, arrumando bem as conversas e
deixando bem assentes o pensamento, a visão histórica e o pessimismo militante
de Vasco Pulido Valente, num livro que vale muito a pena ler, porque revisita
os nossos dois últimos séculos de história.
Aproveito para dizer que A Máquina do Ódio, da jornalista brasileira Patrícia
Campos Mello – que recomendei há alguns meses -, já
está editado por cá, na Quetzal. Sou suspeito – porque aceitei o convite de
Francisco José Viegas para fazer o prefácio -, mas o testemunho da jornalista
da Folha de São Paulo é avassalador, inteligente e imperdível para quem quer
perceber o mundo da política e do jornalismo no tempo das redes
sociais.
O Expresso publica esta semana uma entrevista da minha colega Christiana
Martins a Patrícia Campos Mello. Recomendo a leitura da entrevista e
depois do livro.
O jornal está amanhã nas bancas e pode começar por aí. Tem muita coisa para ler ao longo do primeiro fim-de-semana de desconfinamento e pode acompanhar online toda a atualização do Caso Sócrates e a análise sobre tudo o que se segue na Operação Marquês.
Sugira o Expresso Curto a um/a amigo/a
Sem comentários:
Enviar um comentário